quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Aborrecimento, jamais!

 

Questionado sobre a marca de 600 mil mortes por causa da Covid-19, no Brasil, o presidente da República reagiu com irritação e pediu aos repórteres para ele não ser aborrecido.

O presidente brasileiro respondeu, de forma estúpida, perguntando: “Qual país não morreu gente? Qual país não morreu gente? Qual país não morreu gente? Responda! Olha, não vim me aborrecer aqui, por favor”.

O presidente do país ainda afirmou que ele não negacionista, em razão de o governo ter desembolsado recursos para a compra de imunizantes contra o novo coronavírus, tendo alegado: “Não me chamem de negacionista, porque, só em dezembro, em Medida Provisória, foi um ‘checão’ de R$ 20 bilhões para tomar a vacina.”.

O Brasil contabilizou, no último dia 8, a trágica marca de 600 mil mortes pela Covid-19, em cujo período mais crítico da doença o país chegou a registrar mais de 4 mil óbitos por dia.

Convém se ressaltar que os erros mais graves atribuídos ao governo, no combate à pandemia do coronavírus, à vista de opinião de especialistas, estão a negação da gravidade da situação catastrófica da doença, o atraso na compra de vacinas e o desestímulo às medidas básicas para conter às disseminações do vírus, a exemplo do uso de máscaras.

Ou seja, a liberação de verbas para a compra da vacina não diz absolutamente nada, para justificar a negação de negacionista, porque isso teria que ter feito de qualquer modo, mesmo que não tivesse a suspeita de negacionismo, por se tratar de dinheiro necessário à compra das vacinas, estritamente em conformidade com o dever institucional do Estado brasileiro.

A verdade é que os atos que confirmam o negacionismo à gravidade da doença se manifesta nos poros do mandatário, por meio de seus atos, que são indiscutíveis, conforme a exposição deles pela imprensa.             

Assim, na contramão dos sentimentos sobre a primazia da saúde pública, o presidente brasileiro chegou a reclamar de medidas sanitárias, como o passaporte da vacina, que é assunto abominável para ele, como se todo mundo tivesse a sua estrutura de ferro, quando a realidade é exatamente outra, à vista de mais de 600 mil mortes, fato este que expõe a contrariedade à concepção de higidez defendida por ele.

Vejam-se que, no último domingo, o presidente do país disse, em forma de desabafo e indagação: “Por que cartão, passaporte da vacina? Eu queria ver o jogo do Santos. Agora me falaram que tem que estar vacinando. Por que isso? Eu tenho mais anticorpos de que quem tomou a vacina”, talvez fazendo referência a possível impedimento dele para assistir ao jogo do Santos.

Não obstante, o Santos nega que o presidente do país ou equipe dele tenham entrado em contato com o clube para ele ver a partida contra o Grêmio, na Vila Belmiro.

Importe se notar que depois da marca de 600 mil mortes por Covid-19, até o momento, o presidente do país não fez pronunciamento sobre o assunto, mas apenas já demonstrou que esse importante assunto o aborrece, razão de ter afirmado muito claro nesse sentido.

Na qualidade de principal autoridade da República, seria de bom alvitre que o presidente da nação tivesse a diplomacia, em forma de sensibilidade humana, de se pronunciar perante o povo, mostrando o seu sentimento de pesar junto às famílias que perderam entes queridos por doença tão desconfortável.

Essa maneira de sentimento teria o condão de funcionar como verdadeira demonstração de carinho e solidariedade, em forma de pesar neste momento que a nação lamenta profundamente tantas mortes absolutamente fora da curva, como se isso fosse normal por parte do sentimento do chefe da nação, porque ele já chegou a dizer, em público, que todos vamos morrer mesmo e nada é capaz de sensibilizá-lo, como visto, nem mesmo diante de mais de 600 mil mortes.

Agora, não deixa de ser muito estranho que a autoridade que é tida como o príncipe da República demonstre irritação quando lhe foi feita pergunta completamente normal, que não custava nada que ele aproveitasse e até agradecesse a oportunidade para falar de assunto que tem sido extremamente doloroso e preocupante para o resto dos brasileiros, em se tratando que apenas uma morte pela Covid já seria motivo para muita tristeza no coração dos brasileiros, quanto mais em se tratando em centenas de milhares, que é algo extremamente penoso e desagradável, em termos humanitário.

O que ficou mais decepcionante nessa história foi a maneira deselegante  como o presidente do país se colocou diante da pergunta, quando a sua indelicadeza não permitiu que assunto extremamente relacionado com sentimentos humanitários fosse, de pronto descartado, sob rechaço, em afirmação de que isso seria objeto de irritação, quando o presidente deixou muito claro que “(...) não vim me aborrecer aqui, por favor”.

Além disso, o presidente foi enfático em tentar justificar tantas mortes no Brasil, sob argumento de que em todos os países morreu gente, ou seja, seria somente estranho para ele tantas mortes no Brasil se em algum outro país não tivesse havido morte por conta da Covid, fato este que demonstra verdadeiro contrassenso, porque nada pode justificar a aceitação, em estado de conformismo em razão apenas porque a Covid-19 matou em todas as partes do mundo.

À toda evidência, esse triste raciocínio de insensibilidade é extremamente lamentável para o nível da autoridade do país, que tem a obrigação, como estadista, de ser sensível às tragédias, não importando o que possa acontecer no resto do mundo, diante da total desvinculação dos fatos desastrosos havidos além-fronteiras.

Em síntese, resta a certeza para o presidente da República de que ninguém teria sido melhor do que o seu governo para combater a desgraça que se abateu sobre as cabeças dos brasileiros, conquanto o lamentável e trágico resultado de mais de 600 mil mortes, para o presidente do país, não deve ter o menor significado para as vítimas e seus entes queridos, em termos de perdas humanas, tendo como principal consolo que houve mortes no resto do mundo, causadas pela Covid-19.  

Trata-se, como se vê, de lúcida evidenciação de sentimento de pessoa que faz questão de se distanciar dos problemas humanos, dando a entender que há algo muito mais importante para ser tratado na República do que a discussão sobre a preservação de vidas das pessoas, diante do entendimento de que se falar sobre mortes somente aborrecem.

Brasília, em 13 de outubro de 2021

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