segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Terrivelmente recriminável

            Há mais de três meses, o presidente da República indicou pessoa da confiança dele, sob o estranho rótulo de “terrivelmente evangélico” para ocupar o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal.

O que seria ato normal do presidente do país passou a ser terrivelmente problema para ele, à vista da intromissão de interesses políticos nesse jogo sujo que sempre permeou a indicação para tão importante cargo da República, que segue o padrão nebuloso do apadrinhamento, do interesse e das recompensas, próprios das piores republiquetas, que simplesmente ignoram, com naturalidade, os sublimes princípios republicanos da decência, da transparência e, enfim, da dignidade que precisa imperar na administração pública.

          É de se notar que logo o Centrão, grupo político de histórico polêmico, depois de todo esse tempo, agora, quer indicar novo nome, passando para trás a pessoa indicada pelo presidente do país, para ocupar o mencionado cargo, fato este que tem como consequência a abertura de crise entre o presidente do país e as lideranças dos últimos redutos fiéis de popularidade dele, os chamados evangélicos.

Há a articulação dos principais ministros do grupo que comanda a Câmara dos Deputados, integrantes do Centrão, que busca viabilizar a indicação do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que tem seu nome defendido pelos ministros da Casa Civil, da Secretaria de Governo e das Comunicações, todos líderes daquele grupo, cujo tema foi debatido em dois jantares de alto nível.

O nome indicado pelo presidente do país, que é considerado "terrivelmente evangélico", tem apoio firme entre alguns dos principais líderes do segmento evangélico, mas a forte movimentação do Centrão fez explodir a insatisfação que impera em torno dessa vaga, que agora se tornou objeto de interesse político.

Essa nova situação mostra, com muita clareza, o submundo da engrenagem existente na composição do poder, quando entra em jogo a disputa de interesses pelos principais cargos da República, ficando nítida exposição para a opinião pública a forma espúria e interesseira para se nomear alguém para importante cargo pessoa que sabidamente é a mais adequada para a satisfação da vontade de grupos políticos, na certeza de que ela será cediça aos seus interesses na corte, porque, do contrário, não haveria qualquer disputa pela indicação.

Trata-se de situação terrivelmente vergonhosa que pessoa indicada para ocupar cargo público relevante, como o de ministro do Supremo, se transforme em objeto de terrível disputa, posto que, nesse caso, deve prevalecer, ao final, a força de quem tem mais cacife ou poder político, que não há a menor dúvida de que o vencedor será aquele que for indicado pelo Centrão, exatamente porque o presidente do país, por ser refém desse grupo, logo cederá e encontrará desculpa honrosa para entender que o novo indicado é muito mais “terrivelmente evangélico” do que o seu indicado.

É preciso ficar muito claro que é terrivelmente forma de esculhambação se indicar nome para cargo público relevante, como o de ministro do Supremo, tendo por critério o vergonhoso e descabido qualificativo de ser “terrivelmente evangélico” ou somente “terrivelmente o que for”, além de ainda pesar negativamente a aproximação funcional intima dele com o presidente do país, quando ele ocupava cargo de ministro e isso é terrivelmente contrário aos princípios da transparência, da imparcialidade e da gestão da coisa pública, à vista do sublime princípio da impessoalidade.

Em um país com o mínimo de seriedade e evolução, em termos político-jurídico-administrativos, o nome indicado para ocupar o mencionado cargo somente seria aceito se preenchesse os requisitos exigidos pela Constituição e tivesse reconhecida capacidade jurídica, sem nenhuma vinculação com nenhum grupo de interesse, como nesse caso extremamente indecente e repugnante de ser “terrivelmente evangélico”, por isso é terrivelmente inaceitável para uma nação com o mínimo de dignidade e respeito aos cidadãos honrados e dignos.

Os brasileiros honrados precisam menosprezar terrivelmente os homens públicos que somente enxergam terrivelmente seus interesse, como nesse caso da indicação do novo ministro do Supremo, quando o nome é de pessoa “terrivelmente evangélica”, tendo por objetivo exclusivo agradar, de maneira escrachada e terrivelmente explícita o segmento evangélico, em claríssima demonstração de falta de critério fundado em princípios de dignidade e decência republicanas, que têm por base o atendimento primário da impessoalidade e da satisfação do interesse público.

Urge que o nome indicado para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal seja de pessoa que, efetiva e terrivelmente, preencha os requisitos exigidos pela Constituição Federal, que demonstre terrivelmente capacidade na área jurídica e que não seja terrivelmente amigo do presidente da República, não pertença ao Centrão, não seja terrivelmente ligado a segmento algum da sociedade e que se comprometa a trabalhar só e terrivelmente em defesa do interesse público, mandando terrivelmente para o merecido lugar todos aqueles que utilizam o serviço público para a satisfação de seus interesses, como está terrivelmente muito claro no presente caso, onde certamente o nome indicado tem o dever de recompensar por tão terrível magnanimidade pelo prêmio do cargo.

           Brasília, em 11 de outubro de 2021

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