O
papa abre o maior movimento de consulta democrática da história da Igreja
Católica, uma religião que, aos longo dos séculos, se tornou símbolo de
hierarquia rígida, conservadorismo e pouca transparência, para que, nos
próximos dois anos, os católicos de 1,3 bilhão, que se declaram assim, sejam
ouvidos sobre o futuro da instituição religiosa.
Na
primeira fase, será consultada a comunidade católica local, passando pelas assembleias
regionais e, por fim, haverá a manifestação do Sínodo dos Bispos, já marcado
para 2023, no Vaticano.
Os
principais temas que deverão ser objeto de discussão centralizam na maior
participação feminina na tomada de decisões da igreja e mais acolhimento a
grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional, a exemplo de
homossexuais e divorciados em segunda união.
Além
disso, o papa deve fazer uso do momento para consolidar seu pensamento com
tendência reformadora, que vem sendo combatida com ardor pela conservadora da
igreja.
O
pontífice definiu o próximo sínodo como tema da própria sinodalidade, que é maneira
de ser e de agir da própria Igreja Católica, tendo por inspiração o modo de
vida dos primeiros cristãos, cujas decisões eram tomadas de forma colegiada.
Essa
maneira de consulta não significa que a igreja tenha resolvido abraçar o regime
democrático, porquanto as suas decisões seguem normalmente como antes no quartel
de Abrantes, em estrito respeito à hierarquia tradicional do papa, tendo como
novidade, nesse caso, a consulta pública, que é realmente democrática, à vista
da introdução da consulta aos cristãos de todo o mundo, mas caberá a palavra
final ao papa, que é quem dita sobre todos os assuntos da igreja.
O
papa avalia que, a depender do sucesso da consulta popular, a instituição terá
dado importante salto de qualidade, de modo que a chamada sinodalidade pode
deixar de ser apenas método casual, para passar a se tornar importante maneira de
pensar pela igreja, dando continuidade à nova sistemática, que se presume que
seja em benefício da modernidade da Igreja Católica.
Um
mecanismo para tratar a sinodalidade precisa ser entendido como revolucionária metalinguagem
dentro da igreja, fato este que tem o condão de mostrar que o atual pontífice acredita,
de modo contundente, na igreja que deve ouvir os anseios de seus seguidores cristãos.
Este
futuro encontro dos bispos servirá para a realização de conferências integradas
por religiosos que estejam além dos muros do Vaticano, de modo que o processo
de sinodalidade pretende estar aberto a ouvir os católicos que desejem se
expressar nos próximos dois anos.
Um
doutor vaticanista disse que "É o mais amplo sínodo, a maior
experiência de sinodalidade que já foi feita na Igreja. A proposta é
ampla, pretende que todos os fiéis batizados tenham a chance de, em alguma
parte do processo, serem consultados. Isso nunca existiu na história da Igreja:
uma tentativa de consultar todos os católicos do mundo. É claro que ninguém vai
bater de porta em porta para falar com todos. Mas reuniões e assembleias devem
ocorrer em paróquias e em grupos, questionários devem ser aplicados. A ideia é
que todos se sintam tocados a participar. É a tentativa mais ampla de enraizar
a sinodalidade não mais como um processo e uma forma de fazer as coisas, mas
como uma mentalidade da Igreja.".
O
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo disse que "Nesta nova assembleia do sínodo, o mais importante não
serão as conclusões, mas o processo de escuta e de participação eclesial que
ela deflagra. Além disso, tem uma grande possibilidade de Francisco encerrar
seu pontificado, por aposentadoria ou morte, antes do sínodo terminar. Assim, o
processo sinodal se torna um meio para garantir a continuidade do processo de
mudanças iniciado por Bergoglio, independentemente de quem seja o novo papa.
O ponto crucial é a ampla consulta à comunidade católica, que começará em
nível local, nas dioceses e paróquias, para culminar na assembleia dos bispos. Essas
consultas se tornaram características de um 'modo Francisco' de governar a
Igreja, ainda que processos semelhantes possam ser encontrados em várias
experiências anteriores.".
Não
há a menor dúvida de que a Igreja Católica é instituição hermética por
natureza, em que as suas decisões são tomadas por colegiado ou até mesmo
somente pelo papa, de modo que, desta feita, a sinodalidade permita se imprimir
o entendimento de que os rumos dela possam ter por base ideias nascidas das pessoas
de todo mundo, porque elas, quer queira ou não, são a razão da sua existência.
Também
é de suma importância que, no próximo sínodo, seja discutida com profundidade a
efetividade da participação da mulher nas atividades da Igreja Católica,
levando-se em conta as suas capacidade, inteligência e abnegação às causas
sociais, que estão sempre interligadas com os princípios disseminados pelo
Evangelho de Jesus Cristo, no sentido do mais puro amor ao próximo.
Os
novos tempos aconselham que a mulher possa desempenhar os mesmos papéis
destinados aos sacerdotes, à luz dos princípios humanitários em geral, não
havendo qualquer empecilho de natureza alguma que isso possa se tornar realidade,
muito em breve, diante da natural evolução do homem.
A
Igreja Católica precisa, com urgência, acompanhar as transformações experimentadas
pelas conquistas hauridas com as descobertas da ciência e da tecnologia, que
devem servir precisamente para o proveito do próprio homem e isso tem muito a
ver também com o amadurecimento dos conceitos da religiosidade, em acolhimento
igualitário entre homem e mulher.
Desde
o início do atual papado, já foram realizados quatro sínodos, tendo como temas
a família, nos dois primeiros; os jovens, no terceiro; e a Amazônia, no último,
ocorrido em 2019, onde foram discutidos assuntos com implicações sociais,
geográficas e ambientais.
Ao
contrário dos anteriores, o atual papa vem amadurecendo e aprofundando a ideia
sobre a participação popular nos temas de interesse da igreja, procurando motivar
e incentivar que os sínodos sirvam muito mais do que encontros só de bispos de todo
mundo, dispondo apenas de suas visões e experiências, quando a participação desses
religiosos se torne muito mais valiosa e interessante, como no próximo sínodo, que
deverá contar com o resultado de consultas emanadas das respectivas comunidades.
É
preciso que os católicos que integram a igreja sejam consultados, tendo por
base os temas eleitos, de modo que se possa aquilatar os anseios de toda
comunidade cristã, tendo em vista a importância da manifestação e dos
sentimentos dos cristãos, tendo como pressuposto a modernidade da igreja, à
vista da evolução da humanidade, por conta das conquistas dos conhecimentos
científico e tecnológico, em que ela não pode ficar à margem desse importante
processo evolutivo, mesmo que se respeito, como é natural, seus principais
fundamentos como instituição secular.
Espera-se
que o processo sinodal, que se inicia agora e tem dois anos de maturação, possa
permitir o discussão, com profundidade, de assuntos relevantes para tornar a
Igreja Católica ainda mais autêntica, renovada e mais cheia da vida do seu
mentor-fundador Jesus Cristo, de modo que a experiência consolidada nesse período
possa repercutir de modo proveitoso para a comunidade católica, que precisa
contar com instituição mais arejada, libertária e que o seu diálogo proporcione
maior aproximação dos cristãos.
Brasília,
em 17 de outubro de 2021
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