O presidente da República houve
por bem voltar a atacar o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, o também
ex-juiz da Operação Lava-Jato, ao afirmar que ele passou mais de um ano “sem
abrir a boca” quando estava à frente do Ministério, mas que agora parece
que tem “solução para tudo”.
Em conversa com apoiadores, ao se
referir ao ex-ministro, que havia proferido discurso versando sobre política, o
presidente do país afirmou, em tom sarcástico e de deboche, que “Veio um
idiota agora, não vou falar o nome dele, e disse: ‘Ah, comigo a economia vai
ser inclusiva, sustentável…'”.
O presidente chegou a afirmar, em
recente encontro com seus apoiadores, que o ex-ministro não aguentaria dez
segundos de debate, em visível demonstração de graciosa tentativa de depreciar
a capacidade intelectual do seu declarado inimigo, que decidiu ser candidato à
Presidência da República, nas próximas eleições.
Para mostrar a sua insatisfação
com o ex-ministro, o presidente do país ressaltou que “Esse cara passou um
ano e pouco no meu governo e nunca abriu a boca em reunião de ministro. Sempre
de boca fechada. Até que aconteceu a saída, um pouco tarde, mas aconteceu.
Agora, ele tem solução para tudo. Estando fora do governo é fácil ter solução
para tudo”.
Na tentativa de diminuir a capacidade
política do ex-ministro, o presidente do país disse que “Esse não aguenta 10
segundos de debate”.
À toda evidência, não é da
aprimorada educação nem próprio dos princípios de civilidade, ninguém tratar o
seu semelhante com a pecha de idiota, como fez, estranhamente, logo o
presidente do país, porque isso tem a conotação de idiotice, que é forma de
deficiência mental grave, em que se tem a ideia de pura bobagem sobre algo do
que se afirma.
No caso, a idiotice teria sido pronunciada
por personalidade que é candidato a Presidência da República, o principal cargo
ocupado por quem acusa alguém de idiota, sem que haja absolutamente nada para
justificar essa maneira deselegante e até desumana de tentar denegrir a imagem
o ex-ministro, como se ele, o presidente fosse o suprassumo em tudo e estivesse
imune a qualquer suspeita, no exercício do relevante mandato.
É evidente que não se pode
qualificar o presidente da República de idiota, com a mesma acepção como talvez
ele quisesse distinguir o ex-juiz, em forma de se tentar evidenciar defeito
insanável, mas nada que o mandatário brasileiro fizer, enquanto estiver no
exercício do atual mandato, terá o condão de justificar a espúria aliança dele
com o famigerado e recriminável Centrão, grupo político que é símbolo escrachado
do recriminável fisiologismo, que tem como princípio filosófico o deplorável e odiável
sistema do “toma lá, dá cá”, que jamais poderia ser aceito, como parceiro, por
governo com o mínimo de seriedade, decência e moralidade.
Mesmo que tivesse justificado
motivo, que não é caso, porque é visível que o mal-entendido entre ambos tem causa
rixa pessoal, que deveria ter sido resolvida entre pessoas civilizadas, o
presidente do país não teria moral,
depois que colocou o Centrão dentro do Palácio do Planalto e entregou o governo
para as lideranças desse nefasto grupo político, em termos de decência comportamental,
para criticar mais ninguém, porque seria o mesmo que se dizer que o sujo fala
do mal lavado.
Essa referência à falta de decência
do presidente do país é decorrente dos compromissos da campanha eleitoral, onde
ele demonstrava ser o paladino da moralidade, tendo prometido realizar governo
imune às indecentes negociatas, mas elas se tornaram realidade e funciona na
sua gestão, como se fosse absolutamente normal, enfim, logo em enleado com o
Centrão, grupo político que era tratado por ele com distanciamento de desprezo
e ojeriza.
O então candidato se referia ao
Centrão como a “velha política”, prometendo nunca se associar a ele, juramento
político este que foi desrespeitado e quebrado, exclusivamente por força da
conveniência política, que sempre fala muito mais alto do que o caráter do
político, que muda de lugar com a mesma facilidade como as nuvens se alternam de
posição.
Esse fato da mudança de
pensamento político se caracteriza como verdadeiro calote eleitoral, praticado contra
os brasileiros honrados e dignos, porque acreditaram nas palavras do candidato
e votaram nele, exatamente porque não aguentavam mais os abusos dos governos corruptos
do passado, que não se incomodavam com a convivência inescrupulosa que o atual
governo adotou de maneira muito prazerosa, tanto que até assinou a ficha de filiação
a um dos principais partidos integrantes desse poderoso grupo político, sob a afirmação
de que sempre pertenceu ao Centrão.
Nada justifica que o presidente do
país, a título de querer se manter em evidência junto aos seus apoiadores, na
saída da sua residência oficial, fique perdendo seu precioso tempo, procurando
debochar dos sentimentos de pessoas que merecem ser tratadas com respeito e educação,
mesmo que elas não sejam da sua simpatia, como ele fez questão de demonstrar ao
se referir ao seu ex-assessor, que teria sido o principal do seu governo,
simplesmente de “cara”, quando seria muito mais elegante para ele, porque teria
evitado a sua exposição ao ridículo, que esse deprimente episódio jamais
tivesse ocorrido.
O certo é que, ao contrário do
que se pode imaginar, a atitude do presidente brasileiro, nesse episódio, somente
conspira contra a autoridade dele, por comprometer, de forma visível, a sua sensatez
no sentido de ele ter o dever de ser sempre amável, compreensível e tolerante
no exercício do cargo, tendo ainda a obrigação institucional de ser exemplo das
boas condutas sociais, em qualquer circunstância, justamente porque isso se
insere na liturgia do mandato presidencial, por exigir a permanente disponibilização
do sentimento de cortesia e educação perante a sociedade.
Enfim, ao tentar denegrir a
imagem de ex-ministro de seu governo, com adjetivação completamente dissonante
da liturgia recomendada pela boa civilidade, o presidente do país perde excelente
oportunidade para se comportar, perante o público, como o verdadeiro príncipe da
República, a quem não se permite sair da linha da pureza vernacular, por ele
ter o dever de sempre primar pelo sagrado respeito à dignidade dos cidadãos.
Convém que o presidente brasileiro
se conscientize sobre a imperiosa necessidade do respeito aos princípios da fina
educação, sobrelevando a importância do cargo exercido por ele, que exige o
alto nível de relacionamento com a sociedade, não importando nem mesmo as adversas
circunstâncias.
Brasília, em 9 de dezembro de 2021
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