segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Desaprovação com consciência

O demissionário ministro da Fazenda disse que estava feliz com o resultado das urnas e com a reeleição da presidente do país, por entender que, com o fim da disputa eleitoral, tudo fica mais fácil e que, após o pleito, há o fim da paixão e a volta da racionalidade: "Isso (o resultado das urnas) mostra que a população está aprovando as políticas que estamos praticando".
O ministro disse que a própria discussão econômica fica mais exacerbada durante a eleição e que os pessimistas ficam mais pessimistas e, os otimistas, mais otimistas: "Terminada a eleição, esse cenário tende a se acalmar. Já há uma volta do otimismo da economia". Ele apresentou números para argumentar que está aumentando o otimismo na economia brasileira, afirmando que "O Datafolha da semana passada indicava que o brasileiro está ficando mais otimista com a economia. É uma pesquisa eleitoral. Em plena eleição foi detectada melhora do humor do brasileiro".
É risível que o ministro ficando, que teve, pelo menos no atual governo, quatro anos para pôr a economia nos rumos do progresso, mas não o fez, vir a público, agora, quando ele se encontra apenas limpando as gavetas da sua pasta, reconhecer que "Temos que fortalecer as empresas brasileiras e estimular o mercado de capitais. Temos também que manter o sistema financeiro sólido, que financia a expansão da economia e do consumo. É prioridade manter a inflação sob controle, continuar gerando empregos e manter o mercado interno em expansão. Para aumentar empregos no país, tem que manter estímulo ao investimento. Temos que criar condições para que o investimento continue crescendo no país".
É inacreditável que ele não tenha conseguido, na sua gestão, pôr em prática as aludidas medidas, como forma de melhorar, sob o seu prisma de visão, o desempenho econômico, que, na verdade, ficou muito a desejar e a sua saída, por certo, não deixará saudades, ante os ridículos resultados dos indicadores econômicos, que poderiam ter sido bem melhores se ele tivesse um pouco de atrevimento para reformular as políticas econômicas, que não ultrapassaram as barreiras do comodismo e da mesmice, em franco descompasso com a evolução econômica do resto do mundo, que vem apresentando crescimento razoável.
O ficando ministro da Fazenda foi muito impreciso, por ter afirmado que a população está aprovando as políticas praticadas pelo governo, quando, na realidade, ele poderia ter a decência de dizer que somente um pouco mais da metade dos eleitores brasileiros, que pouco ou nada entende de economia ou de coisa alguma, aprovou a mediocridade da condução da economia, à vista do seu péssimo desempenho, confirmado pelo resultado do Produto Interno Bruto, que deverá crescer próximo de zero, este ano, com grandes possibilidades para que esse desastrado resultado tenha enorme repercussão e influencie a diminuição do emprego, a redução da renda dos brasileiros, a drástica queda da arrecadação tributária, a desindustrialização e principalmente a falta de investimentos público e privado, comprometendo seriamente os instrumentos capazes de contribuir para o desenvolvimento da nação.
É de se lastimar que o ministro da Fazenda tenha a indelicadeza de dizer que o povo aprova as ações do governo, por haver nisso imperdoável desprezo à inteligência dos cidadãos que se manifestaram nas urnas, representando quase a metade dos eleitores, com muita consciência e responsabilidade sobre a desaprovação da administração do país, não somente quanto às políticas econômicas, mas acerca das demais precariedades e deficiências que estão contribuindo, de forma efetiva, para o subdesenvolvimento do país, a exemplo da péssima prestação dos serviços públicos, do inchamento da máquina pública, das coalizões espúrias com partidos com viés nitidamente fisiologista, do distanciamento das nações desenvolvidas e da aproximação de nações socialistas, da resistência às reformas tributária, previdenciária, administrativa, trabalhista, política e outras de fundamental importância para o progresso que ficou emperrado nas promessas de campanha e jamais serão atendidas, por não terem sido sequer iniciadas nesses últimos doze anos de governo.
Urge que a sociedade repudie, com veemência, as afirmações nada realistas de políticos que têm visão apenas moldada às suas conveniências pessoais ou partidárias, em detrimento dos interesses da população e do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de novembro de 2014

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