Tempos atrás, a revista britânica The Economist publicou
relatório especial, onde ela afirma que o Brasil vive
hoje "sua maior crise desde o retorno à democracia, em 1985"
e atribui a maior parte dos problemas ao atual presidente.
O texto de abertura do
relatório, assinado pela correspondente do Economist no Brasil, diz que "Seus desafios (do Brasil) são
assustadores: estagnação econômica, polarização política, ruína ambiental,
regressão social e um pesadelo ambicioso. E teve de suportar um presidente que
está minando o próprio governo. Seus comparsas substituíram funcionários de
carreira. Seus decretos têm forçado freios e contrapesos em todos os
lugares".
No artigo que encerra o
relatório, que foi intitulado "Hora de ir embora", a revista afirma que o futuro do Brasil depende das eleições de
2022 e que a prioridade mais urgente do país é se livrar do atual presidente.
A revista escreve que "Os
políticos precisam enfrentar as reformas econômicas atrasadas. Os tribunais
devem reprimir a corrupção. E empresários, ONGs e brasileiros comuns devem
protestar em favor da Amazônia e da constituição. Será difícil mudar o
curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A prioridade mais urgente é
votar para retirá-lo do poder.".
O texto da revista
afirma que "As pesquisas sugerem que Lula ganharia em um segundo turno (contra
o atual presidente). Mas, à medida que a vacinação e a economia se
recuperam, o presidente pode recuperar terreno. Lula deve mostrar como a forma
de (o presidente de) lidar com a pandemia custou vidas e meios de
subsistência, e como ele governou para sua família, não pelo Brasil. O
ex-presidente deve oferecer soluções, não saudades.".
Em 2009, a capa dessa
revista mostrava o Cristo Redentor decolando, como se fosse foguete, com a
manchete "O Brasil decola", elogiando políticas econômicas da
época.
Não obstante, em 2013,
em imagem semelhante, mas em sentido inverso, o mesmo Cristo Redentor aparecia
na capa como um foguete desgovernado e a manchete foi "O Brasil
estragou tudo?", em edição onde a revista criticava a mudança de rumo
nas políticas econômicas da presidente do país, que terminou sendo afastada do
governo, por crime de responsabilidade, segundo o entendimento do Senado
Federal.
A publicação afirma que
o Brasil já enfrentava uma "década de desastres", antes mesmo
da chegada do atual presidente ao poder, mas que agora o país está retrocedendo
com o adjutório da pandemia da Covid-19.
A revista afirma que "Antes
da pandemia, o Brasil sofria de uma década de problemas políticos e econômicos.
Com Bolsonaro como médico, o Brasil agora está em coma.".
O Economist
argumentou que o presidente do país não deu golpe de
Estado, como muitos chegaram a temer que pudesse ter acontecido, mas ele possui fortes instintos autoritários que enfraqueceram
as instituições democráticas brasileiras, com suas constantes agressões à
imprensa e às instituições republicanas.
A revista escreveu, in
verbis: "Muitos especialistas disseram que as instituições
brasileiras resistiriam a seus instintos autoritários. Até agora, eles provaram
estar certos. Embora Bolsonaro diga que seria fácil realizar um golpe, ele não
o fez. Mas, em um sentido mais amplo, os especialistas estavam errados. Seus
primeiros 29 meses no cargo mostraram que as instituições do Brasil não são tão
fortes quanto se pensava e se enfraqueceram sob suas agressões."
A revista também afirmou
que o presidente brasileiro encerrou as investigações da Operação Lava-Jato,
após acusações feitas contra seus filhos, beneficiando "políticos
corruptos e grupos criminosos organizados", não promoveu mais reformas
significativas, desde a reforma da Previdência de 2019, e causou danos à floresta
amazônica, por se solidarizar com madeireiros, mineiros e fazendeiros que
promovem o desmatamento predatório e irresponsável das matas.
O Economist afirmou
que “Ele (o presidente brasileiro) levou uma motosserra para o
Ministério do Meio Ambiente, cortando seu orçamento e forçando a saída de pessoal
competente. A redução do desmatamento requer um policiamento mais firme e
investimento em alternativas econômicas. Nenhum dos dois parece provável.".
A reportagem afirma que
depois de "geração de progresso", a
mobilidade social está desacelerando no país, depois de anos de
políticas voltadas para o controle da inflação e da diminuição da pobreza, que
foram seguidos por "década de políticas ruins e sorte pior ainda".
A revista Economist
também faz crítica às gestões do PT, por investirem muito
pouco em infraestrutura, abandonarem reformas pró-negócios e adotarem políticas
semelhante à substituição de importação, conquanto o atual presidente e
seu ministro da Economia também são duramente criticados por ela.
A revista afirmou que "Guedes
se gabava de que seriam feitas reformas para simplificar o código tributário,
reduzir o setor público e privatizar empresas estatais ineficientes. No
entanto, o espírito reformista se mostrou fugaz. Bolsonaro não é muito liberal.
Seu desgosto por reformas duras tornou fácil para o Congresso ignorar a agenda
de Guedes.".
Enfim, o relatório é
denso e minucioso, no qual se inserem importantes análises sobre corrupção e
crime, Amazônia, reformas políticas e eleitores evangélicos, mostrando
verdadeiro retrato sobre o Brasil atual e principalmente as suas tristes mazelas,
que contam com enorme contribuição do governo, que tem ciência das suas profundezas,
mas prefere combatê-las com a barriga, ou seja, sem a menor preocupação quanto
ao enfrentamento do mostro com a devida competência, talvez na esperança de que
as precariedades se diluam com o passar do tempo, sem necessidade de esforços
para o seu fim.
Talvez muitos pensem
que a revista britânica tenha ido muito, bem além do seu limite de análise sobre
o governo brasileiro, mas os fatos abordados por ela dizem muito de perto com a
realidade do que ele realmente representa na atualidade.
Vejam-se que algumas
das principais mudanças do candidato à Presidência da República visavam à modernização
da administração pública, por meio das privatizações, com forte apelo às
reformas, mas nada disso aconteceu para valer, salvo pequena e acanhada reforma
da Previdência, que muitos especialistas a classificam como mero paliativo, por
não resolver os problemas centrais do sistema previdenciário.
O presidente que também
prometiam ser o paladino da moralidade, conseguiu acabar com os trabalhos da
Operação da Lava-Jato, quando não resistiu ver seus filhos nas páginas
policiais, metidos em noticiários de “rachadinhas”, além de ele ter se enlameado
com as podridões representadas pelo Centrão, ao levá-lo para o governo e, para
coroar com chave de ouro a imundície, ele protagonizou a sua filiação a um dos
principais partidos que encabeçam esse grupo político que é símbolo do
fisiologismo, que pratica o recriminável esquema do “toma lá, dá cá”, que é
verdadeira vergonha nacional, ante os princípios republicanos que precisam imperar
na administração pública.
Não se pode negar que o
governo seja somente o mar de mediocridade, a exemplo de alguns fatos lamentáveis
citados acima, porque há sim algumas realizações dignas de destaque na gestão
do presidente da República, as quais são creditadas exclusivamente ao seu dever
ínsito de se eleger somente para realizar boas e excelentes obras, em benefício
do bem-estar da sociedade, em perfeita harmonia com as imperiosas atribuições
institucionais, em que, ao eleito, somente se espera profícuos resultados na aplicação
dos recursos públicos.
Brasília, em 31 de dezembro
de 2021
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