quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

A força do Centrão?

 

O presidente da República se filiou ao Partido Liberal, tendo definido a sigla pela qual será candidato à reeleição.

A concorrida cerimônia contou com a presença de ministros, congressistas da base bolsonarista, além de muitos políticos integrantes do Centrão, ao qual faz também faz parte o PL, a nova sigla do mandatário.

O Centrão é bancada informal no Congresso Nacional que abriga importantes siglas de centro-direita e com a qual o governo se aliou desde o ano passado, em busca de base de sustentação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

No discurso, o presidente do país fez acenos aos parlamentares do PL e de outros partidos que tinham representantes presentes no evento, dizendo que "Estou me sentindo aqui em casa, dentro do Congresso Nacional, aquele plenário da Câmara, tendo em vista a quantidade de parlamentares aqui presentes. Me trazem lembranças agradáveis, lembranças de luta, acima de tudo, momentos em que nós, juntos, fizemos pelo nosso país. Eu venho do meio de vocês. Venho de 28 anos na Câmara".

Uma colocação do presidente do país chamou muita a atenção da imprensa e da opinião pública, por ele ter dito precisamente isso, ipsis litteris: "Uma pessoa que é conhecida por honrar palavra. Da minha parte também, e temos tudo para realmente ajudar na política brasileira".

A importância dessa declaração põe a dignidade do presidente em nível mais rasteiro possível, tendo em vista que ele foi eleito com discurso de moralização, absolutamente contrário à "política fisiológica", que acaba de abraçar literalmente, em que pese ele já ter afirmado, em julho deste ano, que é do grupo de partidos do Centrão, ou seja, que sempre pertenceu a esse famigerado grupo político.

Essa posição do presidente do país confirma o calote eleitoral que foi protagonizado por ele, na sua eleição, quando ele dizia que jamais integraria o Centrão, mas ele não tem o menor pudor para oficializar-se como um dos principais líderes desse grupo símbolo do recriminável fisiologismo, fato que materializa a clara desonra da sua palavra, ao contrário do que ele afirma acima e isso não fica nada bem para o principal político brasileiro, que tem o dever moral de realmente honrar a palavra, salvo se essa forma de juramento tenha outra conotação, no jargão político.  

Embora o presidente tenha declarado, na campanha eleitoral, que não “integramos o Centrão”, ele se contradisse, em julho, que, in verbis:  "Eu sou do Centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB, PTB. O PP, lá atrás, foi extinto, depois renasceu novamente. Nós temos 513 parlamentares. O tal Centrão, que chamam pejorativamente disso, são alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do Alckmin. E ficou, então, rotulado Centrão como algo pejorativo, algo danoso à nação. Não tem nada a ver, eu nasci de lá".

Como candidato, o presidente do país disse, verbis: “(...) Por isso, nós não integramos o Centrão. Tampouco estamos na esquerda de sempre (...).”.

Ou seja, para se angariar votos dos eleitores defensores da honradez também na política, o presidente rejeitava os integrantes do Centrão, evidentemente no passado, porque, naquela época, esse grupo era chamado de a “velha política”, a turma defensora do fisiologismo, “O tal Centrão, que chamam pejorativamente disso, são alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do Alckmin. E ficou, então, rotulado Centrão como algo pejorativo, algo danoso à nação. Não tem nada a ver, eu nasci de lá".

A ilação cristalina que se pode ter, na concepção do presidente do país, conforme as suas “sábias e honradas” palavras, é que o Centrão era a desgraça, a peste daninha da política, quando isso se encaixava perfeitamente, como uma luva, no seu perfil de candidato para satisfazer precisamente à conveniência eleitoral da ocasião.

Agora, de igual modo, em completa mudança de mentalidade política, depois da notória decadência moral, a partir de quando adotou no seu governo, com a cara mais lisa, a trupe do mesmo Centrão, com as mesmas lideranças de sempre, do passado e de agora, com a mesma filosofia de atuação política, ou seja, em exclusiva defesa desavergonhada de seus interesses, em especial com relação às exigências de cargos no governo e emendas parlamentares, exatamente praticando os mesmos execráveis e sebosos recursos que lhe são peculiares, o Centrão não é mais “algo pejorativo, algo danoso à nação. Não tem nada a ver, eu nasci de lá.”, segundo palavras honrosas do presidente do país.

