segunda-feira, 5 de junho de 2017

Ética ao espaço sideral

O presidente do Senado Federal aprovou a composição do Conselho de Ética daquela Casa, que, em princípio, deverá voltar a funcionar normalmente, a partir de agora.
Na forma do regimento daquela Casa, o referido conselho tem a incumbência de analisar, entre outros assuntos, denúncias por quebra de decoro parlamentar por senadores, que podem resultar, conforme o caso, na cassação do mandato.
Embora seja investigado em oito processos pelo Supremo Tribunal Federal, o líder do governo no Senado foi anunciado como membro titular do colegiado.
Além dele, outros senadores são investigados pelo Supremo, sob a acusação de participação em casos irregulares, inclusive no âmbito da Operação Lava-Jato.
O primeiro processo a ser analisado pelo Conselho de Ética é o do senador tucano afastado, que foi denunciado pelo partido da Rede, por quebra do decoro parlamentar.
O senador tucano, que já era investigado pela Lava-Jato, teve a sua situação bastante complicada com o depoimento do empresário dono da JBS, que teria contado a procuradores do Ministério Público Federal que repassou ao parlamentar o valor de R$ 2 milhões, em atendimento ao pedido feito por ele, para pagar despesas com sua defesa na citada operação.
Não obstante, o senador tenha alegado que o citado valor se refere a pedido de empréstimo e não tem nada a ver com propina, conforme consta da sua defesa, que também argumentou que o dinheiro não tem nenhuma relação com a ocupação de cargo público.
Enquanto isso, o ministro-relator do caso, no Supremo, resolveu afastar o tucano do mandato de senador, durante as investigações, e determinar a prisão da irmã dele, também envolvida no episódio do “empréstimo”, sob a visão do parlamentar.
Diante das delações premiadas, tanto da Lava-Jato como de outras empresas, a Comissão de Ética poderá ter a incumbência de apreciar outros casos de quebra de decoro parlamentar, desde que não funcione o famigerado corporativismo, muito comum no Parlamento.
Causa perplexidade que muitos integrantes da Comissão de Ética são permanentes e normalmente indicados por grupos de senadores ou aliados de velhos caciques, dando a entender que são conduzidos exatamente por desempenharem o seu papel de defensor de interesses que não o público.
Quando os brasileiros aspiram pela moralização das práticas políticas, essa composição do Conselho de Ética mostra exatamente o seu real sentimento de frustração pela confirmação da mesmice no Parlamento, que os representantes do povo se fazem de moucos aos clamores pela dignidade e pelo decoro no exercício de cargos públicos, que têm por finalidade a exclusiva defesa do interesse público.
Por seu turno, fica a dúvida se não seria a composição da Comissão da Antiética, à vista da indicação também de senadores que estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato, sob suspeita da prática de atos irregulares?
É evidente que não se pode, desde logo, se fazer juízo de valor sobre os fatos atribuídos aos parlamentares sob investigação, mas o bom senso e a sensatez aconselham que eles devem se abster de participar de comissão que, em princípio, na forma constitucional, se destina à discussão e decisão sobre matéria que diz respeito, realmente, a algo importante e que não pode ser objeto de desconfiança, de suspeita quanto aos seus resultados.
Não há a menor dúvida de que não é normal, à luz dos princípios da dignidade, seriedade e racionalidade, a participação de senadores que estão sendo investigados, mesmo que eles estejam convencidos de que são inocentes, mas isso não reflete a realidade dos fatos perante a sociedade, por ainda pender de confirmação por quem de direito sobre a regularidade dos procedimentos, em princípio, inquinados de irregulares.
Diante da demonstração de desprezo aos comezinhos conceitos de seriedade e dignidade, os brasileiros só têm motivos para desacreditar da classe política, que insiste em contrariar a normalidade democrática, como no caso em comento, diante da gigantesca possibilidade de não haver imparcialidade na apreciação dos assuntos submetidos à alçada da Comissão de Ética, em razão da forte suspeita sobre a seriedade e a integridade moral de alguns de seus integrantes, que estão extremamente implicados com casos de corrupção ou de outros processos penais na Justiça. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 5 de junho de 2017

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