segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Restabelecimento da dignidade do Parlamento

Em apenas dois depois da reeleição da presidente da República, a Câmara dos Deputados derrubou o famigerado e detestável decreto presidencial que estabelece a consulta a conselhos populares por órgãos e entidades do governo, antes de decisões sobre a implementação de políticas públicas.
Ressalte-se que conselhos populares são forma de colegiados, ou corpos deliberativos, que foram teorizados e materializados inicialmente na Revolução Russa de 1905, embora seu esboço, como organização, tenha surgido durante a Comuna de Paris, os quais eram constituídos de operários ou membros da classe trabalhadora, responsáveis pela regulação e organização da produção material de determinado território ou indústria, ou seja, o petismo pretende ressuscitar, no Brasil, os abomináveis e ultrapassados sovietes.
A rejeição à medida adotada pela petista contabiliza a primeira derrota do Palácio do Planalto no Congresso Nacional após as tumultuadas eleições, por haver suspeitas de graves fraudes no processo eleitoral, à vista da podridão que impera na administração do país, cujo governo não admite perder as regalias do poder.
Os parlamentares apenas cumpriram a sua obrigação constitucional de não permitir validade a uma aberração no regramento jurídico brasileiro, eis que o decreto sofreu críticas da sociedade, de órgãos de classe, principalmente do mundo jurídico e da oposição, desde que foi editado pelo Palácio do Planalto, por instituir, no âmbito palaciano e não no do Congresso Nacional, Política Nacional de Participação Social (PNPS), consistente na determinava aos órgãos do governo para observarem os mecanismos para a consolidação "da participação popular como método de governo", possibilitando que os conselhos deveriam ser ouvidos “na formulação, na execução, no monitoramento e na avaliação de programas e políticas públicas e no aprimoramento da gestão pública”.
Trata-se, fora de dúvida, da tentativa de o governo, via decreto, instituir, como já vem sendo feito em diversos órgãos e entidades públicos, agora com maior intensidade, o aparelhamento político da administração pública, promovendo ao mesmo tempo a diminuição do importante papel institucional do Parlamento de fiscalização do Poder Executivo.
Induvidosamente, o espúrio e esdrúxulo decreto presidencial nada mais é do que a forma ditatorial e autoritária de atropelar e esmagar os poderes constitucionais do Congresso Nacional, tornando letra morta a sua competência de legislar.
O presidente do Senado Federal, com o propósito de manter a dignidade do Parlamento, já afirmou que o indecente decreto também será derrubado na Câmara Alta, porque “Já havia um quadro de insatisfação com relação a essa matéria (antes das eleições). Ela ser derrubada na Câmara não surpreendeu, da mesma forma que não surpreenderá se ela for e será derrubada no Senado Federal”.
Já o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República qualificou a derrota na Câmara Federal de revanche por causa do resultado da eleição, tendo afirmado que “É uma vitória de Pirro, quando o Congresso, de maneira persistente, insistente, acabou criando um decreto legislativo que derrota o decreto da presidente. Nada mais anacrônico, contra os ventos da história, nada mais do que uma tentativa triste de se colocar contra uma vontade irreversível do povo brasileiro, que é de participação. Esse decreto mexia tão pouco nas estruturas. (A decisão da Câmara) É uma vitória que não significa nada a não ser a vontade conservadora de impor uma derrota politica à presidente, mas uma derrota que não nos abate”.
A fala do ministro deixa muito clara a prepotência do governo, que entende ser o dono da razão, mesmo quando derrotado pela consciência dos lídimos representantes do povo, por procurar desqualificar a decisão como algo anacrônico, quando, na verdade, nada mais ultrapassado e vergonhoso seria a implantação dos conselhos populares, com viés exclusivamente de cunho socialista, com propósito esdrúxulo de aparelhamento cada vez mais da administração pública, que já desmoronou completamente, por sua deficiência na prestação dos serviços públicos à sociedade.
Na verdade, o decreto que criou os conselhos populares nada mais é do que monstrinho jurídico parido pelo Palácio do Planalto, em clara demonstração da inutilidade do Parlamento, que tem a função privativa, nos termos da Carta Magna, de legislar sobre os interesses nacionais.
A conduta palaciana atropela os princípios de civilidade e racionalidade que se impõem no Estado Democrático de Direito, onde os Poderes são autônomos e independentes, não podendo nenhum deles interferir na competência privativa dos outros, sob pena de haver clara usurpação da autoridade republicana, como no caso da criação dos conselhos populares, por medida presidencial, que se coaduna mais propriamente com os tiranos e ditadores de republiquetas, que atropelam os princípios democráticos com atos absurdos e ainda os classificam de instrumento da vontade irreversível da população, que nada mais é do que a representação dos correligionários que apoiam o governo desacreditado e desmoralizado pelo mar da corrupção que abate a administração pública.
Os parlamentares que contribuíram para mandar para o arquivo, de onde ele não deveria ter saído o espúrio decreto que apequenava e envergonhava a democracia brasileira e a autonomia do Congresso Nacional, mostraram a dignidade que o povo espera deles, por não permitirem que o indesejado bolivarianismo seja implantado às claras e de vez na República brasileira, que ainda tem parlamentares com vergonha na cara e consciência da sua responsabilidade, que valorizam os princípios democráticos da participação popular exclusivamente por intermédio do Parlamento.
Espera-se que os senadores também entendam que a expressiva minoria dos brasileiros é contra essa excrescência da criação de conselhos populares por decreto presidencial, em verdadeira afronta à autonomia do Congresso Nacional.
O Brasil precisa, com urgência, se aperfeiçoar e se modernizar, em consonância com a evolução da humanidade, e não regredir às feições das republiquetas tiranas e ditatoriais, onde o aparelhamento do Estado funciona como modelo de atraso e de subdesenvolvimento social, político, econômico, cultural e democrático, que não se coaduna com o nosso país, que tem premência para avançar por meio do aprimoramento do seu arcabouço jurídico, de competência exclusiva do Parlamento.
Com certeza, os brasileiros, honrados e conscientes sobre a necessidade da urgente moralização da administração pública, torcem para que o Parlamento continue cumprindo com dignidade e responsabilidade sua nobre e importante missão, com sede na competência constitucional, de legislar em benefício da sociedade, não permitindo que essa relevante função seja poluída por ações retrógradas e contrárias ao interesse público e ao desenvolvimento nacional. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 02 de novembro de 2014

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