Em
tempos de vacas magras, no embalo das crises política e econômica, o governo acena
para a liberação de verbas destinadas a emendas parlamentares, como forma de atrair
para junto de seus projetos de permanência no poder o indispensável apoio do
Congresso Nacional, de suma importância para as suas imediatas pretensões
políticas.
O
Executivo pensa em liberar recursos para projetos indicados por deputados e
senadores como forma de contar com o apoio no Legislativo, obviamente para se
fortalecer contra as intempéries e ameaças à perda do cargo presidencial, que
se mostram perigosamente em forma de avalanche em direção ao Palácio do
Planalto, diante do mar de denúncias de atos irregulares que estão sendo
investigadas no Supremo Tribunal Federal, com o peso devastador de
insustentabilidade no cargo.
O
presidente do país pode liberar verbas em momento bastante crucial do seu
governo, em razão da necessidade da garantia da manutenção da base unida, para
votações importantes, a exemplo da reforma da Previdência, que ameaça não ser
aprovada depois dos escândalos deflagrados com os depoimentos do empresário da
JBS, que contribuíram para a debandada de vários partidos da sua base de
sustentação no Congresso, fato que o obrigou a decidir por essa forma de
“generosidade” com recursos públicos.
Ao
que se tem conhecimento, as emendas parlamentares individuais são verbas
contempladas no Orçamento da União, tendo a finalidade, em princípio, de
abastecer os redutos eleitorais dos congressistas com recursos para obras e
ações em saúde e educação, entre outras consideradas essenciais.
Historicamente,
o Palácio do Planalto liberava essas verbas em harmonia com o cronograma de
deliberações importantes no Congresso Nacional, segundo as conveniências e os
interesses palacianos, para pressionar parlamentares a votar com o governo,
mas, agora, com a aprovação do chamado Orçamento Impositivo, os pagamentos
passaram a ser obrigatórios, que também podem ocorrer em casos esporádicos,
como nas situações de aperto político do presidente do país, como agora.
Em um país sério e governado com o
mínimo de responsabilidade pública, a liberação de emendas ou de recursos para
parlamentares, sabidamente com escassez de recursos para investimentos
prioritários de interesse da sociedade, em especial a saúde pública e tantas
despesas essenciais, constitui explícito abuso de poder e falta de sensatez e
de zelo para com a coisa pública.
Com
absoluta certeza, jamais o governo ousaria promover a questionada liberação,
caso não fosse a difícil situação de relacionamento entre o Palácio do Planalto
e Congresso Nacional, no que diz respeito à aprovação dos projetos do governo e
à sua sustentabilidade no poder, diante das pletoras denúncias de atos
contrários aos princípios democrático e republicano.
A
liberação das emendas parlamentares é a forma mais eficaz para se tentar afagar
o ego dos beneficiários das emendas em questão, ficando explícita a esdrúxula
maneira para a sensibilização da consciência dos congressistas, por meio mais
direto de se agradá-los e se afagá-los com o repasse imediato de recursos
públicos, que sabidamente são existentes para o atendimento de políticas
prioritárias do governo.
É
curioso que, num passe de mágica, o dinheiro aparece sabe lá de onde, para
agradar os congressistas, que podem confirmar a fidelidade às alianças, por
força da recriminável prática do indecente “toma lá, dá cá”, visto que a
liberação de recursos funciona como bálsamo sedutor correspondente à compra da
consciência de parlamentes, que não compreendem que esse procedimento dissente
da sua real função de atendimento ao interesse público, que não comporta
acordos espúrios.
A
pulverização de dinheiro para as emendas parlamentares contribui para a falta
ou a diminuição de recursos para a educação, saúde, segurança pública,
infraestrutura etc. e a precariedade da prestação dos serviços públicos à
população.
O
governo, diante da crise econômica que afeta os orçamentos públicos, por
decorrência da escassez de arrecadação, não pode se dar ao luxo de liberar
recursos para parlamentares apenas por bondade, fazendo uso do já minguado
dinheiro público, com o evidente propósito de se buscar, em troca, benefício
pessoal com seu magnânimo ato de injustificável benevolência, que é inaceitável,
nas circunstâncias, diante do estado de extrema penúria que se encontra o
Tesouro Público, que não aguentaria verdadeira sangria, nem mesmo em condições
de normalidade.
Como
no caso em comento há o envolvimento de recursos públicos, é imprescindível
que, na sua aplicação, sejam observadas as normas de administração orçamentária
e financeira, quanto aos devidos controle, fiscalização e prestação de contas,
como forma de se aquilatar a sua efetividade nos projetos indicados nas emendas
dos interessados, ou seja, nas finalidades precípuas de interesse público, com
vistas à finalística observância do princípio constitucional referente aos
orçamentos públicos, que devem atender exclusivamente aos fins sociais. Acorda,
Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 8 de junho de 2017
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