A
presidente da República afirmou em entrevista ao Grupo de Diários América que "O Brasil não vive uma crise de corrupção,
como dizem alguns. Nos últimos anos, começamos a pôr fim a um largo período de
impunidade. Isso é um grande avanço para a democracia brasileira", em
resposta à indagação sobre se o escândalo na Petrobras pode afetar a
estabilidade política necessária para o segundo mandato.
Indagada
sobre como é possível liderar uma campanha anticorrupção "séria" se o PT é o "protagonista" do escândalo da
Petrobras, a presidente ressaltou que as suspeitas da Polícia Federal são de
que os esquemas na estatal começaram antes do governo do seu antecessor.
Ela
fez questão de ressaltar que "Como
já disse, é a Polícia Federal do meu governo que conduz as investigações sobre
a corrupção na Petrobras. Foram essas investigações que levaram ao
desmantelamento de um esquema do qual se suspeita que tem décadas de
existência, com anterioridade aos governos do PT" e que estar "indignada" com as denúncias que
envolvem a estatal, que é o mesmo sentimento dos brasileiros, razão de querer
que os responsáveis pelos desvios de recursos da empresa sejam "castigados".
A
presidente disse ainda que, no Brasil, não há "intocáveis" e, como fez em diversas vezes nos últimos meses, defendeu
as ações de combate à corrupção adotadas pelo governo, tendo ressaltado ser o
combate à impunidade compromisso da atual gestão.
Como
ela acha que é algo pomposo, adiantou que "Quero ressaltar que somos nós, do meu governo, que temos liderado o
processo contra a impunidade no Brasil, pondo fim a uma era de ilícitos que se
ocultavam debaixo do tapete. Eu mesma despedi, três anos antes das
investigações, o diretor (Paulo Roberto Costa) que confessou diante da Justiça a confirmação do esquema de desvio de
dinheiro na Petrobras".
À
toda evidência, a pessoa que não a presidente brasileira, ao ler a entrevista
em tela, vai concluir tranquilamente que ela vive noutro país e está totalmente
desinformada sobre a dura e cruel realidade sobre a podridão que se passa na
entranha do governo, principalmente diante da estranha afirmação de que o
Brasil não vive "crise de corrupção", ao comentar as denúncias de
irregularidades na Petrobras, investigadas pela Polícia Federal na Operação
Lava Jata, que consistem na constatação do maior escândalo da história da República.
Como
é mais do que evidente, por obra e graça dos depoimentos prestados à Justiça
Federal pelo ex-diretor de Abastecimentos da Petrobras, fica patente que as
roubalheiras na estatal começaram exatamente na gestão do antecessor do atual
governo, também petista, e não na administração tucana, fato que não encontra
correspondência na afirmação da presidente do país, que teria contrariado as
declarações do aludido ex-diretor.
Também
não é verdade que tenha sido a “Polícia
Federal do meu governo que conduz as investigações sobre a corrupção na
Petrobras”, porquanto elas são conduzidas, na verdade, pela Justiça
Federal, com sede no Paraná, embora a Polícia Federal tenha sido o órgão responsável
pelas investigações iniciais, em março de 2014, que levaram ao desmantelamento
do esquema criminoso de lavagem de dinheiro, implantado no governo petista, com
a participação, em conluio, entre o PT, PMDB e PP, conforme depoimentos do
citado ex-diretor, com suspeitas preliminares da movimentação fraudulenta da
quantia de R$ 10 bilhões.
A
crise de corrupção é tão profunda no governo brasileiro que os fatos, por si
sós, cuidam de mostrá-los à saciedade, e a forma pouco consistente de negá-la
não condiz exatamente com a realidade e a honradez que devem imperar em governo
com dignidade, dando a impressão de que o escapismo e a falta da verdade são
tentativas claras da incapacidade de solucionar o problema com competência,
coragem e determinação. Ao contrário disso, o governo já demonstrou que tem
dificuldade para lidar com as questões envolvendo a desastrosa situação da
Petrobras, à vista da inexistência de medidas capazes de solucionar os graves
fatos que levaram a estatal à ruína, com a gigantesca perda do seu patrimônio.
Veja-se
que nenhuma providência saneadora da crise foi adotada pelo governo, posto que
até a diretoria da estatal continua intata desde as denúncias das
irregularidades, apesar da inércia de dirigentes após terem conhecimento de
fatos estranhos e suspeitos. Além disso, o resultado das Comissões
Parlamentares de Inquérito, instauradas no Congresso Nacional, com
predominância de membros governistas, não apresentou quase nada expressivo
sobre os fatos danosos, embora as investigações da Polícia Federal, do
Ministério Público e da Justiça Federal terem apontado uma série de graves
irregularidades.
Não
há dúvida de que as declarações da presidente estão bem distantes da linha da responsabilidade
e da seriedade de mandatária consciente da gravidade dos fatos já comprados,
que apontam para real crise de corrupção, mas que é inexplicavelmente negada ou
até mesmo imputada a sua incidência já no governo anterior, sem a menor
plausibilidade - como mostram os depoimentos de pessoas envolvidas -, apenas
como forma de não assumir a paternidade ou a maternidade das irregularidades e
da má gestão dos recursos públicos.
Com
certeza, caso os fatos irregulares constatadas no governo brasileiro acontecessem
num país com o mínimo de seriedade, não haveria, em absoluto, crise, mas sim
epidemia de corrupção, ante a abrangência e a profundidade das irregularidades,
com o envolvimento de políticos, empresários e dirigentes, que foram capazes de
abater a quase morte a empresa que era considerada fortíssima e sólida como a
Petrobras, que simplesmente foi a nocaute econômico-financeiro.
Compete à sociedade, no âmbito da sua
responsabilidade cívica, repudiar e censurar as afirmações pouco consistentes
sobre a gravidade da grave crise que afeta seriamente a administração
econômico-financeira da Petrobras e exigir da governante do país que assuma, com
urgência, seriedade e responsabilidade a atribuição de solucionar a tragédia
que abalou os alicerces da aludida estatal, evitando ignorar a profundidade dos
prejuízos causados ao país, que caracterizam sim crise de corrupção. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 20 de janeiro de 2015
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