domingo, 11 de junho de 2017

Gravíssimo precedente

Um senador do PMDB da Paraíba, do mesmo partido do presidente da República, considerou a decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral, de absolver a chapa vitoriosa na última eleição presidencial, como a melhor decisão para manter o mínimo de estabilidade política no país.
O referido tribunal votou, por maioria de 4 a 3, contra a cassação da aludida chapa, que havia sido acusada pelo PSDB da prática de abuso de poder político e econômico.
Para o mencionado parlamentar, o Brasil, que está saindo do atoleiro da recessão e voltando a crescer, poderia ser prejudicado em caso de decisão diferente da adotada pelo TSE, diante da possibilidade de terminar a mínima estabilidade política necessária para a retomada do crescimento.
O senador ressaltou que não tem cargo no governo e que seu ponto de vista é pensando exclusivamente no país, que torce pela estabilidade do governo.
O senador paraibano precisa se conscientizar, sobretudo, de que o dever primordial do Tribunal Superior Eleitoral era julgar os fatos objeto da ação concernentes à suspeita do abuso do poder político e econômico, que foi substancialmente constatado por meio das investigações não somente da Operação Lava-Jato, mas principalmente pelo farto material levantado pelo ministro-relator do caso, demonstrando que houve realmente descumprimento da legislação eleitoral, no que concerne ao referido abuso, principalmente com o financiamento da campanha vitoriosa, que utilizou meios estranhos aos princípios legítimos e apropriados para a disputa eleitoral, notadamente no emprego de dinheiro sujo, proveniente de propina, o que tem o condão de descompensar a contenda entre os candidatos.          
Caberia exclusivamente à Justiça Eleitoral dizer se o pleito foi regular ou irregular e punir com a cassação da chapa, no caso da irregularidade que foi sobejamente comprovada por todos os canais expostos pelos meios de comunicação, não cabendo senão a impugnação da chapa vitoriosa, independentemente de outras circunstâncias, como a alegada pelo senador, de que uma decisão diferente contribuiria para a desestabilização do país.
É evidente que essa questão não estava sob a competência do Tribunal Superior Eleitoral, que apenas jogou na lama o texto constitucional sobre a sua incumbência de zelar pela regularidade dos pleitos eleitorais, não permitindo o abuso de poder político e econômico, que foi exatamente o que aconteceu, não deixando a menor dúvida de que a atuação dos juízes que votaram pela salvação da chapa se transformou em clara demonstração de fins dissonantes com a relevante incumbência institucional daquela corte.
Também ficou e evidente que o TSE julga ao sabor das conveniências políticas e não sob o império da lei, quando, neste caso, assim exige e obriga a Carta Magna, pois, do contrário, ela simplesmente renega a sua incumbência constitucional e legal de zelar pela legitimidade das campanhas eleitorais, que nem precisaria da sua existência se não fosse imprescindível que a legislação eleitoral precisasse ser observada, diante da escrachada irresponsabilidade de se abrir mão da obrigação de controlar e fiscalizar o exato cumprimento das normas aplicáveis aos pleitos eleitorais.
Além de a Justiça Eleitoral fechar os olhos para questão crucial das campanhas eleitorais, que é a obrigação da fiel observância da legislação aplicável à espécie, ela abriu perigoso precedente para as futuras campanhas eleitorais, que certamente os maus e péssimos políticos vão exigir que ela assim proceda doravante, de tolerar que os certames eleitorais sejam passíveis de fraudes de todas as espécies, desde que haja motivação de conveniência política e de interesses escusos, contrários às causas nacionais e aos salutares princípios da ética, da moralidade, do decoro, da probidade, da dignidade e de tantos outros que devem ser rigorosamente observados, para o bem dos tradicionais conceitos republicano e democrático, como fazem com a maior naturalidade as nações sérias, civilizadas e evoluídas politicamente.
O assombro dos gigantescos casos de corrupção que abalaram as estruturas da República não condiz com o resultado da Justiça Eleitoral, nesse injustificável caso de absolvição de chapa vitoriosa que empregou montanhas de recursos visivelmente escusos, tendo em vista que os brasileiros, apesar dos pesares, continuam ansiosos por moralização e por respeito aos princípios fundamentais da dignidade nas práticas políticas e administrativas.
Por certo, os brasileiros vão seguir a sua sina de não saber votar ou simplesmente de votar por interesses e conveniência, na esperança de que as bolsas estejam garantindo a sua indignidade de receber sem trabalhar, quando o certo é o Estado garantir dignidade aos trabalhadores, por meio de emprego capaz de contribuir para aumentar a produção e a renda do país, de modo a fomentar o crescimento socioeconômico da nação rica em paternalismo e populismo, que precisam, com urgência, de reformulação dessa estrutura nefasta, que somente garante a estabilidade de sistema falido e prejudicial ao desenvolvimento nacional.
Certamente que a Justiça Eleitoral dá cristalina demonstração de fragilidade e sinaliza para o fortalecimento da impunidade e da corrupção, quando o principal órgão de controle especializado considera normal que se possa cometer abuso do poder político e econômico e simplesmente deixa que a carruagem sobrecarregada de irregularidades percorra seu caminho sem qualquer obstáculo, como se nada tivesse acontecido no reino da malandragem e dos aproveitadores da ingenuidade dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 11 de junho de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário