A
presidente da República, quando ainda era candidata à reeleição, afirmou que o
uso político das acusações do ex-diretor da Petrobras e do doleiro era
tentativa de “golpe” dos opositores contra o seu governo, tendo acenado para a
existência de “manipulação política” nas investigações das denúncias envolvendo
a estatal.
A
dupla acusou, em depoimentos à Justiça Federal, em processo da Operação Lava
Jato no qual são investigados desvios em contratos da Petrobras para a
construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, três partidos da base
governista e antecessor da presidente do país de receberem comissões de
empreiteiras que obtinham contratos da estatal, tendo ainda dado detalhes sobre
a partilha do dinheiro, apontando o tesoureiro do PT como destinatário da
propina - segundo eles, o petista recebia até 3% dos valores de cada contrato e
fazia os repasses, na forma dos entendimentos políticos.
Diante
disso, a presidente petista, além de criticar o uso das denúncias por parte dos
adversários e do governo tucano, ressaltou a tentativa de “golpe”, dizendo que “Eles (políticos do PSDB) jamais investigaram, jamais puniram, jamais
acabaram com o crime horrível da corrupção e, agora, na véspera da eleição,
querem dar um golpe, estão dando um golpe”.
Ainda
nessa mesma linha, a presidente havia explorado o assunto, citando a “manipulação política”, fazendo crítica a
vazamento “seletivo” e “leviano” dos depoimentos, dizendo: “Acho estranho e muito estarrecedor que no
meio de uma campanha eleitoral façam esse tipo de divulgação. É muito
importante para que, de fato, a gente combata a corrupção, que não se use isso
de forma leviana em períodos eleitorais, de forma incompleta. Eu acho que a
investigação deve ser feita sem manipulação política ou qualquer outro tipo de
intervenção. Não acredito que a legislação no Brasil possa ser aplicada ao
sabor das circunstâncias e acredito que isso não contribui para o
fortalecimento das instituições”.
Na
época, o esperneio da candidata não tinha a menor razão, uma vez que os
depoimentos prestados à Justiça Federal não estavam sob segredo e eram públicos,
à vista da finalidade processual, que era diferenciada dos depoimentos
prestados no âmbito da delação premiada, que se processam sob a chancela de
sigilosa.
A
presidente discorda e se insurge contra o aparecimento de denúncias graves
justamente durante a campanha eleitoral, alegando “que depois não se comprovam e assim que acaba a eleição, ninguém se
responsabiliza por elas”, fato que foi corroborado pelo seu antecessor, que
teria dito que estava “de saco cheio
dessas denúncias.”.
À
luz das reclamações da presidente, dizendo-se chateada e aborrecida, em
especial, pelas denúncias terem surgido justamente no período de campanha
eleitoral, pode-se se concluir que eles poderiam ter aparecido normalmente,
porque isso não faria a menor diferença na sua gestão, que tem encarado com
naturalidade as irregularidades e as corrupções endêmicas e sistêmicas, que
ocorrem na administração pública, a exemplo dessas que pipocaram na Petrobras,
apenas denunciando o mar de lar do governo, que brada aos quatro cantos que
manda investigar e punir, mas nenhuma medida efetiva foi apresentada, nem mesmo
houve o afastamento dos cargos das pessoas acusadas, quanto mais o saneamento
das impropriedades havidas, que deixaram o rastro de destruição não somente da
desmoralização, mas, sobretudo, do patrimônio da estatal, com dilapidação
jamais vista na história deste país.
Agora,
pasmem, o mais ridículo e espantoso é que, depois de toda dramatização bufa
encenada, a presidente se rende à realidade e, com a cara lisa, reconhece a existência
de roubalheira na estatal, prometendo punição para os culpados e ressarcimento
dos prejuízos causados à empresa, justamente em virtude de ter verificado que
estava entrando muita água no barco que conduzia a sua campanha eleitoral,
sustentada na mentida, incompetência e desmoralização, porque a boa parte da
sociedade honrada – a outra parte fazia coro com o PT negando a realidade dos
fatos – sabia piamente que o propinoduto era realidade incontestável.
Na
realidade, chega-se à triste conclusão de que somente pode ser coisa de
marqueteiro, inconsequente e sem a mínima responsabilidade pela relevante e
nobre administração do país, poderia afirmar que os depoimentos dos acusadores
eram golpe ou cousa que o valha, quando a endêmica corrupção é cria desse
governo, que não assume a culpa pela desmoralização dos princípios da dignidade
e honorabilidade que deveriam imperar na administração pública.
Não
há a menor dúvida de que, se o Brasil fosse país sério, esse tsunami escândalo
da Petrobras seria mais do que suficiente para afastar do governo toda equipe
que o compõe, desde a mandatária da nação até o porteiro do Palácio do Planalto,
porque, nas nações civilizadas e com um mínimo de evolução, uma mera suspeita
de irregularidade provoca verdadeira revolução da base dos princípios da
dignidade e da moralidade e a imediata renúncia dos envolvidos, sem qualquer
possibilidade de ninguém pousar de vítima como o fez, de forma inacreditável, a
presidente brasileira, que somente admitiu a tragédia depois de negá-la aos
píncaros do seu limite da insensibilidade e da indignidade acusatória.
Infelizmente, somente no país tupiniquim, conforme
ficou provado nas urnas, ainda continua havendo mentalidade medíocre e
retrógrada em defesa da prática criminosa, nefasta e abominável da corrupção na
administração pública, em que pese o seu poder degenerativo dos princípios
fundamentais da nação e do patrimônio da sociedade.
Urge que o
sentimento de brasilidade ganhe a forma capaz de combater, com efetividade, bravura,
veemência e impetuosidade, como fazem os povos dos países desenvolvidos social,
cultural, político, econômico e democraticamente, a daninha corrupção que se
alastrou na administração pública, como forma de preservação dos saudáveis
princípios da dignidade e da moralidade nas importantes atividades
político-administrativas e de contribuição para o fortalecimento das
instituições públicas e do regramento jurídico do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de novembro de 2014
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