domingo, 23 de novembro de 2014

O pensamento da prepotência

Causa enorme perplexidade se verificar, neste país, que a verdade somente prevalece para um lado, que se acha sempre no direito de ter a certeza de que as outras pessoas pensam com o umbigo, embora os fatos sejam claros demais para serem interpretados com racionalidade, a exemplo da pretensão do PT, que resolveu priorizar a regulação da mídia, no próximo ano.
É sabido que a Executiva do PT tem uma opinião e a presidente do país tem a dela, que é completamente diferente, por ter deixado claro que a regulação da mídia não deve ultrapassar os limites das questões econômicas, mas a ala truculenta de seu partido pensa exatamente como um parlamentar cearense do PT, que, com indignação e prepotência, disse, conforme vídeo que circula na internet, in verbis: “Porque a mídia não pode ser partido político. E, passadas as eleições, nós do PT vamos tomar medidas, quer queira, quer não queira. É a regulamentação da questão da comunicação do país. Vamos ter que enfrentar esse debate, porque foi além do limite. Não é a primeira vez, mas bateu é... Foi além do limite. É isto que estou dizendo. Nós precisamos reagir a essa ação orquestrada, às vésperas das eleições, que têm como único objetivo prejudicar o PT. O Lula pertence ao patrimônio da democracia brasileira. Criminalizar o Lula é criminalizar a democracia brasileira. Criminalizar o PT. Portanto, nós temos que reagir à altura a esta ação da elite brasileira de ser da mídia, que quer interditar o projeto vitorioso do PT”.
É muito importante se saber dos fiéis defensores da regulação da mídia o que significa realmente "reagir à altura"? Ao que o texto acima deixa transparecer, de forma translúcida, que não se trata, em absoluto, de regulação de situações econômicas, mas sim de medida restritiva, que permita pôr rédeas aos meios de comunicações, que poderiam ficar proibidos de mencionar e publicar as precariedades e as irregularidades da administração pública, sob pena de terem suas portas fechadas, como fizeram os “simpáticos” hermanos países socialistas, que passaram a inventar novidades sobre a culinária de seus países.
Não há dúvida de que, quando alguém insinua ou mesmo ameaça que vai reagir à altura é porque tenciona revidar de forma truculenta ou irracional, procedimento que não condiz com os salutares princípios democrático e de civilidade.
Nos países desenvolvidos, as questões consideradas incomuns ou ofensivas à dignidade das pessoas ou dos princípios constitucionais e legais são normalmente resolvidas, caso a caso, na Justiça, sem envolver os direitos da sociedade, que não podem ficar prejudicados por querelas pessoais ou partidárias.
Os verdadeiros brasileiros deveriam se conscientizar sobre a necessidade de deixar que os próprios partidos políticos defendam seus interesses, porquanto não pode existir responsabilidade maior do que as causas nacionais, que dependem, sobretudo, do melhor pensamento de todos, como forma de contribuir para o progresso do país.
O ideal é que houvesse regulamentação de tudo que fosse para a melhoria das condições de vida dos brasileiros, desde que não tivesse influência ou reflexos nos direitos humanos, na liberdade de imprensa, nas limitações das liberdades individuais e nos princípios democrático e civilizatório, porque esses são os verdadeiros alicerces que contribuem para sedimentar o desenvolvimento de uma nação.
Os brasileiros precisam perseguir, de forma persistente, os princípios da evolução da humanidade, para o salutar acompanhamento da modernidade, onde possa haver valorização e respeito aos direitos humanos e à manutenção das conquistas do ser humano, como forma de contribuir para o sadio crescimento da sociedade.
Caso qualquer órgão de imprensa ou pessoa tenha ultrapassado os limites de razoabilidade sobre a realidade dos fatos, isso é motivo simplesmente de demanda judicial, não havendo a menor necessidade de regulação de coisa alguma, muito menos no caso da mídia, com o propósito de enquadrá-la, como fizeram os países socialistas da América Latina, porém com viés muito claro sobre a restrição da liberdade de imprensa.
Infelizmente, se verifica que, tanto lá como aqui, ainda existe quem defende essa forma retrógrada de controle da mídia, mas apenas como forma de satisfação de conveniência estrategicamente política do que administrativa da nação, que sobrepõe quaisquer interesses, a exemplo do que acontece nas nações desenvolvidas, onde as atividades político-administrativas existem exclusivamente em função do interesse público, contrariamente ao que se encontra convencionado nas republiquetas, onde os políticos imaginam que são donos do Estado e tudo deve funcionar sob a sua órbita e em satisfação de seus caprichos e interesses.
A presente situação política brasileira se encaixa com perfeição num contexto em que cada pessoa pensa com a mentalidade que imagina possuir, com a inteligência superior para concluir que seu modo de interpretar os fatos é único e capaz de ser o melhor para o país, mesmo que isso possa evidenciar desprezo à sensibilidade de outrem.
Os brasileiros ainda estão longe de poder interpretar os fatos do dia a dia como fazem os povos dos países desenvolvidos cultural, social, econômico, político e democraticamente, que aproveitam as atividades político-administrativas, em razão do envolvimento de recursos públicos, para a formulação e a construção de medidas capazes de contribuir para o progresso da sociedade, não ficando perdendo tempo com regulação de matéria que não sejam prioritárias para a sociedade.
 No caso do país tupiniquim, à toda evidência, há terríveis crises em setores importantes, como a economia, a segurança pública, a saúde pública, o ensino público, o saneamento básico, a infraestrutura, o atraso por falta de prementes reformas das estruturas do Estado e tantas mazelas que contribuem para a estagnação do seu crescimento, mas o partido do governo houve por bem eleger como tema prioritário, para discussão em 2015, no Congresso Nacional, justamente a regulação da mídia, em claro detrimento das questões essenciais do país.
Para um pouco mais da metade dos eleitores brasileiros, isso até pode ser considerado normal, mas o bom-senso e a razoabilidade acenam visivelmente para enorme insensibilidade política e completo desprezo às verdadeiras prioridades da nação e do seu povo, o que demonstra o tamanho do nível da capacidade de nossos representantes políticos e dos eleitores que os elegeram. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de novembro de 2014

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