sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

E viva a vida com humor!

O ataque terrorista ao jornal francês tirou a vida, de forma violenta, de grandes mestres do cartum mundial, deixando o mundo perplexo com o tamanho da estupidez, possivelmente em nome do sentimento perturbado pelo fanatismo doentio dos radicais islâmicos.
Os assassinatos de grandes nomes do humorismo internacional chocaram a humanidade, não somente pelas irreparáveis perdas das inteligências artística e profissional, mas, sobretudo, pela forma inusitada da truculência como os fatos aconteceram, sob justificativas absurdas de se fazer justiça a líder religioso, que certamente não concordaria com tamanha barbárie graciosa e sem o menor sentido.
É evidente que o mundo chora a morte de importantes profissionais do humor, que certamente contribuíram, de forma expressiva, para que a liberdade de imprensa tornasse o homem mais civilizado e humanizado.
A injustificável brutalidade causou enorme prejuízo à humanidade, por ter tirado a vida de mestres de outros não menos importantes mestres, respeitados mundialmente, que prestaram significativos ensinamentos de qualidade a gerações, sob a ética e a responsabilidade da disseminação do humor construtivo e propositivo.
          Tanto na França como no Brasil, é notável a influência do humorismo na vida das pessoas, a exemplo do Pasquim, o maior símbolo da subversão do humor e da contestação política do país na ditadura militar, que, como nenhum órgão da imprensa soube contornar, com o fino do humor crítico, o rígido controle da censura militar.
Segundo relatos históricos, os fundadores do jornal Charlie Hebdo, onde trabalhavam os cartunistas assassinados, influenciou, à vista da irreverência dos cartunistas franceses, os artistas nacionais ao encorajamento para a organização de importante projeto que marcou a vida dos brasileiros e viria a se tornar verdadeiro patrimônio do humor brasileiro: O Pasquim, idealizado por figuras imponentes e expressivas do jornalismo brasileiro, cujo sucesso editorial incomodou barbaramente o sistema político então vigente.
          Um cartunista brasileiro disse que “Bebíamos avidamente aquele humor satírico, cáustico e muito engraçado. Para o ‘Charlie Hebdo’ nada é sagrado. É o humor em estado bruto. Na época da ditadura era o que precisávamos, um humor político direto e sem muita sutileza”.
O Pasquim foi tão importante que se tornou porta-voz da sociedade, contribuindo para significativas mudanças sociais, num cenário da contracultura da década de 1960, tendo cuidado de temas comportamentais e polêmicos, que terminaram incomodando e muito o regime de então.
O certo é que parece haver contradição existencial tanto do Charlie Hebdo quanto de O Pasquim – com seus diferentes contextos culturais e históricos – por terem deixado importantes contribuições à humanidade e trazerem à tona, na sua essência da arte provocadora, que instiga o pensamento crítico e a liberdade criativa. Todavia, esses jornais se envolveram em cenários não condizentes com seus propósitos de bem servir à humanidade, principalmente no caso do ataque em Paris, que levou embora do convívio terráqueo, de maneira violenta e devastadora, a nata dos bons sátiros, deixando o mundo atônito com a inexplicável barbárie.
Em 2011, quando o prédio do Charlie Hebdo foi alvo de incêndio criminoso, também por retaliação às caricaturas publicadas sobre o profeta Maomé, o jornal respondeu à agressão com o desenho de um muçulmano beijando um cartunista do periódico, que contou com o acompanhamento da expressão “O amor é mais forte que o ódio”.
A sociedade anseia que o lamentável acontecimento que ceifou as vidas de jornalistas franceses possa servir de esperança e iluminação para aqueles que têm a sublime responsabilidade de construir, com a arte do humor, as bases para a disseminação dos parâmetros da liberdade de expressão, da contestação sadia e do livre pensar, como formas de contribuir para as saudáveis mudanças sociais, politicas e democráticas, fazendo com que o mundo seja mais humanizado e civilizado e os povos possam viver em plena harmonia, par e amor.
A vida sem humor, perde a graça! A graça da vida tem que ter humor! A morte do humor é a morte da vida! A substância do humor é a razão da vida! Matar o humor é vida sem viver! A vida sem humor é vida sem vida! A vida com humor tem seu valor! O valor da vida é viver com humor! E viva a vida com humor!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 08 de janeiro de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário