sábado, 8 de novembro de 2014

Mentalidade medíocre

A presidente da República, quando ainda era candidata à reeleição, afirmou que o uso político das acusações do ex-diretor da Petrobras e do doleiro era tentativa de “golpe” dos opositores contra o seu governo, tendo acenado para a existência de “manipulação política” nas investigações das denúncias envolvendo a estatal.
A dupla acusou, em depoimentos à Justiça Federal, em processo da Operação Lava Jato no qual são investigados desvios em contratos da Petrobras para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, três partidos da base governista e antecessor da presidente do país de receberem comissões de empreiteiras que obtinham contratos da estatal, tendo ainda dado detalhes sobre a partilha do dinheiro, apontando o tesoureiro do PT como destinatário da propina - segundo eles, o petista recebia até 3% dos valores de cada contrato e fazia os repasses, na forma dos entendimentos políticos. 
Diante disso, a presidente petista, além de criticar o uso das denúncias por parte dos adversários e do governo tucano, ressaltou a tentativa de “golpe”, dizendo que “Eles (políticos do PSDB) jamais investigaram, jamais puniram, jamais acabaram com o crime horrível da corrupção e, agora, na véspera da eleição, querem dar um golpe, estão dando um golpe”.
Ainda nessa mesma linha, a presidente havia explorado o assunto, citando a “manipulação política”, fazendo crítica a vazamento “seletivo” e “leviano” dos depoimentos, dizendo: “Acho estranho e muito estarrecedor que no meio de uma campanha eleitoral façam esse tipo de divulgação. É muito importante para que, de fato, a gente combata a corrupção, que não se use isso de forma leviana em períodos eleitorais, de forma incompleta. Eu acho que a investigação deve ser feita sem manipulação política ou qualquer outro tipo de intervenção. Não acredito que a legislação no Brasil possa ser aplicada ao sabor das circunstâncias e acredito que isso não contribui para o fortalecimento das instituições”.
Na época, o esperneio da candidata não tinha a menor razão, uma vez que os depoimentos prestados à Justiça Federal não estavam sob segredo e eram públicos, à vista da finalidade processual, que era diferenciada dos depoimentos prestados no âmbito da delação premiada, que se processam sob a chancela de sigilosa. 
A presidente discorda e se insurge contra o aparecimento de denúncias graves justamente durante a campanha eleitoral, alegando “que depois não se comprovam e assim que acaba a eleição, ninguém se responsabiliza por elas”, fato que foi corroborado pelo seu antecessor, que teria dito que estava “de saco cheio dessas denúncias.”.
À luz das reclamações da presidente, dizendo-se chateada e aborrecida, em especial, pelas denúncias terem surgido justamente no período de campanha eleitoral, pode-se se concluir que eles poderiam ter aparecido normalmente, porque isso não faria a menor diferença na sua gestão, que tem encarado com naturalidade as irregularidades e as corrupções endêmicas e sistêmicas, que ocorrem na administração pública, a exemplo dessas que pipocaram na Petrobras, apenas denunciando o mar de lar do governo, que brada aos quatro cantos que manda investigar e punir, mas nenhuma medida efetiva foi apresentada, nem mesmo houve o afastamento dos cargos das pessoas acusadas, quanto mais o saneamento das impropriedades havidas, que deixaram o rastro de destruição não somente da desmoralização, mas, sobretudo, do patrimônio da estatal, com dilapidação jamais vista na história deste país.
Agora, pasmem, o mais ridículo e espantoso é que, depois de toda dramatização bufa encenada, a presidente se rende à realidade e, com a cara lisa, reconhece a existência de roubalheira na estatal, prometendo punição para os culpados e ressarcimento dos prejuízos causados à empresa, justamente em virtude de ter verificado que estava entrando muita água no barco que conduzia a sua campanha eleitoral, sustentada na mentida, incompetência e desmoralização, porque a boa parte da sociedade honrada – a outra parte fazia coro com o PT negando a realidade dos fatos – sabia piamente que o propinoduto era realidade incontestável.    
Na realidade, chega-se à triste conclusão de que somente pode ser coisa de marqueteiro, inconsequente e sem a mínima responsabilidade pela relevante e nobre administração do país, poderia afirmar que os depoimentos dos acusadores eram golpe ou cousa que o valha, quando a endêmica corrupção é cria desse governo, que não assume a culpa pela desmoralização dos princípios da dignidade e honorabilidade que deveriam imperar na administração pública.
Não há a menor dúvida de que, se o Brasil fosse país sério, esse tsunami escândalo da Petrobras seria mais do que suficiente para afastar do governo toda equipe que o compõe, desde a mandatária da nação até o porteiro do Palácio do Planalto, porque, nas nações civilizadas e com um mínimo de evolução, uma mera suspeita de irregularidade provoca verdadeira revolução da base dos princípios da dignidade e da moralidade e a imediata renúncia dos envolvidos, sem qualquer possibilidade de ninguém pousar de vítima como o fez, de forma inacreditável, a presidente brasileira, que somente admitiu a tragédia depois de negá-la aos píncaros do seu limite da insensibilidade e da indignidade acusatória.
Infelizmente, somente no país tupiniquim, conforme ficou provado nas urnas, ainda continua havendo mentalidade medíocre e retrógrada em defesa da prática criminosa, nefasta e abominável da corrupção na administração pública, em que pese o seu poder degenerativo dos princípios fundamentais da nação e do patrimônio da sociedade.
 Urge que o sentimento de brasilidade ganhe a forma capaz de combater, com efetividade, bravura, veemência e impetuosidade, como fazem os povos dos países desenvolvidos social, cultural, político, econômico e democraticamente, a daninha corrupção que se alastrou na administração pública, como forma de preservação dos saudáveis princípios da dignidade e da moralidade nas importantes atividades político-administrativas e de contribuição para o fortalecimento das instituições públicas e do regramento jurídico do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 07 de novembro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário