segunda-feira, 25 de outubro de 2021

A legitimidade do voto

 

Diante de crônica que escrevi sobre a divulgação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, que conclui por pedido do indiciamento de muitos agentes públicos, à vista dos fatos investigados, inclusive o do presidente da República, um atento brasileiro que defende, com notório ardor, os princípios democráticos e da moralidade, no serviço público, disse, em mensagem, o seguinte “Mano véio Adalmir, compreendo sua justa indignação diante dos fatos políticos quem tem acontecido no nosso país. Porém essa CPI Já nasceu morta. Vamos usar a lógica: Não é justo se colocar as raposas de alma sebosa, para tomarem conta do galinheiro...”.

Na minha opinião, é preciso respeitar a posição política das pessoas, até mesmo em forma de reciprocidade, mas importa, na realidade, se atentar para a existência da CPI e os fatos que ela produziu, porque isso é inexorável, havendo necessidade de se cuidar, por quem de direito, das suas consequências, com vistas aos devidos andamento ou simples arquivamento, conforme assim houver o entendimento de quem pode.

Quer queira ou não, é preciso agora se avaliar se ela cumpriu o dever para o qual foi instaurada ou se apenas ela serviu para protagonizar peça circense e isso precisa ser dito por quem tem competência constitucional, que é o Ministério Público.

Não parece razoável a tentativa de se procurar minimizar a sua importância ou até mesmo menosprezar os seus trabalhos e resultados, por meio de avaliações no sentido de ridicularizar e esculhambar seus integrantes, mesmo que isso seja compatível com a realidade, porque esse comportamento não altera em nada os fatos nem leva a nada e muito menos vai alterar o status quo.

É preciso ter a sensibilidade para mostrar a verdade e pronto e isso é o que interessa para os brasileiros, porque é essa a lógica para se desmascarar por meio da apresentação de contra-argumentos e provas em rebatimento dos fatos objeto dos indiciamentos pretendidos.

Se é justo ou não a colocação de parlamentares suspeitos de incompetência ou indecorabilidade para compor a CPI, a mesma preocupação cabe se são justos muitos outros casos, em nível nacional, porque a política e a administração brasileiras, infelizmente não seguem o padrão desejável de competência, eficiência e efetividade pelo povo, que tem o dever de eleger seus representantes para o exercício das atividades pertinentes.

É preciso ficar claro que, na administração pública, nada se resolve ou se esclarece no grito, na força, no poder, na marra, mas sim com competência, com transparência e precisamente com a verdade.

Convém, acima de tudo, que os brasileiros respeitem as regras do jogo estabelecidas por eles mesmos, quando elegem seus representantes para os cargos públicos eletivos, sem a exigência de absolutamente nada em contraposição.

No caso de algum poder ter na sua composição alguém suspeito de  incompetência ou da prática incompatível com a relevância do cargo, a culpa não é absolutamente dessa instituição nem do eleito/escolhido para o cargo, mas sim, indiscutivelmente sim, do povo.

Foi o povo que decidiu eleger todos os seus representantes políticos e os colocou legitimamente lá, ou seja, é possível sim se chegar à conclusão de que, se determinado instituição do poder público tem integrantes desacreditados e indecorosos, a culpa é exclusivamente do povo.

Nada, definitivamente nada, se pode atribuir culpa à ruindade ou à culpa deles, exatamente porque eles foram eleitos pelo povo, mas é exatamente o povo que os critica, dizendo que eles são raposas, desonestos e incompetentes etc., mas, na verdade, eles já foram eleitos com o currículo abarrotado de maldades e incompatibilidades para o exercício do cargo, cujos atributos não tiveram a menor influência no legítimo processo eleitoral, parecendo muito estranho, agora, o espanto sobre isso, exatamente com o campeonato em andamento.

É possível se imaginar, salvo melhor juízo, que o brasileiro somente tem direito de criticar as mazelas existentes no país quando ele fizer a lição de casa, com a observância do devido cuidado de perfeição, a partir do zelo com a escolha de gente decente para representá-lo e defendê-lo, em termos político-administrativos.

Estou sendo apenas sincero, sem promover defesa de nada nem de ninguém, mas parece muita hipocrisia o povo eleger, estrita e livremente pelo sufrágio universal, seus  representantes políticos exatamente como eles são e depois vir dizer que eles não podem participar das atividades inerentes ao cargo para os quais tenham sido eleitos.

Ou seja, o relator da CPI pode até ser considerado o pior parlamentar, o mais sem moral do Congresso ou algo que o valha, mas há um detalhe que as pessoas simplesmente preferem ignorar, certamente por assim satisfazer o seu ego, as normas que regem a composição da CPI não proíbem que congressista sem condições morais, dizendo exatamente isso, não possa participar de comissão nem de nada que diz respeito aos trabalhos parlamentares.

Somente assim, o relator ou outros integrantes não teriam legitimidade para participar de comissão tão relevante, diante dos fatos investigados que dizem respeito à vida dos brasileiros, mas a realidade é indiscutivelmente outra, em que o massacrado parlamentar exerce seu mandato precisamente por ter sido eleito legitimamente pelo povo.

Tanto ele como todos os outros congressistas com os mesmos atributos dele ou piores podem participar normalmente de todas as atividades inerentes ao seu cargo, independentemente que ele responda a diversos processos penais na Justiça, porque isso são outros quinhentos que fazem parte do seu acervo que ele já possuía quando foi eleito para o relevante cargo da República, que só exige a bondade e o respaldo do povo do seu estado e nada mais, quer queira ou não as pessoas que têm dificuldade para enxergarem a realidade nua e crua da política brasileira.

Enfim, como se vê, não existe parâmetro de moralidade ou de competência ou do que seja para a participação de parlamentar nas atividades ao inerentes ao seu cargo, salvo a legitimidade das urnas, que é igual à da Justiça, que também é cega, mas, mesmo assim, vem cometendo gravíssimos erros, sem nenhuma culpa, porque o voto que ela recebe vem legitimado pelo povo, que é o único culpado nessa triste história, mas ele é totalmente incapaz de reconhecer seus erros, conforme mostram os fatos.

Agora, a propósito disso, como claríssimo erro do povo, tem sido normal a eleição dos mesmos políticos, anos a fio, como no caso de muitos clãs familiares brasis afora, a exemplo do pai que foi eleito seguidamente para a Câmara dos Deputados, tendo ficado lá aproximadamente quase três décadas e quase toda a sua família povoa parlamentos do país, tendo filhos ocupando, respectivamente, os cargos de senador, deputado federal e vereador.

E o mais grave de tudo isso é que não se tem conhecimento de que nenhum deles tenha feito ou produzido algo de útil ou de destaque para o benefício para a sociedade, a se justificar tanto apego à profissão política, mesmo por tanto tempo e com tanta gente pendurada nas tetas da "viúva", apenas usufruindo das benesses do poder e se enriquecendo às custas do voto do povo.

O certo é que o povo não tem a mínima capacidade para fazer precisa avaliação sobre o seu errático comportamento, no sentido de escolher seus representantes políticos sob a ótica da defesa dos interesses das causas da sociedade, mas, na verdade, eles são eleitos normalmente pelo pedigree, pelos olhos azuis ou pelo sangue nobre de família e isso, infelizmente, acontece em todos os estados, conforme evidenciam os fatos.

É vergonhoso que o brasileiro não se entristeça de criticar, preferindo sentar-se sobre a sua consciência e esculhambar, quando seria mais justo que fosse feita a devida avaliação sobre os fatos e que se tivesse a exata compreensão de ser justo nas avaliações, caso a caso, sem as absurdas generalizações, que normalmente são tendenciosas e injustas, porque, em muitos casos, elas promovem indevidamente pessoas incompetentes, incapazes de exercerem cargos públicos.

A minha lógica, que acho perfeita, é a crítica que faço de fato por fato, mostrando o meu sentimento pontual sobre eles, procurando ser justo e verdadeiro, notadamente sendo o mais imparcial possível, evidentemente sob o meu prisma de avaliação, que perfeita e naturalmente é e assim deve ser diferente de quem tiver melhor inteligência do que a minha, embora isso não seja nada fácil para ser compreendido pelas pessoas que já estão com as suas ideias preconcebidas, certas ou não.

É natural e até compreensível que alguns achem que o "todo-poderoso" nunca erre e precisa ter as suas decisões sempre respeitadas, sem contestação, exatamente porque ele é considerado, por muitos, com o poder da infalibilidade, que nunca erra.

Não obstante, é preciso se respeitar os brasileiros que são vistos como aqueles que andam na contramão da história e se opõem aos fatos que entendem contrários ao seu pensamento, porque é bem provável que eles têm motivos razoáveis para a defesa de suas ideias.

Por sua vez, convém, para o bem do Brasil, que se elimine a terrível mentalidade segundo a qual muito que nasce nos outros poderes objetiva a criação de verdadeiros obstáculos à governança, quando esse processo é simplesmente alimentado pela falta de transparência sobre a verdade dos fatos, quando eles não são devidamente discutidos e esclarecidos perante a sociedade, sobrelevando, por comodismo, apenas a relevância de críticas e acusações, como forma de defesa e se imiscuir das responsabilidades.

Tudo isso que vem acontecendo no Brasil é notória realidade que faz parte da cultura nacional, onde se forma e se constrói determinada ideologia e ela é eleita a mais correta, não tendo o cuidado, por parte de muitos, de se levar em conta todos os aspectos e circunstâncias sobre as questões, porque isso teria a maior relevância para a verdadeira avaliação acerca dos fatos da vida.

Brasília, em 25 de outubro de 2021

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