A presidente da República aproveitou as atenções
nacionais às celebrações da sua posse para esbanjar elogios ao seu governo e ao
do seu antecessor, os elevando aos píncaros da eficiência e da competência,
como se ela estivesse discursando para telespectadores constituídos por ela
mesma, à vista do surrealismo com que suas afirmações representaram,
contrariamente à realidade do que foi o seu governo nos últimos quatro anos,
ladeados de resultados pífios, notadamente na execução das políticas
econômicas, na prestação dos serviços públicos de péssima qualidade -
comparáveis aos oferecidos nas republiquetas – e na frequência de alarmantes
atos de corrupção.
A petista, inebriada possivelmente pelos bons
fluidos do segundo mandato, aproveitou o momento para celebrar a inacreditável vitória,
proclamar expressões de puro otimismo e prometer megarrealizações, em repetição
às promessas antigas, que não foram cumpridas no primeiro mandato, que foi
recheado de insucessos e de maus resultados.
É evidente que a ocasião aconselharia que a
presidente fosse apenas comedida e permanecesse centrada na sua gestão, para se
referir tão somente aos fatos relacionados ao seu governo, cujo desempenho já é
do conhecimento dos brasileiros, pelos menos daqueles que não votaram nela, não
havendo necessidade que ela se exagerasse no esforço de autoelogios sobre o
inexistente ou talvez do existente em contrariedade ao que ela afirmara com
tanta convicção, porquanto o diagnóstico realista sobre os fatos causadores da
terrível crise que ronda seu primeiro governo sequer foi tangenciado por ela,
como o desastroso desempenho da economia e o terremoto causado pelos escândalos
com sede na Petrobras.
É possível que o momento mais importante do
discurso tenha sido quando ela, talvez por lapso, tenha admitido que as contas
públicas precisem de "ajustes", deixando claro, com isso, que nem
tudo foi palmilhado com flores no seu governo, uma vez que o ajustamento
pretendido deixa escapar que houve barbaridades e deficiências na condução das
contas públicas, na primeira gestão da petista.
Ao afirmar que "Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o valor da estabilidade
econômica, da centralidade do controle da inflação e do imperativo da
disciplina fiscal", a presidente deixa dúvida quanto à firmeza na
condução das políticas econômicas, tanto que os resultados da sua gestão foram
cercados de muitos e sucessivos déficits. O certo é que a deterioração da
execução das políticas econômicas ultrapassou os limites da intolerância que a
obrigou a passar o bastão do Ministério da Fazenda para economista identificado
com a oposição, de ideologia liberal, como forma de se evitar que o fosso da
degeneração desse sensível setor não aprofundasse de maneira incontrolável.
A presidente preferiu fazer uso do eufemismo para defender
o primeiro pacote de cortes, com medidas que retira benefícios de trabalhadores,
como forma de amenizar o rombo no Tesouro, com os gastos na Previdência, ao se
referir a “correções de distorções” e “eventuais excessos” nos ajustes
promovidos no seguro doença e na pensão por morte, considerando que se tratam
de problemas com origem há mais de 12 anos, que já deveriam ter sido saneados
há bastante tempo e não agora, depois de ter garantido que não mexeria em
direitos dos trabalhadores e de criticar os candidatos que acenavam para
correção de falhas no sistema previdenciário.
Agora, o caso mais emblemático ficou por conta da
referência ao agressivo rombo detectado na Petrobras, ao prometer adotar
medidas de proteção do patrimônio da estatal, garantindo, sempre bitolada no
velho chavão inconsequente e infrutífero, apurações e punições, dando a
entender que as irregularidades passaram ao largo das hostes petistas e
catervas, ignorando os termos dos depoimentos à Justiça Federal do ex-diretor
de Abastecimentos da estatal, de que o esquema de desvio de recursos da empresa
foi arquitetado pelo PT, PMDB e PP, mas a presidente apenas se referiu a "alguns servidores que não souberam honrá-la",
como se o escândalo não envolvesse altos dirigentes da empresa e políticos dos
maiores partidos que a apoiam, inclusive do PT.
A presidente foi pródiga de equívocos, no seu
discurso de posse, ao produzir autoelogios aos governos petistas, elevando-os a
patamares impróprios, deixando de reconhecer as deficiências e incompetências do
primeiro mandato e ainda apresentando festival de imprecisão e imposturas que
não condizem com a realidade dos fatos, cujas afirmações distorcidas conspiram
contra os apelos de quem precisa de apoio e de credibilidade no início do novo
governo-velho.
A
verdade é que, enquanto não houver superação do crônico fanatismo ideológico-partidário,
materializado na mentalidade dos simpatizantes do governo, que contribui para
impedir o reconhecimento de erros, imperfeições e deficiências, o governo
continuará a imaginar que administra a nação com eficiência e competência,
embora os fatos sejam cristalinos em mostrar que a situação do país e
gravíssima, notadamente no que diz respeito à condução das políticas
econômicas, à prestação dos serviços públicos e ao combate à corrupção, que não
se resolve com simples afirmações de coragem para apurar e punir, sem que haja
medidas efetivas de saneamento dos problemas. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de janeiro de 2015
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