O Comitê de Direitos das Crianças da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que "desaprova, nos termos mais eloquentes, o uso que o presidente Bolsonaro faz de crianças, vestidas em roupas militares, segurando o que parece ser uma arma, para promover sua agenda política, o que ocorreu pela última vez em 30 de setembro de 2021".
Em
evento para lançar a pedra fundamental de centro de vacinas, em Belo Horizonte, uma criança vestida com a farda da Polícia Militar de Minas Gerais, empunhando arma
de brinquedo, subiu ao palco ao lado do presidente da República.
Em
determinado momento, o presidente do país segurou a arma de brinquedo nas suas mãos
e fez a sua clássica pose com o objeto.
Ainda
na cerimônia, o garotinho realizou flexões no palco, para chamar a atenção da
plateia, que o aplaudia.
Com
relação ao caso em apreço, cerca de 80 entidades ativistas de defesa dos
Direitos Humanos denunciaram o presidente brasileiro ao Comitê dos Direitos das Crianças da ONU, por causa do uso, pelo político, de garoto
usando farda militar e arma de brinquedo.
Na
ocasião, os referidos ativistas também enviaram carta ao Conselho Tutelar de
Venda Nova, em Belo Horizonte, denunciando o ato indevido.
Na
petição, os denunciantes alegam ter havido violação de direitos humanos, quando
o presidente do país "se utiliza de crianças para estimular a política
de armamento brasileiro", como foi o caso mostrado em foto.
Os
denunciantes dizem, ainda, que houve clara violação do disposto nos arts. 227
da Constituição Federal, 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e 3º
e 16º da Convenção sobre Direitos das Crianças.
Para
o comitê da ONU, práticas como a do presidente brasileiro devem ser proibidas e
criminalizadas, além de serem investigados aqueles que
envolverem crianças em atos de hostilidade, que precisam ser processados e
penalizados.
A
manifestação do Comitê pelos Direitos das Crianças da ONU foi feita em resposta
escrita à pergunta formulada pelo g1/MG e
outros veículos de imprensa.
Na
mensagem, o comitê afirma que a participação de crianças
em atos de hostilidade é explicitamente proibida pela Convenção dos Direitos da
Criança, tendo esclarecido que "Isso inclui o uso de criança em
qualquer atividade relacionada a conflito e na produção e disseminação de
imagens de crianças participando em hostilidades, reais
ou simuladas".
Em
reafirmação do seu posicionamento em defesa da criança, o comitê esclarece que
o Brasil chancelou a Convenção da ONU sobre o envolvimento de crianças em
conflitos armados, e tem a obrigação de garantir que as crianças não participem
de atos de hostilidades ou qualquer atividade relacionada a conflitos ou ainda
que possam ter conotação com atividade desaconselhável para a sua idade,
exatamente como ocorreu no caso denunciado.
A
diretora de programas da ONG Conectas explicou que o texto do comitê não tem
nenhuma implicação jurídica internacional, mas, como o Brasil faz parte da
Convenção dos Direitos da Criança, o conteúdo desse importante tratado passa a
fazer parte do ordenamento jurídico brasileiro.
Ou
seja, o conteúdo escrito na Convenção é entendido implicitamente como uma regra
também no Brasil, cabendo a interpretação do comitê da ONU que o presidente brasileiro
violou a Convenção dos Direitos da Criança.
A
aludida diretora disse, em forma de esclarecimento, que "O texto é
também um chamado firme às autoridades competentes brasileiras para
responsabilizar aqueles que violem patentemente os direitos das crianças como
foi o caso do presidente Bolsonaro“.
É importante que as crianças, não só brasileiras, sejam
preservadas de atividades impróprias para a sua idade, como ocorreu certamente
com essa criança mineira, que foi exposta em traje militar e, ainda mais grave,
empunhando fuzil de brinquedo em evento liderado pelo presidente brasileiro.
Esse
fato tem o condão de mostrar, de forma bastante clara, desrespeito à
integridade da ingenuidade infantil, de vez que aquela criança certamente não dispunha
de condições suficientes para decidir sobre a sua participação absolutamente
desnecessária em evento de governo, que precisa ter a sensatez para se evitar
ocorrência como essa, que somente adiciona reprovação da sociedade.
Na qualidade de principal autoridade do Brasil, o
presidente brasileiro precisa reconhecer que atividade política é algo de
extrema importância e somente pessoas adultas e cônscias do seu dever cívico
podem estar presentes como participantes dos principais eventos, como forma de estrita
militância política, não ficando nada bem para a imagem presidencial que
criança fardada e armada, com objeto de brinquedo, se apresente ao seu lado
como importante promotor do evento, como assim foi projetado para o mundo, em
lamentável episódio.
Não fica nada bom para o governo brasileiro ser admoestado
por organismo internacional, em razão da indiscutível insensibilidade do
presidente do país, que precisa se conscientizar de que criança não pode ser
usada nas condições inapropriadas como essa acontecida em Belo Horizonte, tendo
em vista a prevalência do seu direito inerente à criancice e, em especial, no
que se refere à sua falta de conscientização sobre os atos cívicos próprios de
pessoas adultas, no sentido de que o presidente do país precisa ter plena convicção
de que ato daquela natureza não comportaria a presença senão da sociedade engajável
em atividades cívico-políticas.
Convém se atentar que a manifestação em referência tem o
importante sentido de alerta pedagógico para que as autoridades governamentais
brasileiras não só respeitem, mas também valorizem os direitos das crianças, com
a fiel observância das normas e dos princípios inerentes à sua proteção e ainda
que haja esforços no sentido de se evitar expô-las em situação desagradável e incompatível
com o seu alcance de atividade própria da sua idade e do seu desenvolvimento em
forma de compromisso com a cidadania.
Espera-se que o providencial alerta do Comitê dos Direitos
das Crianças da ONU se traduza em importante lição tanto para o presidente da
República brasileiro como para as demais autoridades públicas do país, no
sentido do despertar para a urgente conscientização sobre a necessidade da preservação
da integridade dos direitos das crianças brasileiras, no sentido que elas nunca
sirvam de indevida e inadmissível propaganda de governo.
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