segunda-feira, 5 de junho de 2017

A delação das delações

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas está ultimando o roteiro pertinente à delação premiada que pretende implementar muito em breve, junto à Operação Lava-Jato, por entender que é a única maneira de se livrar da prisão em Curitiba, onde está recluso desde setembro do ano passado e, para tanto, ele se compromete a delatar até o ex-presidente da República petista, que recentemente privava da sua intimidade, como amigo.
No roteiro, consta que ele também deverá entregar os esquemas degenerativos de corrupção que envolviam, em especial, a venda de Medidas Provisórias para bancos e grandes empresas brasileiras.
          Com o acordo que ele propôs livremente à Lava-Jato, o ex-ministro negocia o cumprimento de pena de apenas um ano em prisão domiciliar, que vem sendo considerada punição magrinha, para quem é acusado de ter recebido o expressivo montante de R$ 128 milhões de propinas da Odebrecht, para repassar ao seu partido.
Além disso, o ex-ministro, que tinha a identificação de “italiano” no departamento de propinas da Odebrecht, era o responsável pela movimentação de conta secreta da empreiteira em nome do amigo-mor, que atendia pela alcunha de “amigo”, e que chegou a ter o valor de R$ 40 milhões à sua disposição.
Conforme o acordo já firmado, o ex-ministro confirmou aos procuradores do Ministério Público Federal que irá mesmo delatar o ex-amigo, principalmente por meio de explicação sobre as circunstâncias em que foram movimentados os valores de R$ 40 milhões “destinados para atender às demandas” do então amigo, em consonância com a revelação do empreiteiro da Odebrecht, em depoimento ao juiz da Lava-Jato.
Há informação de que, pelo menos, foi sacado o valor de R$ 13 milhões, em espécie, ou seja, em dinheiro vivo, e entregues ao ex-presidente petista pelo assessor do ex-ministro.
O ex-ministro já disse que irá detalhar também a divisão de propinas na criação da empresa Sete Brasil, em 2010, cujo negócio teria gerado subornos da Odebrecht, no valor de R$ 51 milhões, e, de acordo com o ex-ministro, o ex-presidente teria se beneficiado de 50% desse valor.
Ele deverá revelar ainda como foi a captação do valor de R$ 50 milhões junto à Odebrecht para a ex-presidente petista, em 2009, com a participação de outro ex-ministro da Fazenda petista e da ajuda do ex-presidente, cujo dinheiro foi usado na campanha de 2014.
O ex-ministro já antecipou aos procuradores que irá detalhar como funcionava a venda de Medidas Provisórias para grandes bancos, que incluíam os nomes de, ao menos, 20 empresas que pagaram subornos ao PT. Esses grupos teriam se beneficiado de esquemas de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
Ao que tudo indica, desta vez, o maior líder petista não terá como reclamar de pressão feita pelos investigadores para o delator confessar o que sabe à Operação Lava-Jato, tendo em conta que foi o próprio ex-ministro que, perante o juiz de Curitiba, disse que gostaria de prestar importantes informações, que são suficientes para ocupar a força-tarefa, pelo menos, um ano, de tanta fartura de informações que dispõe para revelar.
O ex-ministro já adiantou que o principal alvo da sua deleção será mesmo o seu grande ex-amigo, para quem teria prestado, até há pouco tempo, relevantes serviços na área financeira, na sua maioria envolvendo dinheiro com origem ilícita.
No caso das delações dos executivos da Odebrecht, a imprensa as qualificou de delações do fim do mundo, ante o efeito bombástico e destruidor das informações nelas contidas, mas certamente a delação do ex-ministro da Fazenda terá efeito demolidor muito mais poderoso do que aquele causado pelas citadas delações, principalmente porque esta última se origina de quem foi fiel amigo e escudeiro do maior político do país, que, apesar de várias acusações da prática de irregularidade na vida pública, não se cansa de propalar que é a pessoa mais honesta do planeta.
Até agora, o ex-presidente procurou desacreditar e menosprezar todas as delações, principalmente as qualificando como sendo mentirosas e sem a menor credibilidade, mas as informações prestadas pelo seu ex-ministro são absolutamente confiáveis, uma vez que a redução da pena ou a liberdade dele pende exatamente da autenticidade e da qualidade dos elementos e das informações prestados, porque qualquer falsidade implica exatamente a perda da premiação, em forma de liberdade, pela colaboração à Justiça.
Diante do contexto já delineado, por certo que as informações a serem prestadas pelo ex-ministro da Fazenda petista irá causar impacto ainda maior que todas as delações já vindas à tona, porque certamente não haverá a mínima dúvida quando às suas veracidade e autenticidade, além de ser aquela que deverá pôr ponto final a quaisquer dúvidas e questionamentos sobre as práticas ilícitas supostamente atribuídas ao seu ilustre correligionário. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 5 de junho de 2017

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