Não é verdade que o presidente da
República brasileiro tenha ganho o título de “Personagem do Ano” da revista Time,
norte-americana.
A escolha é da competência dos
editores da publicação norte-americana e será anunciada amanhã.
É verdade que a revista publicou
o resultado de enquete que fazia indagação sobre quem deveria ser escolhido para
a homenagem, onde houve votação online, aberta a qualquer um, que o presidente
do brasileiro ficou disparado em primeiro lugar, cujo resultado não define absolutamente
nada.
Ocorre que fãs e idólatras do presidente
brasileiro se mobilizaram nas redes sociais, para participar ativamente da
enquete, graças a uma campanha impulsionada desde o final de novembro,
inclusive pelo próprio presidente, por políticos aliados e por blogs e canais governistas,
em verdadeiro movimento que se fosse feito algo semelhante em prol da melhoria
das políticas públicas do governo a popularidade interno dele certamente não estaria
tão rasteira.
Nessa campanha, alguns importantes
perfis compartilharam a notícia do resultado da enquete sem explicar que se
tratava de uma votação popular sem efeito prático, tendo gerado forte confusão
nas redes sociais.
O site de uma rádio nitidamente
bolsonarista fez postagens de grande alcance, com reprodução do título “Bolsonaro é eleito
personalidade do ano pela revista Time”, fato que está incorreto, por
enquanto, por falta de respaldo, salvo se os citados editores concluírem nesse
sentido, em decisão para amanhã.
O presidente brasileiro recebeu pouco
mais de 24% dos mais de 9 milhões de votos contabilizados, tendo sido acompanho
pelo ex-presidente dos EUA (9%), pelos profissionais de saúde (6,3%), por um ativista
(6%) e pelos cientistas que desenvolveram as vacinas contra a Covid-19 (5,3%).
Com ajuda da ferramenta de monitoramento
de redes sociais CrowdTangle, um grande jornal brasileiro verificou que o topo da
lista de compartilhamento das postagens tem origem em uma deputada federal bolsonarista
do PSL-SC, com milhares de interações no Facebook, fato que significa, apenas para
se ter ideia, essa forma de engajamento é cerca de 12 vezes maior do que o da
própria revista, ao convocar os seus leitores para a votação na mesma rede social,
quando o post dela teve pouco mais de 1,5 mil interações, mesmo considerando que
a Time tem 80 vezes mais
seguidores do que a parlamentar brasileira, ou seja, houve verdadeira enxurrada
de postagens.
Segundo um jornal, a força das
postagens se fez presente também no ranking das dez maiores fontes de
compartilhamentos no Facebook, com o envolvimento de grupos alinhados com o
presidente brasileiro, como as páginas “Brazil Wars”, “Bolsonaro Presidente
2022”, “Nas Ruas” e “Movimento Avança Brasil”, cuja campanha ainda foi estendida
para sites e blogueiros no Twitter e no Youtube, em campanha intensa em prol da
eleição do presidente brasileiro.
Foi constatado que o próprio presidente
brasileiro entrou diretamente na sua campanha, tendo pedido votos em live com
simpatizantes, no dia 25 de novembro, nestes termos: “Estamos liderando.
Agradeço a quem votou em mim. Quem não votou, peço que entre lá no site da Time
e vote.”.
Ressalte-se que levantamentos
realizados por institutos especializados, somente com brasileiros e, sem direcionamento
ideológico, conforme publicação na mídia, resultam em altíssimo nível de impopularidade
do presidente brasileiro, contrastando com essa questionável votação da Time,
a princípio, nada republicana, à luz da seriedade.
É até possível que a enquete para
“Personalidade do Ano” possa ser levada em conta pelos editores da Time,
mas ela não é decisiva para a escolha, à vista do que já aconteceu em anos anteriores,
a exemplo do ano passado, quando o voto popular foi para os profissionais de
saúde que atuaram na linha de frente da pandemia de Covid-19, mas os editores escolheram
o atual presidente norte-americano e a sua vice-presidente.
