sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Repensar o Brasil?

 

Tempos atrás, a revista britânica The Economist publicou relatório especial, onde ela afirma que o Brasil vive hoje "sua maior crise desde o retorno à democracia, em 1985" e atribui a maior parte dos problemas ao atual presidente.

O texto de abertura do relatório, assinado pela correspondente do Economist no Brasil, diz que  "Seus desafios (do Brasil) são assustadores: estagnação econômica, polarização política, ruína ambiental, regressão social e um pesadelo ambicioso. E teve de suportar um presidente que está minando o próprio governo. Seus comparsas substituíram funcionários de carreira. Seus decretos têm forçado freios e contrapesos em todos os lugares".   

No artigo que encerra o relatório, que foi intitulado "Hora de ir embora", a revista afirma que o futuro do Brasil depende das eleições de 2022 e que a prioridade mais urgente do país é se livrar do atual presidente.

A revista escreve que "Os políticos precisam enfrentar as reformas econômicas atrasadas. Os tribunais devem reprimir a corrupção. E empresários, ONGs e brasileiros comuns devem protestar em favor da Amazônia e da constituição. Será difícil mudar o curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A prioridade mais urgente é votar para retirá-lo do poder.".

O texto da revista afirma que "As pesquisas sugerem que Lula ganharia em um segundo turno (contra o atual presidente). Mas, à medida que a vacinação e a economia se recuperam, o presidente pode recuperar terreno. Lula deve mostrar como a forma de (o presidente de) lidar com a pandemia custou vidas e meios de subsistência, e como ele governou para sua família, não pelo Brasil. O ex-presidente deve oferecer soluções, não saudades.".

Em 2009, a capa dessa revista mostrava o Cristo Redentor decolando, como se fosse foguete, com a manchete "O Brasil decola", elogiando políticas econômicas da época.

Não obstante, em 2013, em imagem semelhante, mas em sentido inverso, o mesmo Cristo Redentor aparecia na capa como um foguete desgovernado e a manchete foi "O Brasil estragou tudo?", em edição onde a revista criticava a mudança de rumo nas políticas econômicas da presidente do país, que terminou sendo afastada do governo, por crime de responsabilidade, segundo o entendimento do Senado Federal.

A publicação afirma que o Brasil já enfrentava uma "década de desastres", antes mesmo da chegada do atual presidente ao poder, mas que agora o país está retrocedendo com o adjutório da pandemia da Covid-19.

A revista afirma que "Antes da pandemia, o Brasil sofria de uma década de problemas políticos e econômicos. Com Bolsonaro como médico, o Brasil agora está em coma.".

O Economist argumentou que o presidente do país não deu golpe de Estado, como muitos chegaram a temer que pudesse ter acontecido, mas ele possui fortes instintos autoritários que enfraqueceram as instituições democráticas brasileiras, com suas constantes agressões à imprensa e às instituições republicanas.

A revista escreveu, in verbis: "Muitos especialistas disseram que as instituições brasileiras resistiriam a seus instintos autoritários. Até agora, eles provaram estar certos. Embora Bolsonaro diga que seria fácil realizar um golpe, ele não o fez. Mas, em um sentido mais amplo, os especialistas estavam errados. Seus primeiros 29 meses no cargo mostraram que as instituições do Brasil não são tão fortes quanto se pensava e se enfraqueceram sob suas agressões."

A revista também afirmou que o presidente brasileiro encerrou as investigações da Operação Lava-Jato, após acusações feitas contra seus filhos, beneficiando "políticos corruptos e grupos criminosos organizados", não promoveu mais reformas significativas, desde a reforma da Previdência de 2019, e causou danos à floresta amazônica, por se solidarizar com madeireiros, mineiros e fazendeiros que promovem o desmatamento predatório e irresponsável das matas.

O Economist afirmou que “Ele (o presidente brasileiro) levou uma motosserra para o Ministério do Meio Ambiente, cortando seu orçamento e forçando a saída de pessoal competente. A redução do desmatamento requer um policiamento mais firme e investimento em alternativas econômicas. Nenhum dos dois parece provável.".

A reportagem afirma que depois de "geração de progresso", a mobilidade social está desacelerando no país, depois de anos de políticas voltadas para o controle da inflação e da diminuição da pobreza, que foram seguidos por "década de políticas ruins e sorte pior ainda".

A revista Economist também faz crítica às gestões do PT, por investirem muito pouco em infraestrutura, abandonarem reformas pró-negócios e adotarem políticas semelhante à substituição de importação, conquanto o atual presidente e seu ministro da Economia também são duramente criticados por ela.

A revista afirmou que "Guedes se gabava de que seriam feitas reformas para simplificar o código tributário, reduzir o setor público e privatizar empresas estatais ineficientes. No entanto, o espírito reformista se mostrou fugaz. Bolsonaro não é muito liberal. Seu desgosto por reformas duras tornou fácil para o Congresso ignorar a agenda de Guedes.".

Enfim, o relatório é denso e minucioso, no qual se inserem importantes análises sobre corrupção e crime, Amazônia, reformas políticas e eleitores evangélicos, mostrando verdadeiro retrato sobre o Brasil atual e principalmente as suas tristes mazelas, que contam com enorme contribuição do governo, que tem ciência das suas profundezas, mas prefere combatê-las com a barriga, ou seja, sem a menor preocupação quanto ao enfrentamento do mostro com a devida competência, talvez na esperança de que as precariedades se diluam com o passar do tempo, sem necessidade de esforços para o seu fim.

Talvez muitos pensem que a revista britânica tenha ido muito, bem além do seu limite de análise sobre o governo brasileiro, mas os fatos abordados por ela dizem muito de perto com a realidade do que ele realmente representa na atualidade.

Vejam-se que algumas das principais mudanças do candidato à Presidência da República visavam à modernização da administração pública, por meio das privatizações, com forte apelo às reformas, mas nada disso aconteceu para valer, salvo pequena e acanhada reforma da Previdência, que muitos especialistas a classificam como mero paliativo, por não resolver os problemas centrais do sistema previdenciário.

O presidente que também prometiam ser o paladino da moralidade, conseguiu acabar com os trabalhos da Operação da Lava-Jato, quando não resistiu ver seus filhos nas páginas policiais, metidos em noticiários de “rachadinhas”, além de ele ter se enlameado com as podridões representadas pelo Centrão, ao levá-lo para o governo e, para coroar com chave de ouro a imundície, ele protagonizou a sua filiação a um dos principais partidos que encabeçam esse grupo político que é símbolo do fisiologismo, que pratica o recriminável esquema do “toma lá, dá cá”, que é verdadeira vergonha nacional, ante os princípios republicanos que precisam imperar na administração pública.

Não se pode negar que o governo seja somente o mar de mediocridade, a exemplo de alguns fatos lamentáveis citados acima, porque há sim algumas realizações dignas de destaque na gestão do presidente da República, as quais são creditadas exclusivamente ao seu dever ínsito de se eleger somente para realizar boas e excelentes obras, em benefício do bem-estar da sociedade, em perfeita harmonia com as imperiosas atribuições institucionais, em que, ao eleito, somente se espera profícuos resultados na aplicação dos recursos públicos.   

Brasília, em 31 de dezembro de 2021

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