segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Traição aos eleitores?

A presidente da República não perdeu tempo para trair seus eleitores, ao anunciar, logo após a eleição, o aumento das taxas de juros, a par de lembrar à nação que estava disposta a “fazer a lição de casa”, com a sinalização ainda de que estaria com a mão na massa para cortar gastos públicos, tendo por meta o controle da inflação.
Para não ficar somente na alta dos juros, o governo também foi eficiente no aumento do preço da gasolina, que estava represado há algum tempo, mas a sua liberação somente foi viabilizada depois da eleição, como verdadeiro presente de grego para a sociedade.
Enquanto ela tratava de subir as taxas de juros, acenava para possível necessidade de contemplar o mercado, como forma de estímulo aos investimentos, com o que estaria mais uma vez traindo seus eleitores, por serem medidas contrárias ao seu discurso de campanha, mediante o qual ela criticava os programas de governo de seus opositores, que sinalizavam exatamente nessa linha de valorização e de credibilidade do mercado.  
A questão não é a realização dos “ajustes”, mediante o corte de gastos e o que ela chamou de “fazer a lição de casa”, que, à toda evidência, são indispensáveis, para que não haja tanto desequilíbrio das contas do país, mas não se justifica que a presidente brasileira seja incoerente quanto às condutas de campanha e dela agora, quando, à época, ela sinalizava apenas para a bonança da situação econômica, quando os indicadores já mostravam a precariedade, que exigiam as devidas correções bem antes da campanha eleitoral, mas isso não foi promovido simplesmente para não prejudicar o desempenho da reeleição, deixando clara a disposição do governo de não ser fiel àqueles que acreditaram no discurso apenas eleitoreiro, com viés de pura enganação.
Aos eleitores que votaram na presidente do país sem terem a menor noção do que significa o aumento das taxas de juros, que são uma das maiores do mundo, essa medida tem enorme reflexo no pagamento dos juros aos bancos e instituições financeiras, em razão das dívidas públicas, cujos valores compromissados com essa despesa equivalem a 10 vezes o valor aprovado para a execução do programa Bolsa Família.
A única maneira de se evitar que o representante do povo traia os eleitores, ao fazer algo diferente do prometido ou discutido em campanha, é apelar para a conscientização da sociedade sobre a necessidade de urgente reforma da legislação que cuida da ética política, para se estabelecer que o homem público seja obrigado a seguir fielmente o seu compromisso de campanha, onde não conste omissão ou programa que não corresponda exatamente à realidade da administração pública, sob pena de ele ser submetido a processo de impeachment sempre e logo após cair em contradição com seu programa de governo apresentado na campanha, pela inequívoca evidência da quebra da ética e do decoro perante seu eleitorado.
Enquanto as normas eleitorais continuarem vigendo de forma arcaica e obsoleta, comparável ao anacronismo das republiquetas, onde os homens públicos não estejam obrigados aos manuais de ética político-administrativos, certamente que eles continuarão desrespeitando solenemente a dignidade dos ingênuos eleitores, que votam na vã esperança de que as promessas de campanha são realmente para valer, mas elas somente resistem a alguns dias do fechamento das urnas, como visto no caso em comento.
Diante da evidente comprovação da falta de coerência dos candidatos, que faltam com a verdade depois de eleitos, compete ao povo exigir a urgente reformulação dos sistemas partidário e eleitoral, para o seu aperfeiçoamento e a sua modernização, de modo que eles estabeleçam critérios de seriedade e credibilidade para a representatividade político-administrativa, proibindo que os eleitores sejam traídos após a campanha eleitoral, mediante ajustes de surpresa, contrários às promessas dos candidatos, sob pena de responderam por crime de fraude eleitoral. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 23 de novembro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário