quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Irracionalidade e desumanidade

A população de uma cidadezinha do interior do México, cansada do crescente índice de violência e criminalidade que a atormentava, houve por bem fazer justiça com as próprias mãos.
Uma multidão de mais de 100 pessoas se mobilizou e apanhou quatro contumazes ladrões em ação, aplicou-lhes severo espancamento e depois os deixou amarrados em árvores da localidade.
Os delinquentes foram flagrados roubando casas, que eram invadidas com mais frequência à noite. A quadrilha que foi surpreendida pela ação popular era integrada por dois homens, uma mulher e um adolescente, que, depois de capturados, foram espancados e expostos na via pública de um bairro.
A reação popular foi tão violenta que um dos integrantes do grupo não resistiu aos maus-tratos e acabou morrendo. Embora a mulher tivesse alegado estar grávida, mesmo assim não foi poupada dos violentos espancamentos.
Segundo um morador da região, “Nós avisamos. Avisamos uma, duas, várias vezes e eles sempre voltavam para nos roubar. Avisamos que iríamos pegá-los e o fizemos”.
É induvidoso que a questão da violência é de abrangência mundial, embora ela sobressaia com maior destaque nos países que descuidaram da priorização das políticas públicas objetivando cuidar com intensificação das suas causas, como forma eficiente para combatê-la e proteger a sociedade.  
Também é evidente que os atos infracionais devem ser punidos em consonância com as leis penais do país, não se justificando que seja feita justiça com as próprias mãos, porque isso se coaduna muito mais com medidas de irracionalidade que não contribuem, em pleno século XXI, para a humanização. Não obstante, não se quer dizer com isso que deva haver tolerância com a bandidagem e a criminalidade. Nada disso, porque existem os mecanismos apropriados para se cuidar dos casos de delinquência, bastando apenas aplicá-los adequada e racionalmente, à medida que houvesse interesse político para tanto.
Convém que haja esforço da sociedade prejudicada no sentido de se conscientizar sobre a necessidade de se eleger representantes que se comprometam a atuar com eficiência e presteza contra as mazelas consistentes, em especial, na falta da prestação de serviços públicos de qualidade, inclusive de segurança pública, de modo que o combate à criminalidade seja objeto de prioridade permanente, especialmente nas regiões onde os índices de violência sejam em potencial alarmantes, a exemplo do caso focalizado na reportagem, que ocorrem com banalidade em muitas localidades brasileiras.
Não há dúvida de que a violência é fruto da contextualização do país, cujos governantes vêm demonstrando completa leniência com o status quo, possivelmente em razão da falta de pressão, que é visivelmente inexistente por parte da sociedade, como se ela estivesse conformada com a inconsistência e deficiência das políticas de segurança pública, por falta de priorização e de maciços investimentos, com vistas ao aperfeiçoamento das condições de funcionamento dos sistemas pertinentes, com a melhoria das estruturas dos policiamentos, passando pelo aumento dos efetivos das corporações, que devem ser preparadas com treinamento e aparelhamento dos instrumentos capazes de contribuir para a eficiência e a eficácia do combate à criminalidade e à violência.
Na realidade, a insegurança e a violência somente tendem a piorar enquanto a sociedade for complacente com governantes populistas, incompetentes, displicentes e irresponsáveis, permitindo que eles continuem representando-a de forma prejudicial aos seus interesses, principalmente nos moldes prevalecentes no país tupiniquim, à vista da péssima remuneração dos responsáveis pela operacionalização da segurança pública, da incompatibilidade dos efetivos das corporações com a população, quando esta cresce inversamente à recomposição de pessoal daquelas unidades de policiais, em evidente comprometimento da eficiência dos resultados de combate à criminalidade.
Urge que haja transformação da mentalidade da sociedade, notadamente na busca de solução racional para se combater, com efetividade, a criminalidade, porque a barbárie dos espancamentos, tanto no país tupiniquim como no exterior, somente contribui para aumentar ainda mais a violência, que tem sido aliada da incompetência das autoridades públicas, ante a sua cumplicidade com ela, em consonância com a demonstração da falta de interesse para solucionar as causas da incidência da criminalidade.
Diante dos fatos recorrentes, principalmente no país tupiniquim, convém que a sociedade faça verdadeiro exame de consciência, em enorme esforço de mobilização, para exigir das autoridades públicas, com enfoque maior para os governantes e os parlamentares, com vistas a se encontrar urgente solução, de forma racional e humana, para o gravíssimo problema da insegurança pública que tanto aflige a humanidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 07 de janeiro de 2015

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