Ou seja, o Centrão, que mantém integral a virgindade da sua filosofia fisiológica, no passado e na atualidade, pode ser visto pelos políticos aproveitadores, por ângulos diferentes, como sendo o grupo político extremamente nefasto, no momento que essa interpretação seja aproveitável da melhor maneira a satisfazer os interesses da ocasião, mas o bando de aproveitadores passa a ser considerado os verdadeiros “santinhos” da política, quando quem faz tão inteligente avaliação já se integra de corpo e alma ao próprio Centrão, tendo a firmeza até de declarar, sem cerimônia, que “eu nasci lá”, não tendo como negar a própria origem.

Esses fatos, acreditem quem quiser, são autenticamente verdadeiros, em que o mesmo político dizia, no passado, em alto e bom tom, que odiava o Centrão e agora afirma que o ama, cuja firmeza de entendimento deve ser a mesma de seus apoiadores políticos, no caso, seus fiéis eleitores, que acompanham o ídolo, tanto com a ideia do passado como nessa clara declarada e definitiva falta de caráter e honradez de agora.

O milagre aconteceu sim, por força, pasmem, tão somente da conveniência política, ao se permitir que o mesmo homem público, em verdadeiro passe de mágica, tenha duas caras, que a usa, sem mudança de cor nem uso de óleo apropriado, apenas a depender dos seus interesses pessoais e do momento político, conforme mostram os fatos.

A grande decepção mesmo é a de ter acreditado em afirmação como a de que "No meu governo não vai ter toma lá dá cá", mas agora o Centrão se encontra atolado no governo e o presidente é filiado a partido que o integra, mas para os fanáticos, defensores dessa completa imundície, o presidente merece total crédito, porque os fins justificam os meios.

Causa perplexidade enorme o desfecho melancólico da filiação do presidente do país a partido do Centrão, em razão de ele ter sido eleito empunhando a bandeira das terríveis mudanças, sendo que a principal delas tinha sintonia direta com o saudável princípio da moralidade e esse fato levou a ser acreditado por muitos eleitores honrados, que agora têm todo direito de se considerar traídos pelas promessas de campanha eleitoral.

A decisão visivelmente sem noção do presidente do país, evidentemente tendo por base as declarações afirmativas do sentimento irreal de moralidade, no período eleitoral, agora ganha o sentido da personalidade dele, que será sempre desmoralizado quando tentar defender os princípios da dignidade na política, exatamente porque, ao se abraçar prazerosamente com a “velha política”, ele passa a ser um deles.

A verdade é que, mesmo que não tendo praticado ato de corrupção clássica, a sua associação com os políticos tidos por aproveitadores do erário, perde, por completo a sua dignidade de homem público, diante da clareza de que a sua aproximação foi selada por pura conveniência política e isso também é forma de desvio de finalidade política e recursos públicos, neste último caso, por meio de nomeações para cargos por indicação do Centrão e não dele e obrigatoriedade da liberação de emendas parlamentares, precisamente para integrantes desse questionável grupo político, cujos atos ferem mortalmente os princípios da ética e da moralidade públicas.

Com certeza, o presidente-candidato não terá credibilidade alguma quando se referir à defesa dos princípios da moralidade e da honradez, quando ele integra o grupo que se rebela contra a ética e a moralidade na política, diante da prática do fisiologismo como princípio, sob o primado do toma lá dá cá, absolutamente repudiável na administração pública, que o presidente do país faz questão de ignorar, em que pese ele ser a principal autoridade da nação.

Os brasileiros honrados e dignos têm o dever cívico de repudiar a degeneração moral do presidente da República, representada por sua filiação a partido integrante do Centrão, defensor nato do recriminável sistema fisiológico que se baseia no conhecido balcão de trocas, onde o apoio ao governo tem como contrapartida a nomeação de cargos e a liberação de verbas públicos.        

Por fim, como se trata da pessoa do presidente da República, os brasileiros dignos e honrados repudiam, com veemência, a filiação dele a partido político com características de defensor do abominável sistema fisiológico nas atividades políticas, que são consideradas contrárias aos princípios republicanos da ética e da moralidade, entre outros exigidos na vida pública.

Brasília, em 2 de dezembro de 2021

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