domingo, 24 de outubro de 2021

O sentimento de brasilidade

 

Diante de crônica que escrevi sobre a divulgação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, que conclui por pedido do indiciamento de muitos agentes públicos, à vista dos fatos investigados, inclusive o do presidente da República, um atento brasileiro que defende, com ardor, os princípios democráticos, disse, em mensagem, o seguinte: “Pena mano véio Adalmir, que a CPI do CABARÉ chegue ao seu fim sem ter apurado os reais implicados na prática da corrupção e desvios das verbas públicas, mas que se assistia era mais do que um palanque eleitoral. Muito triste...”.

Ao contrário de muitas críticas, muitas das quais recheadíssimas de revolta pela existência da CPI em si, seria muito interessante que as pessoas inteligentes, sensatas e competentes tivessem a sensibilidade para compreender exatamente o sentido e a dimensão dos fatos da vida.

Na minha modesta opinião, não faz o menor sentido se revoltar contra o trabalho produzido pela CPI, porque ele foi criado para a apuração de atos e fatos definidos, não importando quem precisamente deveria cuidar dessa importantíssima tarefa, mas sim o seu resultado, que precisa ser fiel aos acontecimentos, ou seja, para o governo ou a sociedade, não faz o menor sentido se os membros da comissão honestos ou desonestos, competentes ou incompetentes, gênios ou monstros, mas sim que o resultado seja fidedigno aos fatos ocorridos.

Agora, nesse ponto, há sim o fato da maior importância a ser discutida, que é indiscutivelmente o debate sobre os fatos apurados, principalmente aqueles que tem relação exclusivamente com os interesses da sociedade, objetivo principal das investigações, independentemente de quem os tenha levantados, porque o que interessa é o seu resultado.

Neste momento, compete ao governo competência, digno, eficiente, sensato e responsável procurar compreender a exata dimensão dos resultados obtidos e cuidar de rebater, com o devido respeito e absolutamente em obediência aos princípios da administração pública, como se espera que seja procedido nos países sérios, evoluídos e civilizados, ponto a ponto dos casos investigados e das suas conclusões.

A importância da seriedade do governo é exatamente prestar contas à sociedade, tendo por finalidade mostrar para o Brasil e mundo a verdade sobre os fatos acontecidos, comprovando as suas alegações, de modo a esclarecer todos os levantamentos da CPI, inclusive evidenciando as contradições, apenas em ambiente de seriedade, respeito e competência, exatamente para demonstrar as motivações tendenciosas da comissão, no caso da comprovação dos exageros por ela cometidos, porque os fatos falam por si sós e, conforme os argumentos apresentados em contestação pelo governo, a sociedade pode fazer as suas avaliações sobre o que realmente há de verdade sobre o que realmente houve em relação ao combate à Covid-19, no Brasil.

Por seu turno, as reais práticas de corrupção podem muito bem ser investigadas e apuradas por órgãos competentes, a exemplo da Corregedoria Geral da União, do Tribunal de Contas da União, da Polícia Federal, com o adjutório da Procuradoria Geral da União, a despeito de elas não tenham sido apuradas pela CPI, que imagino que não faz falta alguma, precisamente diante da existência desses órgãos que têm competência privativa para promover as devidas apurações, na forma das suas incumbências constitucionais e legais.

Ou seja, compete ao governo, que suspeita de irregularidades com o emprego de recursos públicos, adotar as devidas medidas legais, solicitando ou determinando, conforme o caso, as apurações de praxe, sem necessidade de se ficar culpando a possível omissão da a CPI, que entendeu de não incursionar nesse assunto, que é de suma importância, mas existem, como vimos acima, órgãos que podem perfeitamente realizar a sua incumbência de apurar e julgar os casos de malversação dos recursos do povo.

Se isso ainda não foi feito ou se nada foi feito nesse sentido, penso que o governo fica dormindo de toca, no jargão popular, e aproveita o ensejo para culpar por algo que tem muito mais sob a sua incumbência constitucional, do que propriamente da CPI, que teve por origem a apuração se houve negligência do governo no combate à pandemia do coronavírus.

Fica-se a imaginar o quanto de incompetência se passa na administração pública, que poderia, ao contrário do que se imagina, se beneficiar desses trabalhos de investigações produzidos por CPI e outros meios pertinentes ao governo, para se elevar em termos de moral e competência, no sentido exclusivamente de mostrar a verdade sobre todos os assuntos levantados e imputados a ele.

Bastaria que o governo tenha o devido cuidado de evidenciar a verdade que aconteceu com relação aos fatos denunciados contra ele, caso por caso, tendo por propósito derrubar todos os argumentos produzidos nos documentos acusatórios.

Ao contrário disso, o governo, a exemplo desse caso da CPI, prefere eleger a lindeza de esculhambar o relator e os membros que concordam com ele, ficando evidenciado, com nitidez, apenas o seu nivelamento pobre, anacrônico e rasteiro, que não se compatibiliza com a relevância do seu cargo, quando, nessa situação, a sua atitude nada republicana só contribui para a perda de credibilidade perante muitos brasileiros com o mínimo de seriedade, justamente pela clara demonstração da falta de equilíbrio emocional e competência.

O mandatário do pais poderia se conscientizar sobre a real importância do seu cargo de dirigente do Brasil, que exige muita seriedade, competência e responsabilidade, tendo o cuidado de tratar todos os assuntos em alto nível do interesse nacional, para apenas mostrar a verdade sobre eles, porque isso é faz parte do seu dever institucional de prestação de contas sobre seus atos de gestão.

Lembrando, que até seria até desnecessário, ante a evolução dos princípios democráticos, que a normal atitude de truculência eleita para a tentativa de justificar qualquer denúncia contra o governo não faz parte da precisa liturgia do cargo, exatamente porque isso somente contribui para acentuar o sentimento de incompetência, quando é sabido que o trunfo para o sucesso da gestão pública tem vinculação com a transparência e a verdade sobre os fatos que acontecem na vida pública.

Ou seja, governo competente cuida de discutir, examinar e resolver as questões inerentes à gestão pública no seu devido lugar, sem necessidade de ser agressivo, desequilibrado e muito menos desrespeitoso, porque nada disso condiz com as grandezas inerentes ao verdadeiro estadista.

É pena que o homem público permita, por pura insensatez, se nivelar por baixo, quando ele poderia aproveitar a inteligência humana para mostrar que tem condição de superar todos os obstáculos em nível de racionalidade e competência compatíveis com a importância atribuída à República.

Os brasileiros que realmente torcem pela melhoria da administração pública têm esperança de que as avaliações críticas do governo e de seus fiéis seguidores sejam feitas em alto nível compatível com a grandeza do Brasil, de modo que seja afastado o pensamento nefasto que permeia a gestão pública, exatamente porque a mentalidade positiva precisa fazer parte do sentimento de brasilidade da nação e do seu povo, no sentido de se cultuar os bons princípios de conduta e se permitir o império da transparência e da verdade, com embargo das inúteis e pueris críticas revanchistas e agressivas, porque elas são próprias da incompetência e do atraso.  

Brasília, em 24 de outubro de 2021

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