No exato momento em que a Comissão Parlamentar de
Inquérito da Covid concluiu seus trabalhos de investigações e até já apresentou
e aprovou o relatório respectivo, convém sim lembrar que o mandatário
brasileiro, em momento algum, foi capaz de se solidarizar com as vítimas da
terrível doença e os familiares delas, tendo sido sempre insensível à tragédia e
nunca se preocupou em manifestar gesto mínimo que fosse de empatia ou amparo aos
brasileiros que perderam a vida por causa da doença nem aos seus familiares,
conforme mostram os fatos.
Diante das cobranças sobre o desempenho do governo
no combate à pandemia do coronavírus, o presidente do país era sempre tomado pela
irritação, quando, certa feita, não suportando tanta pressão, ele houve por bem
tripudiar da situação, mas aos berros, criticando, sem dó, as pessoas afetadas
pela tragédia, ao afirmar, ipsis litteris: “Vocês não ficaram em
casa? Não se acovardaram? Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até
quando?”, outras manifestações que evidenciam o desprezo aos princípios humanitários
e cristãos.
À vista do imenso e trágico martírio, bem assim o
desespero que destruíram vidas, sonhos, estruturas de famílias e amigos, não
poderia haver maldade maior na atitude insana e extremamente agressiva do presidente
do país, porque as suas palavras são claras e diretas contra os mais puros
sentimentos das pessoas, deixando à vista a sua indiferença à situação trágica
construída por causa da Covid-19.
Todos viram e acompanharam o presidente do país patrocinando
verdadeiro negacionismo em escala e ações efetivas de incitação ao tumulto, inclusive
com a promoção de drogas ineficazes, não aprovadas pelas autoridades
científicas, pregação contra o uso de máscaras, de inconsequência e descaso na
compra atrasada de vacinas, de pouco caso e demora deliberada no fornecimento
de oxigênio em resposta à tragédia de Manaus, que também redundou em muitos óbitos.
Diante de toda sorte de irresponsabilidades na condução
das medidas destinadas ao combate do coronavírus, o presidente do país ainda teve
a insensibilidade de manter no cargo de ministro da Saúde pessoa leiga em saúde
pública ou sanitarismo, quando o especialista na área poderia ter contribuído bem
melhor, com a sua experiência, para a adoção de medidas capazes de salvar vidas
humanas.
Tudo em incursão natas de autoridade pública que
jamais se preocupou com a saúde e a vida dos brasileiros, conforme mostram os
fatos, que são ricos em negligências, em se tratando de grave pandemia com
vírus extremamente letal, que exigia cuidados mais do que especiais para o seu
combate, ante a importância da vida dos brasileiros.
No embalo da incompetência administrativa, kits de
exames de Covid apodreceram por força do vencimento da sua validade, nos almoxarifados
do governo, exatamente porque não foram distribuídos para o uso, em que pese a premente
necessidade do seu emprego nas unidades de emergência.
Do mesmo modo, equipamentos e medicamentos também
deixaram de ser distribuídos, em atendimento às redes de saúde do SUS, em
detrimento da saúde dos brasileiros, sem que se tenha conhecimento sobre alguma
punição aos agentes públicos envolvidos, porque se trata de danos causados aos
cofres públicos, que a lei exige a devida reparação, inclusive de ressarcimento
dos prejuízos.
Com base em filigranas jurídicas, a Comissão de
Inquérito do Congresso concluiu por pedidos de indiciamento do mandatário do
país e de quase 80 envolvidos, diante do entendimento de que houve negligência
no combate à pandemia do coronavírus, por parte de autoridades públicas e
empresas, e que é preciso que haja aprofundamento das investigações para, se
for o caso, a aplicação das devidas sanções legais aos verdadeiros culpados
pelos crimes elencados no relatório.
Na verdade, embora o presidente se julgue absolutamente
imune à atribuição de falha ou omissão, há, na realidade, o conjunto de atos
com característica de destruição dos princípios humanos atribuíveis a ele, que,
ao menos aos olhos de muitos brasileiros, parece vislumbrar a necessidade do aprofundamento
das apurações, de modo que, por meio da transparência, possibilite à definitiva
conclusão de que tenha havido negligência ou não no combate à pandemia do
coronavírus, por parte do governo.
