quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Só questão de vontade?

 

Ainda como deputado federal, o atual presidente da República, participando de encontro, na Câmara dos Deputados, com integrantes de Ongs de defesa dos direitos humanos, fez discurso inflamado, exatamente ao seu estilo exasperado e explosivo, com direito a esculhambar todos os presentes, sem a menor cerimônia, tendo aproveitado o ensejo para condenar, em especial, a legislação pertinente ao sistema penal vigente no Brasil.

Na ocasião, o parlamentar deixou muito claro o seu pensamento sobre o sistema penal brasileiro, tendo afirmado, textualmente: “Temos uma porcaria de uma Constituição, ao que se refere aos direitos humanos. Não há pena de morte aqui. O cara não teme nada. Não há prisão perpétua. O canalha não precisa trabalhar. Fica sugando o Estado no tempo que está detido. Enquanto tiverem esta ideia de ah mataram sessenta mil. Eu queria que matasse duzentos mil vagabundos. Eu tô preocupado com os inocentes que morrem, neste momento, e não com os marginais...”.

Como se vê, trata-se de discurso muito contundente e esclarecedor, no que diz respeito ao pensamento do então parlamentar sobre medidas que ele entendia que precisavam ser implantadas para melhorar e aperfeiçoar o sistema penal brasileiro, por ele achar que os criminosos não estavam merecendo o tratamento à altura da sua maldade penal, a exemplo da pena de morte e a prisão perpétua, entre outras medidas capazes de frear o avanço da criminalidade no país.

O vídeo em referência foi gravado quando o presidente do país ainda era deputado federal, em ocasião em que ele já tinha total competência para apresentar as medidas legislativas capazes de contribuir para o saneamento das incorreções apontadas por ele como necessárias ao combate à criminalidade, com vistas ao aprimoramento do sistema penal brasileiro.

Por certo, o então parlamentar, embora demonstrasse pleno conhecimento da precariedade da legislação penal, nada fez como contribuição  nesse sentido, tendo perdido excelente oportunidade para o saneamento de questões da maior importância na área de segurança pública, tão carente de cuidados especiais, notadamente por parte de quem mostrava ter domínio dos gravíssimos problemas dessa área especializada.

 Exatamente agora, neste momento especial, o presidente da República tem as melhores condições para adotar todas as medidas pertinentes ao aperfeiçoamento e à modernização do sistema penal brasileiro, a começar da competência para determinar a composição de grupo de trabalho especial destinado exclusivamente ao levantamento de todas as questões relacionadas com a segurança da sociedade, compreendendo, mais precisamente, a atualização do sistema penal brasileiro, tão criticado por ele, de modo a se cuidar adequadamente da legislação completa sobre o tema que tanto aflige os brasileiros, que é a banalização da criminalidade.

Entre o discurso e a prática, o perfil do presidente não deixa a menor dúvida de que ele é verdadeiro gênio na identificação de problemas graves, em especial no que diz respeito à criminalidade, tendo a maior facilidade para apontar falhas até na Constituição, como verdadeira metralhadora giratória, que é da sua peculiaridade.

Não obstante, os fatos mostram a enorme deficiência do presidente quanto à iniciativa de medidas adequadas e efetivas pertinentes às suas inquietações, fato este que conspira contra a suprema autoridade dele, que se destaca como conhecedor dos problemas de segurança pública, mas não consegue transformar as suas ideias e experiências em medidas concretas, em proveito da sociedade.      

A verdade é que o poderoso homem do Palácio do Planalto demonstra que só tem contundente e incisivo discurso, mas se depara com enormes dificuldades para aproveitar seus conhecimentos em iniciativas capazes de materializá-los em benefício para a sociedade, notadamente porque agora ele tem plenos poderes e todos os trunfos nas mãos, para o empreendimento das medidas necessárias ao aperfeiçoamento da legislação penal, que realmente tem sido estorvo para o verdadeiro combate à criminalidade.

Ou seja, no presente momento, o presidente do país só não faz o que precisa ser realizado para modernizar o sistema penal porque não quer ou não tem competência para resolver questão da maior importância que ele demonstrou que conhece com profundidade e ainda reconhece a imperiosa necessidade das medidas pertinentes no combate à criminalidade, porque elas estão na sua área de competência constitucional.

Também na área de segurança pública, o presidente demonstra ter atuação pífia no seu governo, justamente por ele ser especialista do setor, em razão da sua larga experiência como ex-militar e ex-parlamentar, que, se ele quisesse e tivesse vontade política, poderia prestar enorme contribuição ao Brasil, por meio do aprimoramento da legislação penal, porque isso estaria apenas em consonância com o seu dever constitucional de zelar pela melhoria da qualidade  de vida dos brasileiros, em forma da garantia de maior segurança pública, por meio da criação de medidas preventivas contra a criminalidade.

Convém que se registre o grito de alerta ao presidente da República, no sentido de que ele consiga enxergar a gritante letargia que domina o seu governo, notadamente na área de segurança pública, em especial no que diz respeito à urgente e à necessária reforma do sistema penal brasileiro, com vistas à modernização da legislação pertinente, de modo que o combate à criminalidade seja possível com a implementação de regras jurídicas eficientes e capazes de punir com severidade os atos delituosos.

Brasília, em 8 de dezembro de 2021

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