Há poucos dias atrás, o país tinha tudo para seguir
no caminho para a saída do abismo, com base nos parâmetros de melhoria da
economia, com a inflação sob controle, os indicadores em franca recuperação do
fôlego pretendido e os índices de desemprego dando sinais de estabilidade e de
superação.
Mesmo aos trancos e barrancos, em termos da gestão
pública, o presidente da República vinha conduzindo o país em condições de
normalidade e sem os sobressaltos do passado, quando o desânimo parecia
generalizado e sem perspectivas.
O mandato presidencial se fortalecia nas esferas
política e econômica, propiciando confiança, com respaldo nas reformas trabalhista
e previdenciária, que tramitavam em ritmo auspicioso, próximos da sua aprovação
pelo Congresso Nacional.
Não obstante, apareceu a divulgação da delação dos
donos da JBS, para mudar, como autêntico tsunami, os rumos da história do atual
governo, em que o presidente do país e a própria nação foram conduzidos,
literalmente, para o olho do furacão, passando a constituir o epicentro de terrível
crise.
O impacto desse episódio foi ainda mais grave que
aquele provocado pelo impeachment, no ano passado, da então presidente do país,
quando tudo tinha chegado ao fundo do poço, com muitas crises que se abatiam a
um só tempo, pondo a economia em frangalhos e a nação chegou a ser desacredita
até no exterior, à vista da debandada dos investimentos estrangeiros.
De repente, o presidente do país passa a ser
investigado pelo Supremo Tribunal Federal, pelos crimes de corrupção,
organização criminosa e obstrução de Justiça, tornando-se, de uma hora para
outra, a ser descartável, diante da perda das condições políticas de permanecer
no trono do Palácio do Planalto, embora ele, mesmo grogue por consequência da
forte pancada, ainda tente resistir ao máximo o abalo nas estruturas do seu
governo, que balança fortemente, mas consegue, a duras penas, se manter trôpego
no cargo, aguardando o desenrolar dos acontecimentos nas esperas judicial e
congressista.
Embora o presidente do país esteja desprestigiado,
por força dos últimos acontecimentos, ele ainda é o fiel da balança quanto ao
desenlace da grave crise por que passa o país, notadamente diante das
dificuldades para se encontrar alguém capaz de substituí-lo, à luz da confiança
almejada pelos partidos políticos, que não escondem seus interesses sobre as
causas nacionais.
É impossível o surgimento de acordo sobre a
substituição do presidente do país sem a anuência dele, principalmente no caso
de o Tribunal Superior Eleitoral vir a decidir afastá-lo do Palácio do
Planalto, no próximo dia 6, que parece saída considerada mais rápida e indolor,
mas isso pode suscitar infindáveis possibilidades de recursos nos tribunais, o
que poderia arrastar o país para abismos negros e desastrosos, com inevitável
reflexo no futuro da nação.
É evidente que essa hipótese somente se encerraria
se o presidente resolvesse se conformar com a situação, no caso da cassação da
chapa integrada por ele, mas isso é absolutamente descartável, ficando certo
que ele se mantém como peça importante no tabuleiro do xadrez político, mesmo
que apenas como articulador da própria sucessão, que até poderá acontecer,
desde que sejam satisfeitas as condições impostas por ele.
Na opinião do PSDB, o principal avalista do
governo, o presidente do país já não tem mais condições de governabilidade nem conseguirá
mais promover as reformas necessárias, como também não é mais importante para os
empresários, fatos estes que contribuem para criar instabilidades política e
econômica, que será proporcional à permanência dele no cargo.
Não obstante, o tucanato se mantém, como sempre, em
cima do galho ou muro, sem coragem de desembarcar do governo, justamente por
falta de acordo, para substituição do peemedebista, que acomode e satisfaça as
suas conveniências políticas.
O certo é que o presidente do país tem a seu favor
amplas possibilidades de adiamento para deixar o cargo, no caso de seu
afastamento pelo TSE, principalmente por meio de questões de ordem, pedidos de
discussões preliminares e recursos de advogados e ainda a hipótese de algum
ministro aliado se dignar pedir vistas do processo, que é expediente regular a
permitir que o julgamento possa ser interrompido por prazo indefinido.
Ou seja, mesmo que o presidente esteja visivelmente
fragilizado, ele ainda tem sob seu controle o leme que pode manejar o
direcionamento das ações políticas, mesmo que isso seja notoriamente
prejudicial aos interesses nacionais.
Na hipótese de o TSE não cassar o mandato do
presidente do país, restariam ele deixar o cargo por renúncia pessoal ou o seu
impeachment, em processo longo, doloroso e igualmente prejudicial ao interesse
público, pelo Congresso Nacional, pois existem, nesse sentido, 13 requerimentos,
pedindo o afastamento dele do cargo presidencial.
Diante dos fatos que foram capazes de abalar as
estruturas do país e que continuam a alimentar impacto negativo sobre as
questões de interesse nacional, consistentes nas acusações sobre a prática de
crimes pelo presidente da República, fica muito claro que o impasse criado com
esse imbróglio somente será solucionado com a generosa contribuição dele, no
sentido de se dignar a facilitar as ações que levem à posse, o quanto antes
possível, do seu sucessor, como forma de se evitar que o país continue sendo
prejudicado pelas crises político-econômicas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 2 de junho de 2017
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