terça-feira, 25 de novembro de 2014

Adianta a blindagem?

       Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo.". Abraham Lincoln.
Em razão dos escândalos objeto da Operação Lava-Jato, o PT e o governo redobraram os esforços para tirar os holofotes de possíveis investigações sobre a presidente da República, de modo que ela fique fora do olho do furacão que aterroriza, já há bastante tempo, o Palácio do Planalto, enquanto os partidos de oposição estão fazendo o máximo para incluir nas apurações não somente o governo dela, mas também o PT, para que os fatos sejam devidamente esclarecidos, com a devida transparência e a responsabilização dos envolvidos, que certamente teriam sido beneficiados com o dinheiro suja da roubalheira e não é justo que eles fiquem à margem do processo de reparação dos prejuízos causados à Petrobras.
Além do mais, este é o momento propício para que o país seja, finalmente, passado a limpo e essa assepsia não pode excluir nem pessoas nem partidos que fizeram a farra com o desvio criminoso de dinheiro público, em detrimento do interesse nacional.
Pelo menos nos depoimentos do ex-diretor da estatal à Justiça, foi dito que o partido do governo e outros partidos aliados dele são os principais e potenciais beneficiários do esquema criminoso montado com a finalidade de abastecimento de seus caixas, para custear as companhas eleitorais, cujas irregularidades precisam ser apuradas, de forma transparente, como imprescindível prestação de contas à sociedade sobre a legitimidade ou não das atividades político-administrativas, em obediência aos princípios de razoabilidade e civilidade, que se impõem na atual fase de amadurecimento político. 
Há de notar que as investigações sob os cuidados da operação em comento começaram sem maiores pretensões, tendo por objetivo se apurar apenas um ou outro caso de lavagem de dinheiro a partir do doleiro que se encontra preso e prestando depoimentos em consonância com o acordo de delação premiada, tendo evoluído de tamanho com a inclusão do ex-diretor da Petrobras, que foi o primeiro a abrir o verbo entregando meio mundo da casta política dominante, encastelado no PT, PMDB e PP, que teriam se beneficiado das gordas e bilionárias quantias de recursos desviados de contratos pertinentes à aquisição e construção de refinarias.
Depois desses fatos, a vida de importantes políticos se transformou num verdadeiro martírio, por ter sido infernizada pela inclusão de nomes de autoridades na lista negra do ex-diretor, responsável pela arrecadação e distribuição dos valores entregues aos políticos do PT. 
A roubalheira tomou gigantesca dimensão, envolvendo bilhões de reais e a revelação de rombo incalculável, por haver enorme pulverização de recursos para partidos políticos e intermediários, que amealharam muito dinheiro, que se destinava, no princípio, ao financiamento de campanhas eleitorais, mas a lesão aos cofres da estatal foi ampliada para abranger também os intermediários.       Diante disso, somente um ex-gerente da Petrobras se comprometeu a devolver à empresa o valor de US$ 97 milhões, equivalente a aproximadamente R$ 250 milhões, que representa quase cinco vezes o valor identificado no escândalo do mensalão, que teria sido o princípio da roubalheira do governo que se dizia ético. 
O fato é que a oposição faça o movimento que quiser ou o governo o que puder para  arrastar alguém para dentro da fogueira ou para livrar-se dela, mas já não há mais dúvida de que a Operação Lava Jato ganhou pernas próprias, segue dinâmica própria e age com desenvoltura e autonomia que não adianta mais o estrebuchamento do governo nem do PT, porque, ao seu rastro, vai ficando estrago jamais imaginado, muitas cabeças vão rolar e muitos políticos vão pagar por terem sido beneficiários do esquema criminoso.
É inacreditável como caso tão rumoroso como o da Petrobras, que foi capaz de desviar incalculável e expressiva quantidade de recursos da empresa, para o abastecimento de caixa de partidos do governo e de aliados seus, tudo em flagrante afronta aos princípios da moralidade, dignidade e honorabilidade, não tenha ainda sido capaz de mexer com as estruturas da República, cuja classe dominante foi fartamente beneficiada com recursos desviados.
