quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Indignas condicionantes políticas

Segundo notícia publicada na mídia, a bancada do PMDB, na Câmara dos Deputados, anunciou que somente apoiará o projeto de lei do Executivo versando sobre o abandona da meta fiscal, para o fluente exercício, caso o governo anuir com as “condicionantes políticas” formuladas pelos parlamentares, que consistem no atendimento de repasses de recursos da União para estados e municípios de emendas constantes do Orçamento deste ano e que ainda não foram efetuados.
Além disso, os peemedebistas exigem também que o governo seja “mais transparente” em 2015 e cumpra as metas fiscais. O líder do PMDB disse que “A bancada vai apoiar. O que acontece é que tivemos um número de desonerações que impactaram o orçamento deste ano e muitas emendas foram aprovadas pelo próprio Congresso. Então, tivemos participação também. Mas queremos que o governo seja transparente e comece o exercício de 2015 sem pendências”.
Por seu turno, o principal partido aliado do governo exige que a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015 inclua as regras do orçamento impositivo, deixando claro que o Executivo fique obrigado ao pagamento das emendas parlamentares, que representam os recursos que os parlamentares destinam no Orçamento da União para projetos a serem executados nos municípios das suas bases eleitorais.
Enquanto se discutia o “preço” do apoio ao projeto do Executivo, uma única voz sensata e ponderada do PMDB se levantou para cobrar sensibilidade e dignidade dos correligionários, ao dizer em bom e alto tom que “Não podemos dar um cheque em branco para o governo. O governo arrecadou 100 e gastou 110 e agora quer um atestado de saúde fiscal. Ganhou inúmeras chances para reorganizar o controle fiscal, não o fez e agora quer autorização para continuar gastando. Isso é atropelar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que foi um dos pilares da estabilização econômica nos últimos 15 anos, e também atropelar a LDO de 2014”.
Segundo o mesmo parlamentar, a imposição das “condicionantes políticas” foi engendrada para evitar que o governo cumpra a ameaça de não honrar com as transferências constitucionais e outros repasses de ordem legal, a exemplo dos royalties do petróleo etc., que já estão em atraso, por meio dos quais ele vem fazendo verdadeiro terrorismo político.
As famigeradas exigências peemedebistas têm um nome: desmoralização, por se verificar que a bancada do partido preferencial do governo diz que abona a imoralidade e a ilegalidade do abandono da meta fiscal para 2014, que é uma imposição aprovada pela Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, por força de norma de moralização orçamentário-financeira constante da Lei Complementar nº 101/2000, que versa sobre a importante Lei de Responsabilidade Fiscal, pela aceitação da indigna e vergonhosa barganha denominada "condicionantes políticas", consistentes na liberação de recursos federais para estados e municípios e outras exigências de cunho eminentemente oportunista e interesseira.
O abandono do cumprimento da meta fiscal, por se tratar de obrigação constante da LDO, já constituiu grave lesão ao regramento jurídico pátrio, que jamais nem o Executivo e muito menos o Legislativo poderiam sequer imaginar jogar, sem justificativa plausível, na lixeira palaciana, em virtude da evidente falta de zelo do governo, que não teve capacidade para controlar as contas públicas, tendo gastado mais do que o legalmente permitido, sendo obrigado, pela primeira vez na história republicana, a ignorar, com o menos indigno respaldo do Parlamento, regra tão importante para a reafirmação da seriedade, moralidade e dignidade quanto ao cumprimento das normas de administração orçamentária e financeira do país.
A conduta do governo se traduz em enormes prejuízos para o país, uma vez que a falta de cumprimento da meta fiscal implica o seu reconhecimento de incompetência e de incapacidade para gastar no limite da arrecadação tributária, demonstrando, com isso, a quebra do compromisso assumido no ato da posse, de observar e cumprir os princípios constitucionais e legais do país.
Quanto ao apoio do PMDB ao projeto do governo, fica a evidência da extrema desmoralização político-partidário-ideológica, pela inescrupulosa imposição de exigências de cristalina conveniência oportunista, por declarar espúrio apoio ao projeto sabidamente inconstitucional, ilegal e imoral, por contrariar os conceitos de dignidade e moralidade, que passam a ser desprezados, sem o menor polimento, em razão da satisfação de interesses partidários, fato que demonstra a pequenez da mentalidade dos parlamentares que pensam apenas em defender suas causas pessoais e partidárias, em evidente detrimento dos interesses nacionais.
Por sua vez, o Executivo, se concordar com as imposições do PMDB, que possivelmente não terá alternativa, passará a cometer dupla indignidade e irregularidade, a de driblar a metal fiscal e a de aumentar ainda mais o déficit orçamentário, com a anuência à exigência de seu maior aliado no Legislativo, com a liberação de recursos para a farra dos parlamentares nas bases eleitorais deles.
A sociedade tem o dever cívico de responsabilidade e de dignidade, como instrumentos de demonstração de amor ao país e sentimento ao zelo para com o patrimônio dos brasileiros, de censurar e repudiar, com extrema veemência, tamanha excrescência com a aplicação dos recursos que são arrecadados daqueles que se esforçam e dão verdadeiro duro na labuta do dia a dia, sacrificando-se para sustentar essa administração pública exageradamente perdulária, porém digna das piores republiquetas que atropelam tiranamente o regramento jurídico nacional. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 18 de novembro de 2014

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