sexta-feira, 29 de outubro de 2021

As ideias de religioso

     Circula nas redes sociais vídeo bombástico supostamente atribuído a um monsenhor, do Vaticano, que tem como cerne a incitação ao resto do mundo à desobediência civil, tendo por base longa e contundente explanação acerca do combate à pandemia do novo coronavírus, na Itália, onde ele faz cronologia dos fatos e os classifica como tirânicos tudo o que aconteceu naquele país.

O religioso procura desacreditar, com veemência bem acima do normal, os procedimentos adotados pelas autoridades de saúde pública da Itália, considerando desnecessários e absurdos os protocolos médico-hospitalares, o isolamento social, o uso de máscaras e, de modo geral, as orientações preventivas, por considerar, pasmem, que a Covid-19 não difere dos demais vírus já existentes, ignorando completamente a sua terrível letalidade, bem assim as orientações científicas.

Ou seja, o monsenhor demonstra monstruosa insensibilidade, por tentar pôr culpa em tudo que foi adotado naquele país, no que se refere às medidas de controle e combate à pandemia do coronavírus, não dando crédito a nada do que foi feito em proteção da população, em especial, pelas autoridades sanitárias da Itália.

         

 

Possa até ser que o religioso esteja correto no seu intento, mas também pode ser que ele esteja divagando de maneira absolutamente irresponsável e desumana, como parece ser o caso, apenas por suposições mentais pessoalmente construídas, como outras pessoas fazem impensadamente, totalmente desprovidas de elementos consistentes, e ainda se achando os donos da verdade, quando eles apenas contribuem para a conturbação no que se refere à compreensão sobre os fatos pandêmicos, em especial quanto às medidas de combate ao vírus, que foram certamente suficientemente importantes para se evitar muito mais mortes.

É preciso notar, sobretudo, que o religioso não apresentou nada em concreto, nem estudo e muito menos trabalho científico, como algo capaz de reforçar as suas  colocações, que as considero absolutamente fora de propósito, insensatas e irresponsáveis, quando os fatos tratados por ele são estritamente da competência da área da saúde pública ou mais apropriadamente do sanitarismo, quando provavelmente ele pode até ser, se muito, especialista em assuntos de religiosidade, em cuja área ele deveria restringir as suas manifestações e ensinamentos, como forma de contribuir, em princípio, para o bem da humanidade.

Ao que tudo indica, o religioso imagina que ele esteja sobre a montanha da sua verdade, tendo o direito de espinafrar tudo e a todos, ignorando, como muitos fazem, igualmente pensando que são os únicos certos e donos da verdade, quando os fatos sobre a Covid-19 falam por si sós, mostrando indiscutível realidade do é a força mortal desse vírus.

É preciso que seja levada na devida conta o fato de que se esse suposto religioso e todas as outras pessoas que pensam como ele sabem ou têm ideia de quantas vidas humanas foram poupadas da morte com o simples isolamento social, sem se falar nas demais medidas adotadas pelas autoridades públicas, mundo afora?

Que tenham sido apenas uma, duas, mil, milhares, nem importa quantas, porque, na altura da tragédia mundial, a quantidade do tanto de morte que tenha sido evitada ou que tenha sido apenas uma, já é expressivo lucro, em razão por todo sacrifício que à sociedade tenha feito, não tendo o menor cabimento o discurso vazio desse possível religioso, que poderia ter ficado calado justamente em respeito às boas ações por parte de todos aqueles que participaram efetivamente do importante trabalho pertinente ao combate à pandemia do coronavírus.  

É de se ficar com tristeza quando pessoa que até demonstra alguma inteligente, como parece ser o caso desse religioso, apenas resolve descer impiedosas bordoadas nas autoridades públicas, quando o trabalho delas tenha sido voltado para a preservação da vida, mas a terrível avaliação de gente como esse monsenhor é de desprezo por todo sacrifício implementado pelos governantes, tendo por propósito salvaguardar os princípios econômicos e algo mais que possa ser recuperado de alguma forma depois, com o decorrer do tempo, porque a vida é tão, mas tão especial que, depois de perdida, é para sempre, não tendo mais como recuperá-la.

É sempre muito doloroso quando o pensamento de alguém imagina que seja o dono do razão e sai em defesa de tese muito mais absurda do que razoável, como a defendida por esse religioso, porque sem base legal ou científica, apenas tendo por puro sentimento do simplista “achismo” de que o mundo está totalmente errado, sem mostrar estudo, vivência sobre a matéria pertinente.

Ou seja, o religioso não se baseia em nada para sustentar a sua tese que se parece maluca, porque ele esculhamba com enorme prazer as autoridades da saúde pública da Itália, que fizeram importante trabalho de salvar vidas, enquanto o seu desejo espinafrador não se fundamenta em nada plausível.

O pior de tudo isso é que muitas pessoas ainda preferem aplaudir, precisamente porque a ideia defendida pelo religioso tem muita semelhança com outras defendidas por autoridades públicas brasileiras importantes, quando, ao contrário disso, elas teriam prestado majestosa contribuição à humanidade se tivessem ficado caladas, enquanto muitos profissionais que são injustamente criticados pelo religioso davam o maior duro e se sacrificavam no combate à pandemia.

Impende ficar claro que é preciso que haja respeito à opinião de todos, nos casos de pensamentos diferentes uns e outros, à vista dos salutares princípios democráticos, sendo muito importante, pelo mesmo motivo, que haja manifestação em contrário, diante da necessidade de se mostrar que os fatos da vida merecem ser analisados exatamente sob a ótica da racionalidade e do respeito aos princípios humanitários.

A melhor conclusão é a de que o religioso teria prestado importante contribuição à humanidade se tivesse aproveitado a sua sabedoria e seus conhecimentos e experiências religiosos apenas para sugerir medidas construtivas, certamente contrárias àquelas duramente criticadas por ele, sem a menor consistência nem plausibilidade, precisamente porque ele não provou absolutamente nada e somente jogou conversa ao vento, condenando o excelente trabalho por bons profissionais da saúde, em especial, como se ele fosse o dono da verdade, talvez querendo tentar influenciar a opinião pública mundial.

À toda evidência, o religioso em apreço poderia ter prestado relevante serviço à humanidade, evitando fazer pesadas e injustas críticas à linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus, que, reconhecidamente, prestou relevantes serviços à humanidade, à vista de que ele só contribuiu para conturbar a melhor compreensão sobre a verdade dos acontecimentos da vida real, além de que, sendo ele apenas religioso e não profissional da área médica ou sanitária, tudo que foi dito por ele carece de fundamentos científicos, tanto para as afirmações como para as negações.

         Brasília, em 29 de outubro de 2021

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