Esses fatos horrorosos, de dilapidação do patrimônio da sociedade, seriam capazes de causar, até mesmo numa republiqueta, que pouco preza os princípios da probidade administrativa, o afastamento do presidente da República, seus asseclas até o porteiro do palácio presidencial, mas, no país tupiniquim, ninguém dos altos escalões da República foi arrolado como envolvido, embora o ex-diretor da estatal e delator já tenha mencionado nomes de altas autoridades.
O governo deve está "tranquilíssimo", no dizer do vice-presidente da República, embora haja fortes motivos para se preocupar e muito com o rolo compressor manuseado pelas investigações da Operação Lava Jato, por não envolverem, por enquanto, os verdadeiros culpados, que são, na forma das acusações dos delatores da delação premiada, também a classe política dominante, que até agora se vangloria pelo fato de ainda não ter sido inserida no redemoinho que vem incomodando corruptos e corruptores não políticos.
O PT e o governo não precisam temer o envolvimento da presidente do país nesse rumoroso caso de corrupção, porque, de forma impressionante, seus eleitores acreditam piamente na inocência dela, apesar de que não se pode olvidar sobre a participação dela na compra da sucateada refinaria de Pasadena, no Texas, por estapafúrdio preço ainda não esclarecido, quanto ela era presidente do Conselho de Administração da estatal.
No meio dessa guerra ensaiada entre governistas e oposição, tem a palavra da presidente do país, que garante ter agido com absoluta lisura e transparência, ao afirmar que manda apurar e punir os corruptos, mas não há nenhum resultado quanto às medidas por ela adotadas e a sua base de sustentação no Congresso Nacional – petistas e aliados – simplesmente paralisou as investigações a cargo de duas Comissões Parlamentares de Inquérito, dando clara demonstração de que a tão falada transparência presidencial não passa de falácia, porquanto, se não houvesse dúvida quanto o envolvimento da classe política dominante nos escândalos do petrolão, as investigações já teriam sido concluídas há bastante tempo, porque o prazo de vigência delas já se exauriu e nenhum resultado foi apresentado, dando a entender que a sujeira foi jogada para debaixo dos enormes tapetes palacianos, com a magistral ajuda da presidente, que não moveu um uma palha para pedir seriedade e agilidade à sua bancada no Congresso, para efetivar as investigações, que não passaram de vergonhoso processo de embromação, desde a instalação das citadas comissões até o presente momento.
Também ficou muito feio para o governo, que fez eternos discursos de cunho moralizador, mas o partido da presidente blindou a quebra de sigilo dos envolvidos, inclusive do tesoureiro do PT, que é acusado de ser o operador dos recursos do partido, fato que contraria o antigo adágio segundo o qual quem não deve não teme, mas isso não foi sequer esboçado, como forma de viabilizar a comprovação da inocência dos acusados, dando a impressão de que o discurso é somente da boca para fora, para que, na prática, os fatos continuem no esquecimento, sem a devida punição para aqueles que deram causa à roubalheira e se beneficiaram dos recursos desviados.
Nunca na história desta nação, um fato vergonhoso precisa tanto ser esmiuçado e devidamente esclarecido como esse do petrolão, para que as vísceras da indignidade com recursos públicos sejam mostradas à nação, de modo que os eleitores que não tiveram a conscientização sobre a desonestidade na administração do país passem a acreditar na pouca-vergonha de muitos políticos, que menosprezam os princípios da dignidade e da honestidade.
Convém que o terrível e indigno segredo da caixa-preta iniciado com o mensalão e continuado com o petrolão seja violado e escancarado de vez, para que a sordidez na administração pública tenha termo em definitivo e os negócios do Estado passem por verdadeiro divisor de águas, com a substituição da sujeira, da podridão, por líquido filtrado, límpido e imune a impurezas, pois a grandeza do Brasil não merece continuar sendo ultrajada por inescrupulosos grupelhos de políticos que imaginaram a dominação do país com estratégia e tática maquiavélicas, com o emprego da sangria dos princípios da ética, do decoro, da probidade, da moralidade, da legalidade, da economicidade e da transparência, como forma de absoluta dominação e de perpetuação no poder. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de novembro de 2014

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