A presidente da República não perdeu tempo para
trair seus eleitores, ao anunciar, logo após a eleição, o aumento das taxas de
juros, a par de lembrar à nação que estava disposta a “fazer a lição de casa”, com a sinalização ainda de que estaria com
a mão na massa para cortar gastos públicos, tendo por meta o controle da
inflação.
Para não ficar somente na alta dos juros, o governo
também foi eficiente no aumento do preço da gasolina, que estava represado há
algum tempo, mas a sua liberação somente foi viabilizada depois da eleição,
como verdadeiro presente de grego para a sociedade.
Enquanto ela tratava de subir as taxas de juros,
acenava para possível necessidade de contemplar o mercado, como forma de
estímulo aos investimentos, com o que estaria mais uma vez traindo seus
eleitores, por serem medidas contrárias ao seu discurso de campanha, mediante o
qual ela criticava os programas de governo de seus opositores, que sinalizavam
exatamente nessa linha de valorização e de credibilidade do mercado.
A questão não é a realização dos “ajustes”,
mediante o corte de gastos e o que ela chamou de “fazer a lição de casa”, que,
à toda evidência, são indispensáveis, para que não haja tanto desequilíbrio das
contas do país, mas não se justifica que a presidente brasileira seja
incoerente quanto às condutas de campanha e dela agora, quando, à época, ela sinalizava
apenas para a bonança da situação econômica, quando os indicadores já mostravam
a precariedade, que exigiam as devidas correções bem antes da campanha
eleitoral, mas isso não foi promovido simplesmente para não prejudicar o
desempenho da reeleição, deixando clara a disposição do governo de não ser fiel
àqueles que acreditaram no discurso apenas eleitoreiro, com viés de pura
enganação.
Aos eleitores que votaram na presidente do país sem
terem a menor noção do que significa o aumento das taxas de juros, que são uma
das maiores do mundo, essa medida tem enorme reflexo no pagamento dos juros aos
bancos e instituições financeiras, em razão das dívidas públicas, cujos valores
compromissados com essa despesa equivalem a 10 vezes o valor aprovado para a
execução do programa Bolsa Família.
A única maneira de se evitar que o representante do
povo traia os eleitores, ao fazer algo diferente do prometido ou discutido em
campanha, é apelar para a conscientização da sociedade sobre a necessidade de urgente
reforma da legislação que cuida da ética política, para se estabelecer que o
homem público seja obrigado a seguir fielmente o seu compromisso de campanha,
onde não conste omissão ou programa que não corresponda exatamente à realidade da
administração pública, sob pena de ele ser submetido a processo de impeachment
sempre e logo após cair em contradição com seu programa de governo apresentado na
campanha, pela inequívoca evidência da quebra da ética e do decoro perante seu
eleitorado.
Enquanto as normas eleitorais continuarem vigendo
de forma arcaica e obsoleta, comparável ao anacronismo das republiquetas, onde os
homens públicos não estejam obrigados aos manuais de ética
político-administrativos, certamente que eles continuarão desrespeitando
solenemente a dignidade dos ingênuos eleitores, que votam na vã esperança de que
as promessas de campanha são realmente para valer, mas elas somente resistem a
alguns dias do fechamento das urnas, como visto no caso em comento.
Diante da evidente comprovação da falta de
coerência dos candidatos, que faltam com a verdade depois de eleitos, compete ao
povo exigir a urgente reformulação dos sistemas partidário e eleitoral, para o
seu aperfeiçoamento e a sua modernização, de modo que eles estabeleçam critérios
de seriedade e credibilidade para a representatividade político-administrativa,
proibindo que os eleitores sejam traídos após a campanha eleitoral, mediante
ajustes de surpresa, contrários às promessas dos candidatos, sob pena de
responderam por crime de fraude eleitoral. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
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