sábado, 15 de novembro de 2014

Quebrando o país?

O ex-presidente da República tucano fez duras críticas à presidente da República, à vista do envio ao Congresso Nacional do projeto de lei com a finalidade de tentar driblar a meta fiscal, tendo dito, na ocasião, que "A Dilma falou que eu quebrei o país três vezes. Não sei quando. Agora é ela quem está quebrando (o país)".
O tucano, além de rebater uma das maiores críticas da então candidata petista, na campanha presidencial, ironizou a iniciativa do governo, afirmando que nem mesmo o rei Pelé conseguiria driblar a meta fiscal: "É um drible que não dá certo. Vai mostrar a incompetência de bem gerir a economia do Brasil. É um gol contra. Não tem sentido.".
O ex-presidente tucano declarou que a situação do país é difícil e o governo da presidente petista não tem como cumprir o superávit fiscal, sugerindo: "E devem reconhecer". Ele disse ainda que "Vejo risco para a economia, pior a emenda do que o soneto.". Respondendo sobre indagação sobre as críticas que seu partido vem fazendo à presidente reeleita, de que ela teria cometido estelionatos eleitorais após a vitória, ele retrucou: "São tantos estelionatos eleitorais.".
Não há a menor dúvida de que o aludido projeto tem sido severamente criticado não somente pela oposição, mas, sobretudo, pela sociedade em geral, entendida ou não de economia e contas públicas, uma vez que ele representa o reconhecimento da incompetência do governo para administrar a meta fiscal, prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, fato que contraria as afirmações da presidente, na campanha eleitoral, de que a gestão pública se encontrava sobre controle, inclusive quanto às contas públicas.
No entanto, o pedido de liberação da observância da meta fiscal põe por terra a dignidade que se impõe ao gestor público de somente gastar o limite da arrecadação do Estado, embora o governo ainda tente argumentar que não se trata da concessão de cheque em branco, porquanto, na sua avaliação, a medida servirá apenas como grande flexibilidade para ser administrada a meta de superávit primário das contas do setor público, evidentemente com a eliminação da obrigatoriedade da meta fiscal, prevista na citada LDO, que trata de uma das conquistas benfazejas e moralizadoras da gestão do ex-presidente tucano.
O projeto do governo tem por objetivo acabar com o limite fixado de R$ 67 bilhões para o abatimento das desonerações tributárias e dos investimentos do PAC, o que vale dizer que, caso o projeto seja aprovado, o governo federal se beneficiará da liberdade para abater da meta todo o volume do PAC e das desonerações que forem feitas até o final de 2014.
Na realidade, o ex-presidente tucano foi pouco impreciso ao afirmar que a presidente da República está quebrando o país, quando o mais apropriado teria sido se dizer que ela já o quebrou, à vista dos elementos disponibilizados pelos resultados da sua gestão, faltando, agora, tão somente a lavratura do termo pertinente, porque todos os indicadores econômicos apontam para indesejável e lastimável desempenho da administração do país, de modo que a recuperação econômica poderá até acontecer remotamente, porém de forma traumática, diante do pouco crescimento do Produto Interno Bruto este ano, que certamente irá contribuir para a falta de investimentos público e privado, a desindustrialização, a drástica redução da arrecadação tributária, a diminuição da renda dos trabalhadores, o aumento do desemprego, o aumento das dívidas públicas, das taxas de juros e, por via de consequência, da inflação.
A presidente do país conseguiu conduzir a nação para a pior encruzilhada que não se vislumbra alternativa favorável à retomada do crescimento, diante da incapacidade administrativa, demonstrada nos últimos quatro anos, de contornar a crise senão com a sua desmoralização de se humilhar e se ajoelhar ante o Parlamento, para obter a liberação da obrigatoriedade de cumprir a meta fiscal, sob pena de ser incursa no crime de responsabilidade fiscal, por ter descumprido alguns artigos da Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), em razão de sua conduta prejudicial aos interesses nacionais, uma vez que o descumprimento das metas fiscais pode implicar a nota de desclassificação de investimento no país, por agências especializadas do mercado internacional, de modo que haverá imediato afastamento do país de capitais estrangeiros, fato que dificultarão os investimentos no Brasil.
É deplorável que a então presidenciável tenha garantido, em resposta às acusações de seus opositores, que a sua gestão estava absolutamente sobre controle, quando, na realidade, as contas públicas, em especial, não resistiam ao teste de legitimidade, sob o prisma da meta fiscal, que deixou de ser inobservada por força da gastança em razão dos investimentos para mostrar falso desempenho na campanha da reeleição.
Compete à sociedade repudiar, com veemência, a conduta deletéria presidencial, que demonstra com clareza que a mandatária do país não se houve com a dignidade que se espera de quem ocupa o cargo máximo da nação, que é, no mínimo, cumprir fielmente o regramento jurídico da nação, em consonância com o compromisso assumido na posse solene, sob pena de incorrer, no caso sob exame, em crime de responsabilidade fiscal, ante os indiscutíveis prejuízos que seu ato causa aos interesses nacionais, o aprofundamento da crise econômica. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 14 de novembro de 2014

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