Os recentes acontecimentos da República tupiniquim evidenciam que as comemorações da independência do Brasil, no último dia 7 de setembro, conseguiram potencializar a crise institucional mais grave desde a redemocratização.
O
presidente da República se encorajou, de corpo e alma, em empreitada bastante
arriscada, talvez convicto de que a sua investida nociva ao pacto democrático
de 1988 poderia lhe render dividendos político-eleitorais, na forma da sua alucinada
vontade de intervenção no Supremo Tribunal Federal, sem que houvesse qualquer
fato motivador para a insana ruptura institucional, como de fato não foi assim
definida, evidentemente por força da prevalência do bom senso e da
racionalidade, que, para o bem dos brasileiros, apareceram quando tudo poderia
ter resultado em verdadeiro desastre.
Para
o bem do Brasil, houve apenas tentativa frustrada de golpe, porquanto o aludido
acordo foi preservado, graças ao expressivo apoio da maioria dos brasileiros que
se calou, mas, como inexplicável paradoxo, o seu “grito” ensurdecedor falou
muito mais alto do que aquele pronunciado em alto e bom som da multidão que foi
às ruas, em apelo por ridículo protesto de mais liberdade, quando ela nunca esteve
em risco, conforme mostram o fatos.
A
verdade é que o auge da crise, alimentada pela indiscutível inexperiência do
presidente do país, foi transformado em ato de pacificação, praticamente em
piscar de olhos, por meio da “Declaração à Nação”, sem que tivesse havido
qualquer forma de discussão sobre possível obstáculo à continuidade democrática,
senão em fazê-lo a entender que o Brasil, sem qualquer justificativa ou motivação,
estava à beira de abissal abismo, ante a decretação de medida de ruptura
institucional, cujas consequências poderiam ter sido às mais catastróficas
possíveis para o futuro do Brasil.
Felizmente,
o presidente brasileiro foi convencido, no limite do seu raciocínio, a mudar o
seu foco golpista, para prestigiar os saudáveis princípios republicanos e
democráticos, que estavam seriamente ameaçados por pura invencionice
oportunista e tresloucada.
Essa
assertiva tanto é verdadeira que o silêncio do presidente do país, sem que ele
precisasse justificar ou explicar absolutamente nada para os brasileiros sobre
a sua repentina mudança da ideia golpista, mostra que a vida democrática não
sofreu o menor abalo, fato este que pode explicar que a possível crise
institucional era o próprio ocupante da poltrona presidencial, que apenas resolveu
cair na real e seguir a cartilha que ele precisava ter como norte há bastante
tempo, desde quando tomou posse.
A confirmação de que o
presidente da República estava desorientado e fora do juízo normal veio logo
depois dos discursos agressivos de 7 de setembro, quando ele resolveu, sem qualquer
aparente pressão com exigência nesse sentido, dizer aos brasileiros, em límpida
nitidez e em bom tom, que, ipsis litteris: “No
instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever,
como Presidente da República, vir a público para dizer: 1. Nunca tive nenhuma
intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade
minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento
acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do
inquérito das fake news. 3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder,
não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos
brasileiros e sua economia. 4.
Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram
do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum. 5. Em que pesem suas qualidades como
jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do
Ministro Alexandre de Moraes. 6. Sendo assim, essas questões devem ser
resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a
observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art. 5º da
Constituição Federal. 7.
Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam
a governar o país. 8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário
trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
9. Sempre estive disposto a
manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e
independência entre eles. 10. Finalmente, quero registrar e agradecer o
extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e
valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.”.
O primor da aludida manifestação presidencial,
conforme o texto transcrito acima, é precisamente o reconhecimento do
mandatário que estava agindo de maneira indevida, literalmente à margem dos
princípios democrático e de civilidade, tendo a humildade, como nem seria
diferente, de dizer que “Reitero meu respeito pelas instituições da
República, forças motoras que ajudam a governar o país.”,
porque isso é fundamental para a afirmação política do verdadeiro estadista, no
sentido de marcar respeito às instituições do país, em harmonia com o ordenamento
jurídico, que ele se comprometeu a observar e defender, como princípios essenciais
na qualidade de comandante da nação.
Ao decidir por ficar calado, o presidente do pais
contribui para tranquilizar importante parcela dos brasileiros, porque se
sentia incomodada com a falta de civilidade de quem tem o dever de promover a
paz à frente do governo e isso tem como reflexo a melhoria do bem-estar social,
além de contribuir para a pacificação entre os poderes da República.
À toda evidência, o silêncio do presidente do pais
é a certeza da paz e da tranquilidade no seio da sociedade, permitindo, em
especial, que ele possa se concentrar, doravante, tão somente à solução dos graves
problemas nacionais acumulados enquanto ele ficava cuidando de criticar, acusar
e agredir autoridades da República, em absoluta perda de tempo que certamente
prejudicou em muito o seu desempenho quanto aos espinhosos encargos
presidenciais.
É bem possível que a maioria dos problemas de
gestão do país, que se intensificaram ao meio às crises, está diretamente
vinculada à reiteração das inúteis agressões e críticas protagonizadas pelo
mandatário, que usava o poder, de maneira indevida, para menosprezar a
dignidade de autoridade da República, em desprezo à sabedoria que ensina que o
homem público prudente e capaz busca o diálogo para a solução das questões políticas
e de governo.
O tempo já cuidou de confirmar a importância do silencia do presidente do país, cuja ressonância é traduzida com a calmaria que domina no seio das instituições da República, cujos efeitos ajudam ao fortalecimento da democracia, diante da paz que se dissemina espontaneamente no âmbito da administração pública.
Na verdade, o silencia presidencial
tem o poder de importante lição em benefício da excelência da produtividade em
prol da sociedade, que anseia também pela pacificação entre as instituições republicanas.
A
exatamente um ano das eleições de 4 de outubro de 2022, a opinião de especialista
político é no sentido de que o panorama político brasileiro se apresenta, no
momento, bastante confuso e incerto, em especial quanto ao futuro político do
presidente do país, que poderá até tentar a reeleição, mas o conjunto de seus
atos até agora deixa verdadeira lacuna na continuidade das atividades presidenciais,
ou seja, há fortes marcas de incerteza com relação ao segundo mandato para ele.
A
avaliação que se faz sobre a gestão do presidente brasileiro é a de que ele foi
capaz de protagonizar a prática de atos importantes na gestão pública, em
contraponto de atitudes fortemente de desequilíbrio temperamental quanto à
segurança e a estabilidade das instituições da República, em especial na sublimação
da tentativa de golpe, que é algo absolutamente impensável para qualquer
estadista, mas esse fato esteve à beira de acontecer, porque o cenário já estava
todo preparado para o seu desfecho.
Por
fim, é preciso ficar muito claro que o presidente do país foi eleito por ter
sido o candidato mais viável para derrotar o petismo, então esfacelado por gestões
temerárias e ruidosas aos interesses nacionais, num cenário político de caos
institucional e de cruzada moral pela erradicação da corrupção, fatos estes que
foram bastante explorados, na ocasião, pelo candidato, mas terminaram sendo
desprezados diante das insistentes investigações de familiares dele, envolvidos
em irregularidades com dinheiro público.
O
certo é que os vícios do patrimonialismo prevaleceram presentes no atual governo,
como a captura persistente do Estado por grupos de interesse, com destaque para
o melancólico fim da Operação Lava-Jato, que fora a menina dos olhos do candidato,
quando agora o seu nome é absolutamente recriminado pelo próprio presidente e
sobre ela somente existem resquícios da sua passagem na gestão pública.
Enfim,
os fatos evidenciam que o presidente do país perdeu, ao que parece por muito pouco,
a oportunidade para decretar o seu sonhado e adiantado golpe, para se perpetuar
na história republicana como o mandatário que teve “peito” para falar mais alto
no cenário político-administrativo.
Não
há a menor dúvida de que o perigo de golpe continuará na pauta presidencial, porque
parece da sua índole política, mas essa medida dificilmente será implementada
por ele, exatamente por falta de força e vontade política e das Forças Armadas,
que ainda preferem prestigiar a continuidade da prevalência dos saudáveis
princípios democrático e republicano, em conformidade com a tradição brasileira.
A esperança dos brasileiros é a de que possa prevalecer
no Brasil o sentimento político de generalizada pacificação, tanto no seio das instituições
republicanas como no âmbito da sociedade, como forma de se assegurar a primazia
do bom senso e da racionalidade na administração pública, em harmonia com os
princípios republicano e democrático.
Embora com remotíssimas esperanças, pensando assim por ainda restar alguma chance no horizonte, ante às notáveis riquezas humana e política, convém se torcer no sentido de que surja verdadeiro estadista para a salvação dos brasileiros, tendo como exigências básicas: competência, eficiência, sensibilidade humana, moralidade, seriedade, bom senso, racionalidade, enfim, respeito aos elevados princípios da administração pública.
Brasília, em 4 de outubro de 2021
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