quinta-feira, 15 de junho de 2017

Desrespeito à cartilha

Um ex-procurador-geral da República e outros importantes juristas formularam pedido de impeachment de um ministro do Supremo Tribunal Federal, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral.
Os autores do documento acusam o magistrado da prática do crime de responsabilidade, com base no diálogo gravado pela Polícia Federal entre ele e o senador tucano do PSDB-MG, que se encontra afastado do cargo, por decisão do Supremo.
Na referida conversa, que foi gravada em meio às investigações referentes à delação do grupo JBS, o senador tucano pede ao ministro que ele ligue para um senador que indica, para ele votar pela aprovação do projeto de lei que trata do abuso de autoridade, conquanto o ministro responde ao senador que já conversou com outros dois senadores, sendo um do PSDB-MG e outro do PSDB-CE.
O ex-procurador-geral entende que a conversa representa prova "concreta e objetiva" de que o ministro "caracterizadamente desenvolve política partidária".
O jurista ressalta que "Ele não só se apressa a dizer a seu interlocutor que assumira a postura (de ligar para um senador) como que já providenciava contatos com dois outros senadores da República. Para mim isso é um clímax: é a hora histórica de brasileiros e brasileiras passarem o país a limpo. E não estou dizendo em passar parte".
Os autores do documento em tela devem fazer ainda outras duas representações contra o ministro, sendo uma junto à Procuradoria Geral da República e outra no Supremo Tribunal Federal.
O grupo pede ao Ministério Público que o procurador-geral examine se o ministro cometeu crime comum, por terem argumentado que o diálogo entre ele e o senador tucano é anexado à denúncia apresentada pela Procuradoria Geral contra o tucano, acusado de corrupção passiva e tentativa de obstrução da Justiça.
Já ao Supremo, será apresentada reclamação com objetivos disciplinares, diante da atuação do ministro fora da sua jurisdição laboral.
A conversa indicada no pedido de impeachment em comento não somente confirma a atuação indevida e irregular do ministro do Supremo em atividades político-partidárias, como, de resto,  sua participação ativa a favor da aprovação da Lei de Abuso de Autoridade, bem assim nas suas manifestações veementes contra os trabalhos da Operação Lava-Jato, principalmente no que diz respeito às prisões preventivas, quando, por várias vezes, já se manifestou condenando o juiz responsável por elas, em cristalino desrespeito ao trabalho de juiz de primeira instância, como se o ministro tivesse o poder e competência de censor sobre as demais áreas do Judiciário.
          O pedido de impeachment em tela mostra claramente que o magistrado acusado saiu mais do que da linha constitucionalmente estabelecida para a atuação dos ministros do Supremo e dos demais tribunais superiores, que são obrigados a seguir fielmente os padrões de profissionalismo segundo o modelo insculpido na Lei da Magistratura Nacional, de atuação somente no âmbito da jurisdição da competência institucional de seu cargo, ou seja, atividades político-partidárias são extremamente contrárias às suas funções de magistrados.
É até possível que o pedido em referência não seja analisado e decidido tal como na forma que formulado, mas é verdade que o acusado certamente pode ter extrapolado as suas áreas de atuação profissional, como magistrado, ao se manifestar e agir onde a Constituição e a Lei da Magistratura proíbem a sua presença, que tem sido não somente ativa, mas acintosa, por tentar influenciar nas decisões político-partidárias, como fica bastante comprovado na gravação indicada na petição.
Os brasileiros esperaram e acreditam que o acusado tenha a sensibilidade e a sabedoria suficientes para aprender a lição demandada no pedido em causa, para o fim de se recolher à sua função como verdadeiro magistrado, como assim é remunerado pelos contribuintes, com vistas à prestação de relevantes serviços ao interesse público, nos termos e limites constitucional e legalmente previstos não somente para ele, mas para todos os demais magistrados, que precisam respeitar fielmente a cartilha do seu dever funcional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de junho de 2017

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