Desinteresse,
insensibilidade, incompetência e, enfim, notório e indisfarçável descaso
precipitam a exposição da miséria de milhares de brasileiros, que se desesperam
por não terem o que comer, a exemplo das filas para distribuição de ossos, em muitos
estados.
Esse
retrato de horror representado pela sociedade brasileira até que nem seria tão
preocupante se houvesse alguma política de governo destinada, com
exclusividade, para cuidar desse caso, com a devida sensibilidade humana, mas a
verdade nua e crua é que, nos palácios, onde a fartura reina, é bem diferente,
porque não existe nada para, ao menos, minimizá-lo, como forma de marcar a
presença do Estado, em momento de muita dificuldade para o povo.
Ao
se falar de fome, com menção ao osso, logo vem à mente a triste história da
cativante cachorra “Baleia”, contada na obra do célebre escritor brasileiro
Graciliano Ramos, conhecida pelo título de “Vidas Secas”, que relata a dura e
fantástica situação vivenciada por família que tentava fugir dos horrores da
seca e das mazelas próprias daquela época, no Nordeste brasileiro.
Segundo
o escritor Graciliano Ramos, a cachorra Baleia, de tão magra dava para contar
as suas costelas e que, quando ela dormia: “sonhava com osso”, como
nessa narrativa dele: “Olhem essa cachorra dormindo. Cachorra sonha com
osso, nada mais natural; solta grunhidos, só não sei se esses sons em meio ao
sono são de fome ou é a cabeça que se diverte com o próprio osso sonhado.”.
O
certo é que, nos dias atuais, há muitas pessoas que estão sonhando com os
sonhos da cachorrinha Baleia, na esperança de que o precioso tutano dos ossos
se tornem realidade na sua vida, que, a bem da verdade, é algo que jamais poderia
passar na imaginação de ninguém, à vista da evolução da humanidade, em que não
faz o menor sentido que ainda seja possível se permitir que o homem seja
acometido pela miséria da fome, quanto mais em se tratando do Brasil, país considerado
o celeiro do mundo, em termos de abastecimento de alimentos, como sendo da
maior importância, em se tratando da produção agrícola, que ostenta o título de
modelo nessa área vital para a humanidade.
O
problema da forme, que diz diretamente com a sobrevivência humana e tem muito a
ver com questões outras, inclusive de saúde pública, precisa merecer atenção
especial dos governantes, mais especificamente do federal, que tem a principal incumbência
de assistir aos brasileiros carentes de recursos, sendo que a fome desponta
como a que mais maltrata o homem, exatamente por não tem a quem recorrer senão
ao governo, que existe para cuidar dos problemas nacionais.
Esse
gravíssimo problema humanitário, por atingir o âmago do ser humano, em forma de
fome, precisa ser combatido pelo governo, com urgência e sem trégua, por meio
de políticas sociais prioritárias e efetivas, de modo a se evitar maior
desgraça como a que já se encontram mergulhadas muitas famílias brasileiras,
que vivem à cata até de ossos, que somente são encontrados por algumas, ficando
outras somente na esperança de dias melhores.
Essas
famílias isoladas da cidadania digna sonham com osso que tenha junto dele restinho
de carne, nem que seja para colocá-los na água fervente, que possa resultar em suntuoso
caldo engrossado com farinha, como forma de distrair o estômago da família, que
vive a doer ao meio dos sonhos de muitos ossos pela vida afora.
A
verdade é que existem sim milhares de famílias brasileiras que vivem a comer os
“ossos” do banquete esbanjado pelo desgoverno, que vive a se alimentar com o
tudo do melhor do sonho da reeleição, sem que passe na cabeça de ninguém o
tanto se sofrimento de quem vive sobrancelho nos horrores da fome, que causa a
morte silenciosa de muitas pessoas, porque elas estão passando pela vida à míngua
da assistência de quem tem a incumbência de constitucional de proteger a vida
das pessoas.
Nestes
dias, uma senhora brasileira, de profissão doméstica, desempregada, disse,
lamentando a sua situação: “Olha meu jeito de fome, moço. Cachorro me
olha com olhar comprido, quem tiver mais sorte leva o osso primeiro”.
Outra
senhora faz essa pergunta ao açougueiro: “Moço, tem osso com gordurinha?”,
que tem sido a pergunta padrão dos famintos brasileiros que integram essa gente
honesta e sonhadora, muitas das quais até com aquele osso que se torna até saboroso
e importante, nas circunstâncias.
É
exatamente essa a dolorosa desigualdade social que aflige sim muitas famílias
brasileiras, que agora vivem a implorar, aos gritos descontrolados e ensurdecedores,
por socorro em forma de comida, mas os muros palacianos têm o condão de
proteger as ouças exatamente de quem tem o dever de ouvir cada apelo dos brasileiros,
porquanto, como se vê, o sistema se encarrega da preservação de fomentar esse
perverso isolamento entre o governo e o povo, que um dia teve a relevância de colocar
o seu titular onde ele não consegue ouvir senão apenas os seus sentimentos de
poder.
A realidade brasileira não pode ser simplesmente jogada
para debaixo do tapete pelas autoridades públicas, como forma cômoda de se
livrar de verdadeira crise crônica que exige a adoção de medidas efetivas e
emergenciais, exatamente porque o aumento da fome pode se tornar verdadeira
bomba relógio, que pode explodir mais cedo ou quando menos se espera e a culpa há
de recair sobre os ombros do governo, porque as políticas assistenciais são executadas
prioritariamente por ele, que precisa criar os mecanismos destinados a combater
a fome, em especial, em momento de crise, como o atual, que teve a sua intensificação
por força da pandemia do coronavírus, de causa absolutamente inevitável, bem se
sabe.
A situação da fome no Brasil se torna preocupante, em
especial porque há registro sobre a existência de cerca de 20 milhões de brasileiros
passando por isso, fato este que se exige tomada de consciência das autoridades
públicas, com vistas a se buscar fórmula ideal para se reverter esse quadro
horroroso que martiriza parcela significativa da sociedade.
Os brasileiros cônscios da sua responsabilidade cívica,
patriótica e humanitária esperam que o Presidente da República se conscientize,
com a maior urgência possível, sobre a priorização de políticas destinadas ao
severo combate à fome, em todas as suas matizes, tendo em vista que há muita pressa
para a solução desse insuportável castigo impingido à sociedade, que não tem
culpa pelas crises do mundo, mas ela tem pleno direito do merecimento do tratamento
combatível com a dignidade própria do ser humano, que jamais pode ficar à
margem das políticas sociais oficiais.
Brasília, em 10 de outubro de 2021
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