O ataque terrorista ao jornal
francês tirou a vida, de forma violenta, de grandes mestres do cartum mundial,
deixando o mundo perplexo com o tamanho da estupidez, possivelmente em nome do
sentimento perturbado pelo fanatismo doentio dos radicais islâmicos.
Os assassinatos de grandes nomes
do humorismo internacional chocaram a humanidade, não somente pelas irreparáveis
perdas das inteligências artística e profissional, mas, sobretudo, pela forma
inusitada da truculência como os fatos aconteceram, sob justificativas absurdas
de se fazer justiça a líder religioso, que certamente não concordaria com
tamanha barbárie graciosa e sem o menor sentido.
É evidente que o mundo chora a
morte de importantes profissionais do humor, que certamente contribuíram, de
forma expressiva, para que a liberdade de imprensa tornasse o homem mais
civilizado e humanizado.
A
injustificável brutalidade causou enorme prejuízo à humanidade, por ter tirado
a vida de mestres de outros não menos importantes mestres, respeitados
mundialmente, que prestaram significativos ensinamentos de qualidade a
gerações, sob a ética e a responsabilidade da disseminação do humor construtivo
e propositivo.
Tanto na França como no Brasil, é notável
a influência do humorismo na vida das pessoas, a exemplo do Pasquim, o maior
símbolo da subversão do humor e da contestação política do país na
ditadura militar, que, como nenhum órgão da imprensa soube contornar, com
o fino do humor crítico, o rígido controle da censura militar.
Segundo
relatos históricos, os fundadores do jornal Charlie
Hebdo, onde trabalhavam os cartunistas assassinados, influenciou, à vista
da irreverência dos cartunistas franceses, os artistas nacionais ao
encorajamento para a organização de importante projeto que marcou a vida dos
brasileiros e viria a se tornar verdadeiro patrimônio do humor brasileiro: O Pasquim, idealizado por
figuras imponentes e expressivas do jornalismo brasileiro, cujo sucesso
editorial incomodou barbaramente o sistema político então vigente.
Um
cartunista brasileiro disse que “Bebíamos
avidamente aquele humor satírico, cáustico e muito engraçado. Para o ‘Charlie
Hebdo’ nada é sagrado. É o humor em estado bruto. Na época da ditadura era o
que precisávamos, um humor político direto e sem muita sutileza”.
O
Pasquim foi tão importante que se tornou porta-voz da sociedade, contribuindo
para significativas mudanças sociais, num cenário da contracultura da década de
1960, tendo cuidado de temas comportamentais e polêmicos, que terminaram
incomodando e muito o regime de então.
O
certo é que parece haver contradição existencial tanto do Charlie Hebdo quanto de O Pasquim – com seus
diferentes contextos culturais e históricos – por terem deixado importantes
contribuições à humanidade e trazerem à tona, na sua essência da arte
provocadora, que instiga o pensamento crítico e a liberdade criativa. Todavia,
esses jornais se envolveram em cenários não condizentes com seus propósitos de
bem servir à humanidade, principalmente no caso do ataque em Paris, que levou
embora do convívio terráqueo, de maneira violenta e devastadora, a nata dos
bons sátiros, deixando o mundo atônito com a inexplicável barbárie.
Em
2011, quando o prédio do Charlie Hebdo
foi alvo de incêndio criminoso, também por retaliação às caricaturas publicadas
sobre o profeta Maomé, o jornal respondeu à agressão com o desenho de um
muçulmano beijando um cartunista do periódico, que contou com o acompanhamento da
expressão “O amor é mais forte que o ódio”.
A
sociedade anseia que o lamentável acontecimento que ceifou as vidas de
jornalistas franceses possa servir de esperança e iluminação para aqueles que
têm a sublime responsabilidade de construir, com a arte do humor, as bases para
a disseminação dos parâmetros da liberdade de expressão, da contestação sadia e
do livre pensar, como formas de contribuir para as saudáveis mudanças sociais,
politicas e democráticas, fazendo com que o mundo seja mais humanizado e
civilizado e os povos possam viver em plena harmonia, par e amor.
A vida sem humor, perde a graça! A graça da vida tem que ter humor! A
morte do humor é a morte da vida! A substância do humor é a razão da vida!
Matar o humor é vida sem viver! A vida sem humor é vida sem vida! A vida com
humor tem seu valor! O valor da vida é viver com humor! E viva a vida com
humor!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 08 de janeiro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário