quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Não há crise de corrupção?

A presidente da República afirmou em entrevista ao Grupo de Diários América que "O Brasil não vive uma crise de corrupção, como dizem alguns. Nos últimos anos, começamos a pôr fim a um largo período de impunidade. Isso é um grande avanço para a democracia brasileira", em resposta à indagação sobre se o escândalo na Petrobras pode afetar a estabilidade política necessária para o segundo mandato.
Indagada sobre como é possível liderar uma campanha anticorrupção "séria" se o PT é o "protagonista" do escândalo da Petrobras, a presidente ressaltou que as suspeitas da Polícia Federal são de que os esquemas na estatal começaram antes do governo do seu antecessor.
Ela fez questão de ressaltar que "Como já disse, é a Polícia Federal do meu governo que conduz as investigações sobre a corrupção na Petrobras. Foram essas investigações que levaram ao desmantelamento de um esquema do qual se suspeita que tem décadas de existência, com anterioridade aos governos do PT" e que estar "indignada" com as denúncias que envolvem a estatal, que é o mesmo sentimento dos brasileiros, razão de querer que os responsáveis pelos desvios de recursos da empresa sejam "castigados".
A presidente disse ainda que, no Brasil, não há "intocáveis" e, como fez em diversas vezes nos últimos meses, defendeu as ações de combate à corrupção adotadas pelo governo, tendo ressaltado ser o combate à impunidade compromisso da atual gestão.
Como ela acha que é algo pomposo, adiantou que "Quero ressaltar que somos nós, do meu governo, que temos liderado o processo contra a impunidade no Brasil, pondo fim a uma era de ilícitos que se ocultavam debaixo do tapete. Eu mesma despedi, três anos antes das investigações, o diretor (Paulo Roberto Costa) que confessou diante da Justiça a confirmação do esquema de desvio de dinheiro na Petrobras".
À toda evidência, a pessoa que não a presidente brasileira, ao ler a entrevista em tela, vai concluir tranquilamente que ela vive noutro país e está totalmente desinformada sobre a dura e cruel realidade sobre a podridão que se passa na entranha do governo, principalmente diante da estranha afirmação de que o Brasil não vive "crise de corrupção", ao comentar as denúncias de irregularidades na Petrobras, investigadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jata, que consistem na constatação do maior escândalo da história da República.
Como é mais do que evidente, por obra e graça dos depoimentos prestados à Justiça Federal pelo ex-diretor de Abastecimentos da Petrobras, fica patente que as roubalheiras na estatal começaram exatamente na gestão do antecessor do atual governo, também petista, e não na administração tucana, fato que não encontra correspondência na afirmação da presidente do país, que teria contrariado as declarações do aludido ex-diretor.
Também não é verdade que tenha sido a “Polícia Federal do meu governo que conduz as investigações sobre a corrupção na Petrobras”, porquanto elas são conduzidas, na verdade, pela Justiça Federal, com sede no Paraná, embora a Polícia Federal tenha sido o órgão responsável pelas investigações iniciais, em março de 2014, que levaram ao desmantelamento do esquema criminoso de lavagem de dinheiro, implantado no governo petista, com a participação, em conluio, entre o PT, PMDB e PP, conforme depoimentos do citado ex-diretor, com suspeitas preliminares da movimentação fraudulenta da quantia de R$ 10 bilhões.
A crise de corrupção é tão profunda no governo brasileiro que os fatos, por si sós, cuidam de mostrá-los à saciedade, e a forma pouco consistente de negá-la não condiz exatamente com a realidade e a honradez que devem imperar em governo com dignidade, dando a impressão de que o escapismo e a falta da verdade são tentativas claras da incapacidade de solucionar o problema com competência, coragem e determinação. Ao contrário disso, o governo já demonstrou que tem dificuldade para lidar com as questões envolvendo a desastrosa situação da Petrobras, à vista da inexistência de medidas capazes de solucionar os graves fatos que levaram a estatal à ruína, com a gigantesca perda do seu patrimônio.
Veja-se que nenhuma providência saneadora da crise foi adotada pelo governo, posto que até a diretoria da estatal continua intata desde as denúncias das irregularidades, apesar da inércia de dirigentes após terem conhecimento de fatos estranhos e suspeitos. Além disso, o resultado das Comissões Parlamentares de Inquérito, instauradas no Congresso Nacional, com predominância de membros governistas, não apresentou quase nada expressivo sobre os fatos danosos, embora as investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal terem apontado uma série de graves irregularidades.
Não há dúvida de que as declarações da presidente estão bem distantes da linha da responsabilidade e da seriedade de mandatária consciente da gravidade dos fatos já comprados, que apontam para real crise de corrupção, mas que é inexplicavelmente negada ou até mesmo imputada a sua incidência já no governo anterior, sem a menor plausibilidade - como mostram os depoimentos de pessoas envolvidas -, apenas como forma de não assumir a paternidade ou a maternidade das irregularidades e da má gestão dos recursos públicos.
Com certeza, caso os fatos irregulares constatadas no governo brasileiro acontecessem num país com o mínimo de seriedade, não haveria, em absoluto, crise, mas sim epidemia de corrupção, ante a abrangência e a profundidade das irregularidades, com o envolvimento de políticos, empresários e dirigentes, que foram capazes de abater a quase morte a empresa que era considerada fortíssima e sólida como a Petrobras, que simplesmente foi a nocaute econômico-financeiro.
Compete à sociedade, no âmbito da sua responsabilidade cívica, repudiar e censurar as afirmações pouco consistentes sobre a gravidade da grave crise que afeta seriamente a administração econômico-financeira da Petrobras e exigir da governante do país que assuma, com urgência, seriedade e responsabilidade a atribuição de solucionar a tragédia que abalou os alicerces da aludida estatal, evitando ignorar a profundidade dos prejuízos causados ao país, que caracterizam sim crise de corrupção. Acorda, Brasil!
 
           ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
           Brasília, em 20 de janeiro de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário