domingo, 25 de janeiro de 2015

Papel dignificante?

Um senador pelo PT de São Paulo pretende procurar o ex-ministro da Casa Civil da Presidência da República, condenado no rumoroso processo do mensalão, por sete anos e onze meses de prisão, por corrupção ativa, mas somente ficou preso por pouco mais de onze meses e cumpre o restante da pena em regime aberto, desde novembro.
O parlamentar disse que "Zé Dirceu é considerado na história do partido uma das pessoas que mais colaborou para sua formação e organização. Ele foi julgado, teve direito de defesa e recebeu a pena que tem cumprido. Um ser humano pode cometer erros, mas pode procurar depois os caminhos de correção e superação de sua trajetória. Portanto, ele pode dentro do PT ainda ter um papel significativo na medida em que ele tiver cumprido sua pena".
É bastante difícil se compreender como pessoa considerada malfeitora e condenada pelo Supremo Tribunal Federal, por crime contra a administração pública, ainda possa ter o reconhecimento do partido com capacidade para assumir "papel significativo no PT", dando a entender que o partido não tem o mínimo de interesse em preservar a dignidade na política e muito menos da administração do país, por reconhecer, sem o menor escrúpulo, que um criminoso condenado e ainda cumprindo pena seja capaz de contribuir com algo importante para as atividades do partido.
O mínimo que se poderia esperar era que o partido, considerando a gravidade dos fatos constantes do processo do famigerado mensalão, tivesse a dignidade de expulsar da agremiação os filiados que não honraram os princípios da ética, da moralidade, da honradez e dos bons costumes de cidadania.  
A tentativa de resgatar a figura de político que foi completamente desmoralizado por força do julgamento da ação penal do mensalão demonstra, de forma cabal, a falta de liderança de partido que se diluiu com seus atos de corrupção ao longo da sua história política e ainda se mantém ativo muito mais por força do fanatismo de seus filiados que insistem em não reconhecer o tanto de desacertos protagonizados em prejuízo aos bons princípios, notadamente no que diz respeito à má administração do país, diante do conjunto de irregularidades e da falta da prestação de serviços públicos de qualidade e das contumazes corrupções na gestão dos recursos públicos.
Fica muito difícil se acreditar no partido que demonstra enormes dificuldades em combater a corrupção ou até mesmo em punir seus filiados envolvidos em atos irregulares, devidamente comprovados pela Justiça, mas, ao contrário, os promove com o título honorifico de heróis, como se eles tivessem contribuído para algo dignificante em benefício da sociedade, quando os fatos evidenciam justamente a quebra dos conceitos de honradez e de dignidade, o que se recomendaria era a imediata expulsão do partido dos envolvidos no mensalão, como forma de mostrar, no mínimo, desaprovação aos atos de corrupção, que têm o poder de macular para sempre a credibilidade da agremiação e de seus integrantes.
Com certeza, qualquer partido político, com o mínimo de seriedade e responsabilidade cívica, jamais seria capaz de se aproximar de pessoas condenadas por corrupção, porque o fato em si deixa claro que o vínculo com o mundo da criminalidade ainda persiste em plena vigência, sem o menor receio de que isso opera em desfavor da moralidade e da dignidade políticas.
Os fatos apenas mostram que o partido não tem a menor preocupação com a necessidade da observância dos princípios da dignidade e da moralidade, porque a memória curtíssima dos brasileiros jamais vai atentar para os malefícios que os mensaleiros causaram ao país, em termos de menosprezo ao regramento jurídico do país.
Compete à sociedade recriminar e abominar os políticos que são incapazes de avaliar o quanto seus insensatos atos de aproximação com os criminosos são prejudiciais à preservação dos princípios da dignidade e da moralidade que devem prevalecer nas atividades político-administrativas do país, como forma capaz de contribuir para se escoimar da vida pública os maus políticos que estão muito mais preocupados com a satisfação de seus interesses ou os de seu partido, em detrimento das causas nacionais que devem prevalecer sobre quaisquer pretensões ou causas políticas. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 24 de janeiro de 2015

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