O presidente do Senado Federal, filiado do PMDB,
foi encarregado de transmitir ao governo a insatisfação do seu partido na
bancada da Câmara Alta, em razão da notória perda de influência na recente reforma
ministerial. O aviso aos ministros da Casa Civil da Presidência da República,
das Comunicações e das Relações Institucionais deixa muito claro que o PMDB não
aceitará perder as indicações para o segundo escalão no governo, sob pena de o partido
vir a declarar independência automática em relação ao Palácio do Planalto.
O PMDB, dono da maior bancada no Senado, com 19 dos
81 senadores, considera-se "humilhado" pela presidente do país na
reforma ministerial, conforme reportagem mostrada pelo jornal O Estado de S. Paulo, razão pela qual o
partido teria decidido não dar mais apoio irrestrito ao governo.
No último mandato da petista, o PMDB comandava os Ministérios
de Minas e Energia, do Turismo, da Previdência Social e mais dois outros
ministérios, mas o partido, que foi o principal fiador da aprovação do projeto que
permitiu ao governo abandonar o cumprimento da meta fiscal de 2014, avaliava
que, na nova composição do primeiro escalão, no final do ano passado, seria contemplado
com, pelo menos, mais dois ministérios de peso. Os pemedebistas pretendiam comandar
também os ministérios das Cidades e da Integração Nacional, por terem
expressivos orçamentos e muita capilaridade no Nordeste, que é o reduto da
cúpula peemedebista.
Não obstante, a presidente petista contribuiu para
a frustração das expectativas do PMDB, ao deixar de atender seus pleitos,
embora ela tenha garantido ao partido quatro ministérios, com a manutenção das pastas
de Minas e Energia e do Turismo e ainda repassou para ele o ministério da
Agricultura - embora a titular desta pasta seja considerada cota da própria
presidente e não do partido - e da Secretaria da Pesca.
Agora, o que pesou mesmo para abater de morte os peemedebistas
foi o privilégio concedido pela presidente do país aos aliados com baixa
representatividade no Senado, a exemplo do PSD, que elegeu três senadores, e do
PROS, que não conquistou nenhuma cadeira na Casa, mas, mesmo assim, eles conseguiram
conquistar os ministérios das Cidades e da Educação, respectivamente.
Diante desses fatos, o tom no aludido encontro foi
bastante duro e contundente, tendo o senador alagoano afirmado que, se o
governo retirar os nomes do segundo escalão que o PMDB tem no Nordeste, o fato será
equivalente à declaração de "guerra" à bancada. Na ocasião, o senador
teria ironizado a situação, ao declarar que, agindo dessa forma, o Planalto
terá de se socorrer no Senado do PSD e do PROS.
Após ter sido fragorosamente derrotado na principal
batalha do primeiro escalão, o PMDB do Senado quer manter ou garantir,
principalmente, a presidência e os principais cargos já conquistados, com
destaque para o Banco do Nordeste (BNB), a Companhia do Desenvolvimento do Vale
do São Francisco (Codevasf) e o Departamento Nacional de Obras contra as Secas
(Dnocs). Embora o Palácio do Planalto pretenda destinar esses postos a outros
aliados, como o PP, que na reforma perdeu o Ministério das Cidades, mas foi
deslocado para a Integração Nacional.
Não há a menor dúvida de que a presidente petista vai
ser obrigada a atender às exigências peemedebistas, sob pena de sofrer terríveis
revés no Senado, com as fortes ameaças e chantagens que o PMDB pode fazer, ante
a necessidade da aprovação, com a chancela do Senado, de medidas de ajuste
fiscal da nova equipe econômica que precisam passar pelo crivo do Congresso. O
governo federal terá extensa lista de propostas que precisa ser apreciada pelos
senadores, a exemplo do Orçamento de 2015; das medidas provisórias que mudam
regras para concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas; prorrogação
para além do final de 2015 da Desvinculação das Receitas da União (DRU) - que
permite ao governo utilizar livremente 20% dos recursos vinculados a áreas
obrigatórias pela Constituição -; a nova política de salário mínimo a partir de
2016; a Lei Geral das Antenas; o novo Marco da Mineração e a reforma do ICMS.
Se o governo não atender aos pleitos, o PMDB do
Senado, além de não avalizar todas as propostas que serão enviadas pelo
Executivo ao Congresso, pretende dividir com a oposição a administração de
importantes postos na Mesa, em retaliação às pretensões do Palácio do Planalto.
As atitudes de baixa personalidade dos peemedebistas,
impondo ameaças e retaliações ao governo caso não sejam atendidas suas
exigências, evidenciam não somente desespero pela possível perda de espaço e
cargos importantes na gestão pública, prova do arraigado apego ao fisiologismo
ideológico, como forma incondicional de apoiar o governo, mas também o nível da
política que ainda se pratica no país tupiniquim, onde o Estado serve de moeda de
troca, em clara degeneração dos princípios da ética, moral e dignidade.
Não há dúvida de que o nível dos políticos
brasileiros encontra-se bem inferior aos das republiquetas, ante a nítida falta
de dignidade e de compostura como representante do povo trabalhador e muito
cônscio da sua responsabilidade como cidadão honesto, que tem sido sacrificado
com a imposição de tantos tributos que são pagos para o custeio, entre tantas
despesas sem políticas definidas e prioritárias, da manutenção da máquina
pública, deficiente e comandada por apaniguados políticos, sem a menor
responsabilidade senão com os interesses pessoais e partidários, sem preparo
administrativo e ainda imbuídos da falta de escrúpulo.
O exemplo do movimento arquitetado na presente reportagem
mostra, de forma cristalina, a agressividade como o maior partido do país faz
ameaça e defende o deplorável fisiologismo ideológico como instrumento eficaz
para garantir apoio político ao governo, ou seja, em troca de cargos públicos,
em demonstração de vileza e pequenez moral.
Com certeza, essa indignidade que vem sendo
praticada na administração do país continente como o Brasil, em que há briga,
acusações, ameaças, intimidações e outras baixarias, é absolutamente
inadmissível nas nações de pior reputação democrática, onde a coisa pública é
tratada sem o menor senso de civilidade.
A reportagem mostra completa degeneração dos
princípios ético e moral, consistindo em verdadeira ameaça de guerra e de
revide entre as principais lideranças que dominam e ditam as regras sobre os
destinos dos bestas dos brasileiros, que, na sua pequena maioria, totalmente
desinformada e recheada de alienados e fanáticos, ideologicamente, prefere continuar
apoiando incondicionalmente o progressivo caos que foi instalado no país.
Mostra-se absolutamente espúria a conjuntura de
coalizão de governabilidade, estruturada de forma estratégica para que o
governo possa contar força no Congresso, no caso das votações de projetos e
matérias do interesse governamental, notadamente no horroroso e desastroso caso
da pilhagem da Petrobras, que foi protagonizado a partir do aparelhamento da
estatal por apaniguados do próprio governo, reforçado com a participação de
integrantes do PT, PMDB e PP, segundo depoimentos prestados à Justiça Federal por
ex-diretor de Abastecimentos da empresa.
Ou seja, as duras ameaças oriundas do PMDB são
poderosíssimas armas contra o governo fragilizado com o seu envolvimento nas
fraudes perpetradas na estatal, conforme os relatos tornados ostensivos, que
são altamente comprometedores à dignidade que deve imperar na administração do
país.
É completamente inadmissível que os brasileiros
honrados, trabalhadores, cônscios de suas responsabilidades cívica e patriótica
e principalmente as entidades e organizações civis não se manifestem, com
veemência, contra esse descalabro imposto à administração do país, que não
resiste ao crivo da ética e da moralidade no quesito das nomeações dos
principais e importantes cargos do Executivo, que são preenchidos sob o
critério do apadrinhamento, compadrio e tráfico de influência, de modo a
comprometer a eficiência e a decência na gestão dos recursos dos contribuintes,
que são obrigados a arcar com uma das maiores cargas tributárias do mundo, cuja
prestação dos serviços públicos é sensivelmente prejudicada em razão da
precariedade e deficiência do gerenciamento da administração do país. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de janeiro de 2015
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