terça-feira, 11 de novembro de 2014

As gravidades ignoradas

O ex-presidente da República petista, a par da avalanche de denúncias de corrupção na administração do seu partido, afirmou em plenos pulmões que nenhuma denúncia de corrupção pode baixar a cabeça de petista, tendo declarado que não admite que “tucano” chame membros de seu partido de "corrupto".
Com absoluta convicção, ele disse: "Nós temos de provar a nós mesmos que nenhuma denúncia de corrupção pode baixar a cabeça de um petista. Não podemos admitir que um tucano bicudo venha chamar a gente de corrupto. Não podemos aceitar que eles façam adesivos fora PT fora Dilma porque nos nunca fizemos fora eles”.
O ex-presidente atribuiu o surgimento de denúncias em período eleitoral à iniciativa de adversários do PT, dizendo que "Toda época de campanha é sempre o mesmo cenário. Eles começam a levantar denúncias. E denúncias não precisam ser provadas. É só insinuar. Eu estou com o saco cheio. Estou cansado. E todo ano a mesma coisa. É eleição para prefeitura, eleição para presidente, eleição para governador. Daqui a pouco vão estar investigando como é que nos comportávamos no ventre de nossa mãe. Acho que precisamos encarar esse problema de frente.".
Enquanto isso, o presidente nacional do PT repudiava "com veemência e indignação" as declarações "caluniosas" do ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, preso em regime domiciliar, que, em depoimento à Justiça Federal do Paraná, disse que parte da propina cobrada de fornecedores da estatal tinha como destino o atendimento de acordo firmado pelo PT, PMDB e PP e foi utilizada na campanha eleitoral de 2010.
As denúncias tinham tanta consistência que a Justiça aceitou a delação premiada do ex-diretor, cujos depoimentos serão objeto de aprofundamentos sobre as acusações do propinoduto na estatal, que conta com a participação de elenco de peso, desfilando entre os protagonistas eminentes políticos de destaque em atividade no Parlamento, todos governistas ilustres.
Depois dessas vãs tentativas de afastar a indiscutível institucionalização das práticas deletérias na administração pública, especificamente na Petrobras, a então candidata à reeleição à Presidência do país, não suportando a pressão sobre a realidade dos fatos, que demonstrava que a roubalheira na estatal era algo difícil de negar, com meras e inconsistentes argumentações, resolveu admitir que a corrupção denunciada teria existido de verdade, tendo prometido não somente investigar os fatos, mas promover as medidas necessárias ao ressarcimento dos valores pertinentes aos danos causados ao patrimônio da empresa.
Na verdade, a aceitação pela pessoa com um pouco de sensibilidade sobre a realidade dos fatos põe por terra as declarações de prepotência de quem não admitia baixar a cabeça ante as denúncias de corrupção no âmbito do partido governista, que tem sido campeão de irregularidades e de desvio de recursos públicos na história republicana, conforme afirma a própria presidente do país, que garante não engavetar nenhuma denúncia de “malfeito”, tendo mandato apurar todas que surgiram no seu governo, embora, até agora, nenhum caso concreto tenha servido de exemplo de punição aos corruptos.
Convém frisar que a única petista que se dignou a admitir a esculhambação apenas na estatal, alvo das graves denúncias somente o fez por exclusiva conveniência política e eleitoreira, porquanto ela, por certo, não teria a dignidade de reconhecer - como insistem seus ilustres correligionários - a existência de corrupção caso não estivesse correndo perigo a sua reeleição ao Palácio do Planalto, ou seja, é o caso perfeito da entrega dos anéis para salvarem-se os dedos, no dizer do ditado popular.  
O ex-presidente foi bastante preciso ao afirmar que “Toda época de campanha é sempre o mesmo cenário. Eles começam a levantar denúncias.”, só que elas são reais, porque as irregularidades acontecem com muita frequência nesse governo e seus protagonistas - integrantes do partido governista e de outros dois da coalizão de governabilidade - não escolheram época apropriada para que elas ocorressem, apenas, agora, houve coincidência no surgimento delas com a campanha eleitoral.
No caso, as atribuições de responsabilização dos adversários pelas denúncias funcionam muito mais como forma de incompetência para admitir que as corrupções são endêmicas na administração do país e combatê-las com a energia que se espera para o saneamento dos atos deletérios e de desmoralização, que se tornaram incontroláveis e permanentes.
Infelizmente, a pequena maioria dos eleitores preferiu ignorar a gravidade da falta de controle eficiente na aplicação dos gastos na administração pública, que contribui para a banalização da corrupção nos órgãos e nas entidades públicos, a ponto de a classe política dominante não reconhecer a sua existência, como ocorreu com o famigerado mensalão e agora com o petrolão, que foi negado à exaustão, mas somente admitido por questão de conveniência eleitoreira.
Urge que os brasileiros se conscientizem sobre a necessidade de valorização dos princípios da administração pública, de modo que os casos de corrupção sejam repudiados e recriminados com a indispensável veemência, como forma de contribuir para a moralização na aplicação dos recursos da sociedade e na reconquista da credibilidade no comando da nação. Acorda, Brasil!
 
        ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
        Brasília, em 10 de novembro de 2014

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