O certo é que, movido pelas costumeiras empáfia e prepotência
que lhes são peculiares, o presidente da República houve por bem reagir de
forma jocosa, apenas fazendo indagação, em tom de afirmação a respeito da conclusão
da CPI, tendo disparado o seguinte, verbis: “você acha que vou me
preocupar com CPI? Tá de brincadeira”, dando a entender que ele leva tudo
muito sério e que os brasileiros estão de brincadeira.
Nesse caso, certamente deve ser sim o comportamento
de indiferença do presidente do país, em relação às investigações da CPI, mas
ele simplesmente esquece que, se quiser, nem precisa ligar para a gravidade dos
fatos apurados, mas, por força da liturgia do cargo que ele ocupa, o ordenamento
jurídico-legal brasileiro o obriga a prestar contas à sociedade, na melhor
forma de justificar e esclarecer os
casos inquinados, em princípio, de irregularidades, cuja autoria é atribuída ao
mandatário do país, cujos fatos se apresentam em nível de repugnância de governo
que é acusado de errático, mas, ao contrário, no direito de sequer se preocupar
com o que foi apurado pela CPI.
Não há a menor dúvida de que os fatos levantados
pela CPI, se verdadeiros ou não, exigem seriedade de tratamento e a única forma
de efetividade com relação a isso é a transparência, por meio de medidas que
mostrem a regularidade de caso a caso sobre as negligências apontadas por parte
do governo, servindo até mesmo para escrachar a incompetência do desempenho da
CPI, com o apontamento dos possíveis absurdos protagonizados por ela, na eventual
indicação de situações inconsistentes e indevidas, tendo por finalidade acusar
o governo por atos não cometidos por ele e isso precisa ser mostrado, com a
maior presteza possível, pela parte denunciada, como forma de respeito às
vítimas, às famílias e aos brasileiros, porque isso ainda é o mínimo que o
governo precisa mostrar, em termos de grandeza moral da sua autoridade, em
harmonia com os princípios da competência, da eficiência e da responsabilização
de incumbência constitucional do verdadeiro estadista.
Este momento é de suma importância para o
presidente da República ter a humildade de calçar as sandálias do bom senso e
da racionalidade, não para reconhecer que errou, mais sim para ter o altruísmo
de se submeter ao processo em que o seu governo foi acusado de ter sido
negligente no combate à pandemia do novo coronavírus, com vistas a ter a
dignidade de rebater fato por fato, com a apresentação de provas cabais e convincentes,
de modo a mostrar à sociedade a licitude caso por caso sobre os atos praticados,
em forma de tentativa de demolição das graves acusações, para que, ao final dos
julgamentos possa ficar provado que o governo é vitorioso e teria agido com
competência e responsabilidade, por ter, ao contrário das muitas e robustas acuações,
desempenhado eficiente e operoso cuidado da saúde e da vida dos brasileiros.
É preciso lembrar, em especial, que se
encontra em jogo a ferrenha luta pela vida humana, onde todo empenho precisa
ser devotado, quanto mais agora, no sentido de que nenhum fato objeto de investigação
fique sem a devida justificativa, diante da importância das questões
levantadas, mesmo que alguém considere que CPI foi verdadeiro circo, que pode
até sido, mas o objeto dela se resume na vida de brasileiro e por isso é
preciso mais seriedade, no sentido de se encarar com respeito os resultados da
comissão, porque o despreza a eles somente evidencia a forma mais vil de banalização
de desamor à vida.
Em se falar em preservação de vidas e em se tratar
sobre fatos inerentes às pessoas que morreram, tem-se em mente que não tem
cabimento nenhuma forma de disputa senão de se buscar a suprema sabedoria no
sentido se esclarecer e justificar o que houve realmente de errado e se houve, com
vistas a se evitar que haja novas mortes por faltas evitáveis.
Os brasileiros de boa vontade e que têm amor no coração
esperam que o presidente da República desça do seu pedestal de arrogância e
insensibilidade, para o fim de reconhecer a real grandeza dos princípios humanitários,
de modo que os assuntos referentes à pandemia, inclusive os resultados da CPI,
sejam examinados, discutidos e resolvidos em ambiente de civilidade e
responsabilidade como normalmente fazem os nobres e verdadeiros estadistas, que
compreendem a real importância da vida humana e, sobretudo, o significado da
existência do chefe do Executivo.
Brasília, em 28 de outubro de 2021
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