quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Modelo de segurança pública

O governo federal pretende implantar novo modelo de segurança pública, tendo por base a mobilização e a integração das forças de segurança nos moldes adotados na última Copa do Mundo, que se fundamenta na criação de centros de comandos e controles integrados, visando a possibilitar a articulação de ações das polícias Militar e Civil dos estados com os Corpos de Bombeiros Militares, as Forças Armadas e as polícias Federal e Rodoviária Federal.
A presidente da República decidiu que enviará ao Congresso Nacional proposta de emenda à Constituição Federal, com a finalidade de passar a responsabilidade da segurança pública também para os executivos federal e municipal, além da atual incumbência constitucional dos governos estaduais, que deixará de ser privativa, para essa finalidade.
Parece que realmente o modelo adotado na Copa do Mundo de 2014 pode ser aproveitado para a reestruturação do sistema de segurança pública, tendo em vista que os resultados estratégicos foram eficientes e eficazes, por terem mostrados que os índices de criminalidade foram expressivamente auspiciosos, à vista da drástica redução de registros de violência, obtida mediante o emprego de forças de segurança nunca visto na história do país, que somente funcionou no período do evento, simplesmente para o governo federal mostrar seu artificial improviso ao mundo, cuja eficiência contrariou nitidamente o padrão do cotidiano, quando a população é infernizada pela crescente e incontrolável criminalidade.
A indigente e precária situação do sistema de segurança pública já é do conhecimento do país inteiro, menos das autoridades públicas responsáveis pela eficiência para proteger a sociedade. O certo é que o governo desconhece que há vários motivos que contribuem, de forma preponderante, para dificultar a eficiência da segurança e do combate à criminalidade, notadamente no que diz respeito ao visível descaso dos governantes para os graves problemas existentes no sistema pertinente.
É mais do que notório que os governos nunca estabeleceram prioridades nas políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de trabalho do policiamento, a exemplo da remuneração, que deve ser digna e compatível com a relevante atribuição de manter a ordem pública e de proteger e defender os cidadãos, pondo em risco a própria vida dos bravos e destemidos agentes do Estado, sempre atuando sob ganhos insignificantes e irrisórios, muitos dos quais atingem pouco mais de um ou dois salários mínimos, ou seja, remuneração pouco melhorzinha do que o benefício do Bolsa Família, motivando que muitos policiais militares sejam obrigados a fazer "bicos", para conseguirem sustentar a família.
Além disso, contabilizem-se, muito apropriadamente, o sucateamento dos equipamentos e das instalações de apoio ao importante trabalho da segurança pública; a escassez de pessoal, cuja quantidade do efetivo ideal jamais acompanha o crescimento populacional e os incontroláveis aumentos dos índices de criminalidade; e a gritante falta de aperfeiçoamento e treinamento técnico-profissionais etc.; tudo contribuindo para que, em muitos casos, o policial primeiro atire, por despreparo, para somente depois dá a voz pertinente à ação militar adequada ao caso, em total inversão do que deveria ser praticado.
Como se vê, as causas das precariedades e das deficiências da atuação do sistema de segurança pública não se solucionam tão somente com a integração e a mobilização de forças militares, nas suas mais diversas organizações militares, e das unidades da federação, mas sim, em especial, com o saneamento, de forma prioritária e racional, do conjunto das mazelas acima elencadas, que devem ser estudadas primacialmente como instrumento de valorização das pessoas que, por amor à nobre causa da profissional militar, colocam permanentemente a vida sob risco na missão sempre relevante e dignificante de proporcionar proteção à sociedade, que paga pesados tributos para ter, em contrapartida, serviços públicos de péssima qualidade.
No caso específico da segurança pública, via de regra, os serviços não passam de mero faz de conta, longe do que seja o seu exato nome de segurança pública, quando, na realidade e bem da verdade, os policiais não estão nem mesmo conseguindo se proteger, ante a constância, nos últimos tempos, de suas mortes trágicas, por bandidos, fato que demonstra a terrível precariedade do atual sistema de segurança que o Estado mantém, em visível falta de eficiência e efetividade.
É lamentável que, em pleno século XXI, ainda exista tamanho descaso com a segurança e a proteção do mais importante bem que é a vida, ante a evidente falta de prioridades quanto à necessidade de maciços investimentos capazes de, pelo menos, contribuírem para amenizar ou até mesmo evitar a incidência de tantas mortes de quem tem o dever constitucional de proteger a população e o seu patrimônio.  
A sociedade tem a obrigação de exigir, com urgência, que as autoridades públicas, incumbidas de cuidar das políticas de segurança pública, promovam ampla mobilização dos especialistas e entendidos dessa importante área, para o fim de estudar com abrangência e profundidade as questões que dificultam o eficiente e eficaz atendimento da proteção e da segurança à população, devendo estabelecer prioridade absoluta para aprovação de remuneração de qualidade e compatível com o grau de risco e responsabilidade atribuídos ao policiamento pertinente e de aumento dos efetivos das corporações, levando-se em conta a população das localidades, as necessidades de suprimentos de material suficiente, em quantidade e qualidade, para a eficiência dos trabalhos da segurança pública e o treinamento, preparo e aperfeiçoamento do pessoal incumbido de lidar com o seu semelhante, com vistas a proteger a população e manter a ordem pública, além da integração agora pretendida pelo governo federal.
À toda evidência, não se pode esperar que seja exitosa a integração das forças de segurança pública, de forma isolada, sem a solução dos principais entraves à eficiência dos trabalhos, conforme elencados acima, e ainda se os integrantes dessa empreitada não estejam motivados e valorizados, com a implantação de medidas de racionalidade que beneficiem efetivamente as suas aspirações profissionais, porque, em caso contrário, as medidas superficiais e de afogadilhos servem tão somente como meros paliativos e perda de tempo e de recursos públicos, em detrimento do interesse da sociedade, que, nesse particular, não pode mais permitir irresponsabilidades e incompetências político-administrativas que se perpetuam no tempo. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de janeiro de 2015

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