quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Questão de humanismo

     Vem circulando, nas redes sociais, vídeo em que um virologista norte-americano afirma ser criador da tecnologia que deu origem à vacina de mRNA, onde ele também alega que o imunizante provoca danos ao organismo de crianças. 

        Ressalte-se que há informação no Google, com apoio da Agência Lupa, que checa a veracidade sobre notícias divulgadas na internet, que as afirmações atribuídas ao do mencionado virologista, no aludido vídeo, são falsas, ou seja, são forjadas por algum criminoso, que presta lamentável serviço à humanidade, uma vez que, em se tratando de vacina, qualquer informação inverídica tem o condão de causar enormes prejuízos ao ser humano.

  O virologista afirma que “Esse gene (das vacinas de RNA mensageiro) força o corpo do seu filho a produzir proteínas Spike tóxicas. Essas proteínas frequentemente causam danos permanentes em órgãos vitais das crianças. Estes órgãos incluem seu cérebro e sistema nervoso; seu coração e veias sanguíneas, incluindo coágulos de sangue; seu sistema reprodutivo. E o mais importante: essa vacina pode provocar mudanças fundamentais em seu sistema imunológico”, diz trecho do vídeo com alegações falsas.

     O citado  médico afirma, no vídeo, que um “gene viral” será injetado nas células-mãe e forçará o corpo da criança a produzir proteínas tóxicas e que essas proteínas costumam causar danos permanentes nos órgãos das crianças, incluindo o cérebro e o sistema nervoso. 

       De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC), as vacinas são seguras e eficazes contra o novo coronavírus, tendo afirmado ainda que o mRNA e a proteína spike não duram muito no corpo, porque as células do ser humano quebram o mRNA e se livram dele alguns dias após a vacinação. 

        Além dessa afirmação, os verdadeiros cientistas estimam que a proteína spike pode permanecer no corpo por algumas semanas, que é o mesmo que acontece com outras proteínas criadas pelo nosso corpo. 

       A reportagem esclarece que, segundo especialistas em imunologia humana, o mRNA nunca entra no núcleo da célula onde nosso DNA (que é o material genético) está localizado, fato que desmente a alegação falsamente postada no vídeo, porque ele não tem poder de alterar nossos genes nem os influenciar.

       Na mesma reportagem, consta que estudo atribuído à fundação PHG, ligada à Universidade de Cambridge, esclarece que "As vacinas de RNA não são feitas com partículas de patógenos ou patógenos inativados, portanto, não são infecciosas. O RNA não se integra ao genoma do hospedeiro e a fita de RNA da vacina é degradada assim que a proteína é produzida”. 

      A propósito, a Anvisa, agência brasileira que legalmente controla a aplicação sobre vacinas, autorizou a imunização com a vacina da Pfizer contra a Covid-19, em criança de 5 a 11 anos.

      Além do pronunciamento desse órgão, que tem a incumbência de cuidar, na forma do controle sobre as questões sanitárias do Brasil, especialistas das sociedades brasileiras de Infectologia (SBI), de Imunologia (SBI), de Pediatria (SBP), de Imunizações (SBIm) e de Pneumologia e Tisiologia também participaram da necessária avaliação da vacina e concluíram favoravelmente à vacinação das crianças. 

        A verdade é que a desinformação sobre o uso do imunizante, para essa faixa etária, começou a circular, nas redes sociais, a partir do encorajamento da postura negacionista do próprio governo, que não tem estudo acerca do assunto, mas, mesmo assim, se atreve, de forma indevida, a manifestar-se em contrariedade à vacinação.

       À toda evidência, esse fato, além de desagradável, não fica nada bem para a imagem do Executivo, como órgão central incumbido da proteção da vida dos brasileiros, que precisam acreditar na seriedade da orientação sobre tão importante causa, tendo por base fontes fidedignas acerca das vacinas, o que não é o caso do governo, que foi incapaz de promover estudos sobre tão relevante assunto de interesse da população.

