A presidente da República fez questão de encerrar a
mensagem dirigida ao povo, que se encontrava reunido para a sua segunda posse,
na Praça dos Três Poderes, em Brasília, com esse juramento: "Nenhum direito a menos, nenhum passo atrás,
só mais direitos e só o caminho à frente. Esse é meu compromisso sagrado
perante vocês.”.
Em evidente contradição, há três dias dessa estonteante
declaração, o governo havia anunciado corte em cinco benefícios previdenciários,
que podem atingir a cifra de R$ 18 bilhões, cuja tesourada palaciana tem por abrangência
o seguro-desemprego, o abono salarial, a pensão por morte, o auxílio-doença e o
seguro defeso (com aplicação aos pescadores). Esses cortes afetam os interesses
diretos dos trabalhadores pobres, cujo montante avaliado para economia de
recursos equivale a aproximadamente 70% do dispêndio com o programa Bolsa
Família, no exercício de 2014.
Causa perplexidade se perceber que a face do
governo não se ruboriza nem um pouco ao expressar incoerência entre o que diz e
o que efetivamente pratica, à vista do ato supramencionado, em que a tesoura petista
corta profundos direitos dos trabalhadores, mas a petista, sem nenhum desface,
assegura a integridade dos direitos trabalhistas como compromisso sagrado.
A contradição entre palavras e atos salta aos olhos
de forma bastante perigosa, dando a entender que os brasileiros são verdadeiros
imbecis, que não têm condições de perceber a atroz diferença entre o que se diz
e o que se faz, uma vez que o resultado se materializa em prejuízo para a sociedade,
que não tem como deixar de sentir na pele os duros efeitos das medidas adotadas
pelo governo, que podem se tratar de distorções que deveriam já ter sido
saneadas há bastante tempo, sem necessidade de desfaçatez, porque faz parte do
governo de tratar com seriedade e responsabilidade os assuntos da sua alçada.
Apesar de haver incontestável e alarmante
contradição por parte do governo, que alega em sua defesa que não se trata de
retirada de direitos, mas sim de correção de "distorções", que
correspondem efetivamente à realidade, porque distorções não seriam capazes de
produzir economia que pode se aproximar do suntuoso montante de R$ 18 bilhões. Infelizmente
a justificativa petista somente contribui para desacreditar a autoridade do
governo, quando não tem condições morais de assumir seus atos, exatamente com a
verdadeira objetividade do seu alcance, mas tudo isso não passa de vã tentativa
de mostrar tolerância e bondade absolutamente inexistentes do governo, que o
faz dessa forma apenas em razão de possível mais perda de confiança por parte de
seus admiradores e simpatizantes.
Não
há a menor dúvida de que é corretíssimo que haja corte de despesas públicas,
notadamente em se tratando de situação que vem resultando déficit crônico nas
contas públicas, com enorme reflexo na elevação da descontrolada e alarmante
dívida pública e do seu serviço. Trata-se de comezinho princípio da boa e
eficiente gestão dos dinheiros públicos, que sempre deve primar pela estrita
observância ao princípio da economicidade. Todavia, o governo jamais deveria
criticar a oposição, por justificar a necessidade de ajuste nas contas
públicas, e dizer que não mexe nos direitos dos trabalhadores, mas, vez por
outra, faz exatamente aquilo que teria censurado, a exemplo da ridícula
correção de “distorções”, que mais funciona como verdadeira dissimulação que
não condiz com a seriedade que se espera de governo com credibilidade e
responsabilidade de agir exclusivamente em defesa dos interesses nacionais,
independentemente se as medidas adotadas por ele possam contrariar os interesses
pessoais ou partidários, que são irrelevantes em relação às causas da
sociedade.
Na
prática, o que o governo vem fazendo, há bastante tempo e com irretocável brilhantismo,
é manipular e desinformar grande parcela dos brasileiros, que prefere continuar
iludida com essa poderosa estratégia de enganação de se dizer uma coisa e se realizar
outra, como forma de confundir os fatos e os conceitos sobre a sua finalidade,
sem, no entanto, assumir as consequências, quando elas não são convenientes
para o conceito do partido ou do governo.
Agora,
estranha-se que o governo nunca encontre distorções nos gastos públicos, com
origens nos gabinetes palacianos, como forma de se exigir urgentes adequações,
ou melhor falando, cortes nas abundantes e dispendiosas mordomias, regalias e
benefícios usufruídos, de forma descontrolada, por autoridades dos poderes da
República, a exemplo de auxílio moradia, passagens aéreas, veículos,
combustível, telefones, cartões corporativos e outras distorções
injustificáveis e carentes de imediatas adequações à realidade de miséria
brasileira, que não condiz com a vida nababesca dos homens públicos, que são
insensíveis à penúria e à pobreza da maioria de seus representados.
Urge
que os brasileiros tenham a dignidade de repudiar as contradições e as
incoerências de seus governantes, exigindo seriedade e responsabilidade na
administração do país, de modo que haja, entre tantas medidas imprescindíveis,
urgente racionalização dos gastos públicos, com vistas à adequação das despesas
supérfluas, injustificáveis e dispensáveis, como mordomias, regalias e
benefícios extravagantes à realidade de pobreza do país, à vista do que
preconiza o salutar princípio da economicidade. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de janeiro de 2015
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