Ressalte-se que, no anúncio da vitória
do presidente brasileiro na enquete, a Time afirmou que “o líder
controverso, que será candidato à reeleição em 2022, está enfrentando uma
desaprovação crescente pela maneira como lida com a economia e recebeu críticas
generalizadas de políticos, tribunais e especialistas em saúde pública ao
minimizar a gravidade da covid-19 e demonstrar ceticismo sobre as vacinas”.
É mais do que evidente de que a
pesquisa conta com amostra terrivelmente viciada e desleal, diante da constatação
de participantes majoritariamente bolsonaristas, fato este que, à luz do princípio
da seriedade, não serve como real “termômetro” da popularidade do presidente,
como defendem os seguidores dele e muito menos põe em descrédito as pesquisas
de opinião pública que apontam alta desaprovação do governo.
Na verdade, não chega a ser
novidade que brasileiros se submetam ao ridículo de forjar a construção absurda
de liderança sem a menor sustentação de mérito, que até seria louvável se as
postagens representassem a realidade natural dos fatos, mediante a participação
unânime e voluntária dos brasileiros, sem a prevalência de movimentos
defensores de ideologias de direita, que demonstram agir do mesmo modo ou até
pior do que os fanatizados da esquerda, muito e justamente criticados por sua
irresponsável cegueira para ver as sujeiras da gestão de seus ídolos.
Com base nas constatações de que
a eleição em apreço resulta de mobilização de fanatizados, o seu resultado não
passa de verdadeira decepção, em forma de desmoralização do eleito, quando inexiste
nesse processo, que se imagina que seja da maior seriedade, o envolvimento do
devido mérito, no sentido de que a eleição tivesse sido espontânea e refletisse
exatamente, no caso, o resultado da gestão reconhecidamente produtiva e satisfatória
em benefício dos brasileiros, tendo a aprovação e os aplausos em confirmação
dos seus bons frutos, quando os fatos apontam para realidade bem diferente.
Na realidade, todo esse processo não
passa de mais uma vergonhosa e deslavada mentira, apoiada por brasileiros que
não se cansam de se enganarem a si próprios, porque essa história de se eleger
o presidente brasileiro como personalidade do ano, sob a visão internacional,
não tem o menor cabimento, à luz dos princípios do bom senso e da racionalidade,
exatamente por não haver elementos substanciais que justifiquem o verdadeiro
sentido atribuído ao objetivo da enquete, cuja farsa se confirma pela loucura manipulação
nas redes sociais.
O sentimento que se tem, diante
de fato extremamente deplorável como esse, em que o próprio interessado ao seu
resultado não tem o mínimo pudor em trabalhar em causa própria e até que nem seria
tanto censurável se houvesse algo de razoabilidade a justificar a medida, é a de
que a sensação que finalmente mostra o sentimento de orgulho por conquista que,
na realidade, não passa de verdadeiro engodo, desastre mesmo, no sentido de se
elevar às alturas o prestígio de quem não conseguiu demonstrar isso na prática.
Ou seja, brasileiros se tornam tão
ingênuos que não enxergam que as suas atitudes estão apenas contribuindo para a
confirmação da mediocridade, ao colocar alguém no topo do mundo, quando a população
brasileira não respaldaria medida bastante controversa como essa.
Na prática, essa atitude esdrúxula
tem resultado extremamente prejudicial aos brasileiros, porque a impressão que
fica é a de que o presidente se convence que ele é realmente o melhor de todos
e imagina que seu trabalho é satisfatório, em termos do atendimento pleno das
necessidades dos brasileiros, quando ele deveria, ao contrário, ter a humildade
de auscultar os verdadeiros anseios da população, para conhecer a verdade sobre
o seu governo, em termos de satisfatoriedade dos serviços prestados à
sociedade..
Enfim, a enquete em referência precisa
ser reconhecida por sua extrema contribuição à verdade, porque ela mostra a
farsa de governo que se alimenta de informações irreais e forjadas, para se
manter na simpatia de seus idólatras, que prestam deplorável serviço à causa
dos brasileiros que honram e dignificam os princípios cívico, democrático e
patriótico, em respeito aos conceitos da seriedade e da verdade, como patrimônio
maior de um povo.
Brasília,
em 12 de dezembro de 2021
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