  Com a mesma finalidade de imunização, a autorização para a aplicação da vacina já havia sido concedida, em nível de elevada segurança, pelo Food and Drug Administration (FDA) e pela European Medicines Agency (EMA), que são agências regulatórias de saúde dos Estados Unidos e União Europeia, além de inúmeros países mundo afora. 

     Não obstante, estranhamente, exatamente no Brasil, surgem grupos antivacina, talvez por amor à ideologia política, entenderam de compartilhar mensagens nas redes sociais, nitidamente com a finalidade para o  desencorajamento da imunização contra a Covid-19 e espalham boatos questionando a segurança da vacina da Pfizer,  dizendo que ela não é recomendada para adolescentes, o que não é verdade, exatamente contrário aos fins objetivados pela ciência e à proteção da vida.

       Já em junho último, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a autorizar a aplicação do imunizante para pessoas com 12 anos de idade ou mais, com a recomendação de que a aprovação do uso da vacina em adolescentes foi feita “após a apresentação de estudos desenvolvidos pelo laboratório que indicaram a segurança e eficácia da vacina para este grupo'. Os estudos foram desenvolvidos fora do Brasil e avaliados pela Anvisa.”.

      No Brasil, a vacina da Pfizer é a única autorizada para ser aplicada em menores de idade, a qual já tem a aprovação da Anvisa para essa finalidade, exatamente porque é responsável pela avaliação e aprovação de medicamentos no Brasil. 

       Convém ser ressaltado que, para o imunizante ser liberado, no Brasil, o órgão analisa a sua fórmula de produção, os estudos e embasamentos técnicos que concluíram pela segurança e eficácia do medicamento. 

   Após a liberação do uso em seres humanos, a Anvisa também faz o monitoramento para possíveis eventos adversos, nos casos de possíveis efeitos colaterais.

      Confesso que tenho visto com bastante preocupação pessoas se posicionarem sobre matérias da maior relevância, envolvendo a proteção da vida humana, via de regra, sem ter patavina de conhecimento sobre as questões referentes a estudos científicos.

      Por incrível que pareça, muitas pessoas, por mera ideologia política, se tornam “doutores” em opiniões sobre vacinas, até com convicção acerca dos efeitos terrivelmente maléficos causadas por elas, mesmo que até isso possa ser realidade, mas, para tanto, seria interessante que houvesse estudo científico e não apenas opiniões de especialistas, muitas das quais absolutamente fraudadas e longe da realidade, evidentemente sem valor algum.

    O mais grave é que essas pessoas opinam em contrariedade à vacina e ignoram, por completo, os terríveis e letais malefícios da Covid-19, porque este fato sim, nem precisa de estudo de coisa alguma para se provar que ele mata mesmo e tem sido verdadeiro terror para as famílias que lamentam que seus entes queridos não tivessem tido a oportunidade de tomarem a vacina, a despeito de que outros podem ter tomado e, por circunstâncias não identificadas, podem não terem merecido as graças da salvação. 

    O mais importante nesse processo pandêmico, de natureza notoriamente emergencial, é seguir, em princípio, o que o mundo científico confiável vem orientando, mesmo que haja risco, porque o pior e mais grave risco é nada fazer e se expor à multiplicação ainda mais ao perigo, com a possibilidade de prejuízos piores, repita-se, ante à vulnerabilidade permanente perante o vírus. 

      Enfim, o ensejo é para se fazer apelo às pessoas de boa vontade que, nesse caso da vacina, tenham a conscientização de agirem segundo às suas convicções, mas que sejam válidas somente para elas, respeitando as orientações das organizações de saúde pública incumbidas da proteção da vida humana, com embargo das exacerbadas opiniões pessoais sem validade cientifica, porque certamente elas não se harmonizam precisamente com a gravidade do correto combate à pandemia do coronavírus.

       Brasília, em 30 dezembro de 2021 

 

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