“Fui surpreendido,
na sexta-feira, à noite, com WhatsApp do presidente da República me questionando
se eu tinha conhecimento, no Banco do Nordeste, que tinha um contrato de
aproximadamente R$ 600 milhões com uma Ong. A indicação do presidente do Banco
do Nordeste, um diretor, é do Partido Liberal. Então respondi pro presidente:
duvido, mas vou esclarecer. Liguei para o presidente do banco e fui surpreendido
que ele estava contratando uma empresa, mas era muito caro o preço e que a Ong
prestava um grande serviço. Eu achei uma barbaridade um banco contratar uma Ong
por 600 milhões por ano. (...) Isso há muitos anos. Quando eles entraram
no banco já tinha esse contrato e nós não tínhamos conhecimento. Estou enviando
ainda hoje um ofício ao ministro Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, à ministra
Secretária do Governo, Flávia Arruda, com cópia ao presidente da República,
pedindo a demissão do presidente e toda diretoria do Banco do Nordeste, por uma
simples razão: o Partido Liberal não pode manter diretores em um banco
que encontram uma situação como essa e não tomam providências.”.
A cobrança do
presidente da República diz respeito ao contrato no valor de R$ 600 milhões,
celebrado entre o banco e o Instituto Nordeste de Cidadania (Inec), que tem por
objetivo a avaliação de projeto de microcrédito, que, em princípio é algo que o
próprio banco tem obrigação de fazer, sem necessidade de envolver tanto dinheiro.
O que importa agora é
que, segundo se infere, o presidente da República, mesmo já sabendo dos
gastos exagerados, lamentavelmente, ainda foi saber do presidente do Partido
Liberal que manda no Banco do Nordeste, o que ele achava dessa situação nada
republicana e isso não tem o menor cabimento.
Ou seja, se o presidente
do país tinha conhecimento de contrato milionário suspeito, independentemente
de quando as irregularidades venham ou estejam ocorrendo, competia a ele adotar
medidas urgentes para o saneamento dos fatos danosos, sem precisar falar com mais ninguém acima dele,
como foi o que aconteceu, conforme mostra o texto acima transcrito.
Ao contrário dessa anormal
e inadmissível medida, o mandatário brasileiro tinha o dever moral de se
relacionar diretamente com o presidente do banco e, conforme a sua avaliação sobre
o caso, tomar as providências indicadas para sanear a situação, inclusive promovendo
o afastamento dos dirigentes envolvidos, na forma legal, tão logo ele ficasse sabendo
da possível irregularidade, sem prestar contas a ninguém.
Nesse caso, não haveria
a menor necessidade de o presidente do país dar satisfação a presidente de
partido, fato este que expôs a sua subserviência a ele, ficando clara a sua incompetência
e falta de autoridade administrativas, por precisar pedir que o presidente de
partido resolva medida que é privativa dele.
Também competia ao presidente
do país determinar as investigações pertinentes, para a apuração de
responsabilidades, doa quem doer, no caso de suspeita de irregularidade, em se
tratando de contrato prejudicial ao interesse público, que parece ser o caso.
É lamentável que
recursos públicos continuem sendo sorvidos pelos ralos da incompetência e da
falta de efetividade dos contratos, sob a sanha dos aproveitares, conforme
mostram os fatos, onde milhões de valores são destinados para Ong e muitas
vezes sem serventia alguma, como pode ter ocorrido no caso em tela.
Aqui, nesse caso, não
importa se o rombo vem de outros governos, porque o que interessa é tampar a
sangria, o mais rapidamente possível, e apurar as responsabilidades, caso se
constate prejuízos ao erário, que parece ter havido, ante às notícias preliminares.
É muito triste que fato dessa natureza
ainda possa acontecer na gestão pública, em que se constata que o deprimente acordo
com o Centrão tenha permitido ou obrigado a entrega do Banco do Nordeste logo
para o Partido Liberal, cujo presidente se envolveu com irregularidades com
dinheiro público, foi preso e investigado, mas agora comanda importante instituição
bancária oficial, em que o mandatário do país precisa ouvir dele o que fazer,
em caso de irregularidade.
A situação ficou tão ruim, muito deprimente
mesmo, para o presidente do país que ele nem se encabula em ligar para o
presidente de partido, um dos piores em atividade política, por sua maneira
fisiológica de atuar, ou seja, em termos de moralidade, para que este se digne
em autorizar a mudança da diretoria que é indicada por ele e não pelo presidente
do país, que ainda aparece no vídeo com cara de felicidade, quando ele deveria
se entristecer, em razão de ter dado importante banco público para ser
presidido por políticos sem as devidas qualificações éticas e morais, no caso
do PL, que inclusive integra o desacreditado Centrão.
Trata-se de péssimas as notícias,
em todos os sentidos, porque o presidente do país consegue mostrar as
podridões do seu governo, onde importante banco de fomento ao desenvolvimento
do Nordeste é comandado, por força de acordo por interesse político-pessoal,
por partido político mais sujo do que poleiro de patos, fato vexatório este que
poderia ter sido evitado quando a lisura e a licitude dos atos do governo se
fazem presentes em todos os seus setores de atuação.
Isso é extremamente indecente é desonroso
para quem se vangloria de governar sem corrupções, mas esse caso fica à vista e
expõe enorme fraqueza moral da gestão pública brasileira, quando a maior autoridade
da República não tem competência sequer para se relacionar diretamente com a direção
de banco oficial, porque este é comandado por pessoa à margem dos princípios
morais.
Essa situação extremamente
esdrúxula se justifica tendo por base o indecente e espúrio acordo firmado pelo
governo com o Centrão, para que este blinde o presidente da República, no Congresso
Nacional, contra a abertura de processo de impeachment.
Ou seja, o citado acordo não tem
qualquer vinculação com o interesse público, mas mesmo assim permite justamente
que partido da estirpe do Partido Liberal, comandado por pessoa investigada pela
prática de atos irregulares na vida pública, possa comandar as ações de
importante banco, principalmente tendo plena autonomia para indicar seus
diretores, a partir do presidente dele.
À toda evidência, não pode haver
nada mais humilhante para a principal autoridade do país do que não ter
competência administrativa para se sequer se relacionar com a diretoria de
banco do governo, em caso de suspeita de irregularidade, quando isso somente
será possível se houver o consentimento de quem realmente manda na instituição,
que é, como visto, o presidente de partido político, fato este que demonstra total
inversão da ordem natural da gestão pública e dos valores da moralidade.
É com muita tristeza que situação
deplorável como essa ainda possa acontecer no Brasil, em pleno século XXI, em que
os homens públicos preferem perder a dignidade do que sustentarem os
princípios da moralidade na gestão pública, quando não haveria acordos espúrios
e prejudiciais ao interesse público e as autoridades sérias, honestas e responsáveis
seriam capazes de responder por seus atos, inclusive perante o Congresso, sem
necessidade de blindagens arranjadas com grupos políticos fisiológicos.
Urge que os brasileiros se
esforcem em eleger somente os representantes políticos que se comprometam com a
exclusiva defesa do interesse público, evidentemente com embargo das causas
pessoas, como no caso do que fez o presidente do país, com a celebração nada
republicana de acordo com o Centrão, que obriga a entrega de bancos, empresas e
órgãos para serem comandados por líderes políticos sem o mínimo de moralidade,
mas tendo a certeza da blindagem no Congresso e isso é simplesmente inadmissível
para os brasileiros honrados.
Brasília, em 1º de outubro
de 2021
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