sexta-feira, 2 de junho de 2017

O derretimento do governo

Há poucos dias atrás, o país tinha tudo para seguir no caminho para a saída do abismo, com base nos parâmetros de melhoria da economia, com a inflação sob controle, os indicadores em franca recuperação do fôlego pretendido e os índices de desemprego dando sinais de estabilidade e de superação.
Mesmo aos trancos e barrancos, em termos da gestão pública, o presidente da República vinha conduzindo o país em condições de normalidade e sem os sobressaltos do passado, quando o desânimo parecia generalizado e sem perspectivas.
O mandato presidencial se fortalecia nas esferas política e econômica, propiciando confiança, com respaldo nas reformas trabalhista e previdenciária, que tramitavam em ritmo auspicioso, próximos da sua aprovação pelo Congresso Nacional.
Não obstante, apareceu a divulgação da delação dos donos da JBS, para mudar, como autêntico tsunami, os rumos da história do atual governo, em que o presidente do país e a própria nação foram conduzidos, literalmente, para o olho do furacão, passando a constituir o epicentro de terrível crise.
O impacto desse episódio foi ainda mais grave que aquele provocado pelo impeachment, no ano passado, da então presidente do país, quando tudo tinha chegado ao fundo do poço, com muitas crises que se abatiam a um só tempo, pondo a economia em frangalhos e a nação chegou a ser desacredita até no exterior, à vista da debandada dos investimentos estrangeiros.
De repente, o presidente do país passa a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal, pelos crimes de corrupção, organização criminosa e obstrução de Justiça, tornando-se, de uma hora para outra, a ser descartável, diante da perda das condições políticas de permanecer no trono do Palácio do Planalto, embora ele, mesmo grogue por consequência da forte pancada, ainda tente resistir ao máximo o abalo nas estruturas do seu governo, que balança fortemente, mas consegue, a duras penas, se manter trôpego no cargo, aguardando o desenrolar dos acontecimentos nas esperas judicial e congressista.
Embora o presidente do país esteja desprestigiado, por força dos últimos acontecimentos, ele ainda é o fiel da balança quanto ao desenlace da grave crise por que passa o país, notadamente diante das dificuldades para se encontrar alguém capaz de substituí-lo, à luz da confiança almejada pelos partidos políticos, que não escondem seus interesses sobre as causas nacionais.
É impossível o surgimento de acordo sobre a substituição do presidente do país sem a anuência dele, principalmente no caso de o Tribunal Superior Eleitoral vir a decidir afastá-lo do Palácio do Planalto, no próximo dia 6, que parece saída considerada mais rápida e indolor, mas isso pode suscitar infindáveis possibilidades de recursos nos tribunais, o que poderia arrastar o país para abismos negros e desastrosos, com inevitável reflexo no futuro da nação.
É evidente que essa hipótese somente se encerraria se o presidente resolvesse se conformar com a situação, no caso da cassação da chapa integrada por ele, mas isso é absolutamente descartável, ficando certo que ele se mantém como peça importante no tabuleiro do xadrez político, mesmo que apenas como articulador da própria sucessão, que até poderá acontecer, desde que sejam satisfeitas as condições impostas por ele.
Na opinião do PSDB, o principal avalista do governo, o presidente do país já não tem mais condições de governabilidade nem conseguirá mais promover as reformas necessárias, como também não é mais importante para os empresários, fatos estes que contribuem para criar instabilidades política e econômica, que será proporcional à permanência dele no cargo.
Não obstante, o tucanato se mantém, como sempre, em cima do galho ou muro, sem coragem de desembarcar do governo, justamente por falta de acordo, para substituição do peemedebista, que acomode e satisfaça as suas conveniências políticas.
O certo é que o presidente do país tem a seu favor amplas possibilidades de adiamento para deixar o cargo, no caso de seu afastamento pelo TSE, principalmente por meio de questões de ordem, pedidos de discussões preliminares e recursos de advogados e ainda a hipótese de algum ministro aliado se dignar pedir vistas do processo, que é expediente regular a permitir que o julgamento possa ser interrompido por prazo indefinido.
Ou seja, mesmo que o presidente esteja visivelmente fragilizado, ele ainda tem sob seu controle o leme que pode manejar o direcionamento das ações políticas, mesmo que isso seja notoriamente prejudicial aos interesses nacionais.
Na hipótese de o TSE não cassar o mandato do presidente do país, restariam ele deixar o cargo por renúncia pessoal ou o seu impeachment, em processo longo, doloroso e igualmente prejudicial ao interesse público, pelo Congresso Nacional, pois existem, nesse sentido, 13 requerimentos, pedindo o afastamento dele do cargo presidencial.
Diante dos fatos que foram capazes de abalar as estruturas do país e que continuam a alimentar impacto negativo sobre as questões de interesse nacional, consistentes nas acusações sobre a prática de crimes pelo presidente da República, fica muito claro que o impasse criado com esse imbróglio somente será solucionado com a generosa contribuição dele, no sentido de se dignar a facilitar as ações que levem à posse, o quanto antes possível, do seu sucessor, como forma de se evitar que o país continue sendo prejudicado pelas crises político-econômicas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 2 de junho de 2017

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