quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Desvio de função?

 

O presidente da República, em perfeita harmonia com o seu pensamento negacionista, em live, dias atrás, citando notícia falsa, disse, pasmem, que as vacinas estão antecipando a Aids nas pessoas.

Por incrível que possa parecer, mas é verdade que o presidente do país tenha dito que “As pessoas totalmente vacinadas estão adquirindo Aids antes do previsto”.

Caso o estudo citado tivesse sido verdadeiro, o conteúdo da matéria era totalmente mentiroso, inverossímil, porque jamais seria possível vacina causar ou “antecipar” o contágio de doença que se adquire por meio de sangue contaminado, como é o caso da Aids, conforme é do conhecimento do mundo leigo.

O fato mais esdrúxulo de tudo isso seria o significado da notícia em si, quando se anuncia que as pessoas estariam “adquirindo Aids antes do previsto”, dando a entender, com absoluta clareza, que elas, mais adiante, fatalmente serão contraminadas com a terrível doença, que tanto martirizou e ainda preocupa as pessoas infectadas por ela.

À toda evidência, trata-se de notícia absolutamente insensata e até desumana, principalmente partindo da principal autoridade do país, que tem o dever constitucional de somente dá boas notícias ou mesmo de ficar calada e tranquilizar a população em geral.

Não há a menor dúvida de que é possível se contrair doença virótica, mas existe algo muito trágico na firmação presidencial sobre a contração de Aids por pessoas que se vacinarem contra a Covid e mais grave ainda é esse perverso efeito colateral causador de Aids, que é algo absolutamente imaginável e impossível, no mundo da ciência.

          O presidente do país, pelo tanto de atos protagonizados de negativismo sobre a Covid-19, já deveria ter aprendido, para o bem dos brasileiros, que a desinformação tem o condão de causar péssimo serviço à sociedade, o que recomenda que ele tenha o mínimo de sensibilidade para evitar fazer afirmações desagradáveis e absurdas como essas, porque elas são contrárias aos princípios da seriedade e da humanidade, que devem permear a credibilidade do verdadeiro estadista.

É deplorável que o presidente da República não tenha a menor sensibilidade para perceber o tamanho da monstruosidade que isso significa, quando se produz informação totalmente desvirtuada da realidade científica, exatamente porque muitos ingênuos, seguidores ou não dele, podem acreditar em absurdo como esse, totalmente fora da realidade científica, que terminam deixando de tomar vacina ou desaconselhando pessoas em não tomarem, cujo resultado é o pior possível para a população.

Convém que o presidente da República se conscientize de que ele precisa se ausentar completa e definitivamente dos assuntos que não lhe dizem respeito e passar a cuidar exclusivamente das questões relacionadas com as funções do cargo, porque assim ele passa a prestar o normal serviço para o qual ele foi eleito.

Aliás, isso é apenas a obrigação primacial dele, porque não faz o menor sentido que a principal autoridade do Brasil fique, a todo instante, se imiscuindo em assuntos que precisam ser cuidados apenas por especialistas e autoridades incumbidas da prestação da saúde pública de qualidade.

Finalmente, convém que seja ressaltado o princípio humanitário segundo o qual “a melhor forma de educar é pelo exemplo”, afirmação esta que foi ampliada pelo médico francês Albert Schweitzer, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1945, que disse: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros: é a única.”.

Na verdade, os bons exemplos não são disseminados somente por meio de palavras, mas, sobretudo, mediantes atitudes e comportamentos dignos de enobrecimento dos princípios humanitários, até mesmo quando há a prevalência do silêncio sobre assuntos que não estão sob o domínio da autoridade pública, como no caso em comento, em especial com relação aos temas da ciência, porque eles podem ter importante influência na vida humana.

Espera-se que o presidente da República se desperte dessa demência intelectual, o quanto mais breve possível, de modo a compreender a importância das reais funções institucionais destinadas ao verdadeiro mandatário do Brasil, no sentido mais puro do atendimento sobre os anseios dos brasileiros, com o espírito de nobreza de somente praticar o bem comum, evitando se imiscuir em questões fora da sua competência institucional.

Brasília, em 27 de outubro de 2021

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