domingo, 11 de janeiro de 2015

A persistência da nebulosidade

Já está mais do que provado que o tempo conspira contra a busca da verdade sobre os acontecimentos, principalmente quando os fatos envolvem o interesse nacional, como é o caso da compra pela Petrobras da refinaria de petróleo em Pasadena, Texas (EUA), que suscitou enormes suspeitas de superfaturamento e evasão de divisas na negociação.
Como se sabe, em 2006, a estatal pagou US$ 360 milhões por 50% da refinaria (US$ 190 milhões pelos papéis e US$ 170 milhões pelo petróleo que estava em Pasadena). Esse valor é extremamente superior ao pago um ano antes por empresa belga, que desembolsou pela refinaria inteira a quantia de US$ 42,5 milhões.  
Sobre a aludida compra, a presidente da República, que deu seu aval à transação, na qualidade de presidente do Conselho de Administração da Petrobras, disse que teria recebido documentação incompleta pertinente ao negócio, inclusive desacompanhada do contrato.
Dizer que não recebeu o contrato com a devida antecedência é tão mais grave quanto tê-lo recebido e mesmo assim ainda ter a consentido que a Petrobras embarcasse numa plataforma furada, quase afundada, em razão do pagamento de preço superfaturado por empreendimento extremamente desfavorável economicamente para a estatal.
O simples fato de declarar que faltam elementos técnicos e mesmo assim houve a aprovação pela compra da refinaria evidencia, de forma solar, total irresponsabilidade, falta de tino empresarial e principalmente falta de zelo para com o patrimônio da sociedade brasileira.
É totalmente impossível se afirmar que alguém está mentindo, mas com absoluta certeza é bem provável que nesse imbróglio tem gente que falta com a verdade e o pior que o resultado de tudo isso reflete enorme prejuízo para o patrimônio não somente da estatal, mas para o país.
A maior dificuldade é se saber, depois de transcorrido tanto tempo da compra da refinaria até agora, sobre as falhas realmente ocorridas, para se apurar o grau de participação dos diretores, assessor etc., inclusive para se aclarar se houve má-fé na tramitação dos documentos pertinentes à compra em apreço.
Em termos de sinceridade, o governo tem demonstrado enorme dificuldade em convencer a sociedade sobre o que é realmente verdade e o que é mentira. Se houvesse um pingo de verdade e de legitimidade quanto à participação da petista-mor no Conselho de Administração da Petrobras, os governistas não teriam criado tanta dificuldade para a criação das Comissões Parlamentares de Inquérito no Congresso Nacional, cujo resultado das apurações não produziu absolutamente nada de efetivo.
Caso houvesse legitimidade na aquisição da refinaria, mesmo a preços superfaturados, conforme anunciam as seguidas reportagens e as notícias sobre mais esse rumoroso e vergonhoso caso envolvendo a administração do país, com certeza, os governistas não teriam se empenhado ao extremo na tentativa de blindar a presidente da República e outros integrantes petistas, ao evitarem que os parlamentares investiguem profundamente as irregularidades, que seriam capazes de afastar imediatamente dos cargos públicos os envolvidos, caso elas tivessem ocorrido num país sério e cultor dos princípios da moralidade, do decoro, da legalidade e da honorabilidade.  
Os fatos revelam pouca consistência na declaração da presidente de que houve omissão de elementos essenciais ao negócio. Não fossem a própria empresa e o ex-assessor assegurarem que as informações estavam inseridas nos autos, a presidente, mais uma vez, teria conseguido dar um "chapéu" na sempre ingenuidade dos brasileiros, que acreditam piamente na versão dos políticos, apesar de nada fazerem para que seus atos tenham consistência e credibilidade.
Percebe-se a existência de mentiras no novo affaire envolvendo importante empresa brasileira. Caso as declarações do ex-diretor da Petrobras sejam verdadeiras, não resta a menor dúvida de que a mandatária do país deu atestado de incompetência ao alegar que o relatório apresentado teria omitido cláusula importante, que impediria a aprovação da compra se ela constasse dos autos.
Contrariando a sua versão, o citado ex-diretor da estatal esclarece que o contrato foi enviado aos conselheiros quinze dias antes da reunião, em cujo texto constava a cláusula que a presidente não teria visto, dando a entender que ela sequer tomou conhecimento dos termos do contrato que tratava da compra em questão.
Compete ao povo exigir a verdade sobre essa absurda e estranha transação, que envolveu bastante dinheiro jogado pelos ralos da irresponsabilidade, cujos fatos evidenciam muitas irregularidades que resultaram significativos prejuízos e desvios de recursos da Petrobras, mas, por enquanto, nenhuma apuração foi capaz de mostrar absolutamente nada sobre os fatos supernebulosos, como se nada tivesse acontecido de tão grave e prejudicial aos interesses da estatal. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de janeiro de 2015

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