A atuação do ex-chefe da Casa Civil do governo
anterior, exposta em documentos oficiais do Palácio do Planalto, confirma a
denúncia do procurador-geral da República de que o mensalão era operado no
coração do governo, segundo líderes de partidos de oposição na Câmara e no
Senado. As correspondências confidenciais, bilhetes manuscritos e ofícios
cedidos ao jornal O Estadão, com base
na Lei de Acesso à Informação, revelam evidente troca de favores entre governo
e aliados, negociações de cargos na administração pública por indicações
políticas e ações que mostram o poder do então ministro, em contraste à sua
defesa no processo do Supremo Tribunal Federal de que ele não tratava de
assuntos partidários. Somente no primeiro ano de governo, foram mais de cem
ofícios tratando da ocupação de cargos públicos por partidos aliados,
indicações de bancadas, nomeações e currículos para os mais variados cargos
federais. A troca de favores entre o Planalto e os partidos aliados era normal
e comum, tendo por objetivos assegurar apoio à base de sustentação do governo. Alguns
líderes afirmaram que aquelas revelações comprovam a acusação do delator do
mensalão de que o ex-presidente da República tinha conhecimento de todas as
iniciativas do ministro e que este era o operador do maior escândalo da
história política brasileira, ou seja, quem comandava era o presidente, mas o
ministro operacionalizava o que já tinha sido acertado previamente. Nessa história
carregada de sujeira e nebulosidades, não existiu um inocente sequer, porque
todos tinham interesse nas operações irregulares. O operador do processo era o
ministro, que agia sob o aval do seu comandante, o principal beneficiário das
negociatas, conforme revelam os fatos confirmando o esquema montado com o objetivo
de tomar o poder e de se perpetuar nele a qualquer preço, quer por troca de
cargos, por dinheiro, por mensalão ou por outros meios e aparatos que não
condizem com os princípios éticos e morais. O mensalão funcionava
tranquilamente não só no coração, mas também no cérebro do poder, sem cerimônia
e com toda maestria de grandes estrategistas no ramo das negociatas e do
fisiologismo político. A consolidação das relações entre o governo e os aliados
se fazia à base de facilitações envolvendo os cofres públicos e a administração
pública, cujos órgãos foram loteados entre os partidos da coalizão, de onde se
originaram a “plêiade” de corruptos e de aproveitadores do dinheiro dos
contribuintes, segundo mostram os escândalos eclodidos de forma sucessiva.
Convém que a sociedade se conscientize agora, à luz também e principalmente das
robustas provas da corrupção mostradas pelo Supremo Tribunal Federal, de que
mentiras e leviandades foram instrumento mesquinho, porém poderoso, utilizado
pelo governo, para acobertar e justificar improbidades, negociatas com cargos e
recursos públicos, falcatruas e práticas indecorosas, contrárias aos princípios
republicanos e democráticos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR
FERNANDES
Brasília,
em 30 de agosto de 2012