sexta-feira, 16 de junho de 2017

Fatos assombrosos e ultrajantes

Depois do horroroso julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, o Palácio do Planalto encara nova estratégia para trabalhar com o efeito da absolvição da chapa vitoriosa da última campanha presidencial, qual seja, o contra-ataque.
A ideia agora é descontruir o procurador-geral da República e o ministro do Supremo Tribunal Federal, relator da Operação Lava-Jato na Corte, para tentar evitar o avanço de possível denúncia contra o presidente da República e, para tanto, o governo espera contar com o poderoso socorro vindo do Congresso Nacional.
A anunciada e temerosa acusação do Ministério Público poderá ser barrada com o apoio de, pelo menos, 172 votos na Câmara dos Deputados, que poderá ser facilmente conseguido, segundo um ministro próximo do presidente, que garantiu que a maioria dos deputados tem receio dos trabalhos da Operação Lava-Jato e tudo indica que a acusação será rechaçada.
Ou seja, a acusação não deve prosperar, embora o presidente esteja sendo investigado pelos crimes de corrupção passive, obstrução de Justiça e participação em organização criminosa, fatos da maior gravidade para quem exerce o principal cargo do país.
Por enquanto, além do PMDB, seu partido, o presidente conta com a apoio do PSDB e de partidos de médio porte, como o PP, PR, PTB, PRB e PSC, que constituem o Centrão, que enxergam na crise política oportunidade para se mostrarem solidários ao peemedebista.
Os deputados se encarregam de barrar o avanço da Lava-Jato, inclusive em blindagem do presidente, na tentativa de desconstruir as instituições incumbidas de combater a corrupção e a impunidade, tudo sendo construído em prol dos próprios interesses, uma vez que eles estão igualmente implicados nos mesmos problemas, envolvidos em casos de corrupção, a denotar que insensatos criminosos de colarinho branco, encastelados nos Poderes Executivo e Legislativo, tramam conta do Brasil.
Isso somente demonstra que os representantes do povo conspiram contra os interesses nacionais, em clara demonstração de que eles são remunerados para trabalhar contra a vontade do povo, no que respeito à ansiada limpeza da sujeira grossa que infecta a administração do país, a ensejar a existência de evidente falta de compromisso com os interesses nacionais, diante das provas concretas de que eles estão na contramão da moralidade e da dignidade, por defenderem interesses pessoais, em detrimento das causas dos brasileiros.
Nesse episódio também fica evidenciada a inversão de valores, conquanto os criminosos pretendem enquadrar seus investigadores e julgadores, em clara demonstração de estelionato eleitoral, quando nas campanhas eleitorais todos juravam combater e eliminar a corrupção e a criminalidade contra o patrimônio público.
Isso apenas mostra o quanto é frágil o sistema político-eleitoral, considerando que as promessas políticas são descumpridas e os eleitos ainda tramam pela manutenção dos criminosos no exercício de seus cargos, não permitindo sequer que eles sejam investigados e, se for o caso, julgados pelos crimes que tenham praticado, ou seja, os eleitores dão poderes aos seus delegados, eleitos nas urnas, para blindar aqueles que praticaram atos irregulares, podendo continuar nos cargos, mesmo que tenham sido acusados da falta de probidade.
A sanha antibrasilidade, pró-impunidade e pró-corrupção se espraia e ganha corpo nos três Poderes da República, a exemplo dos casos supracitados e do péssimo exemplo dos quatro ministros da Justiça Eleitoral, que se prostituíram em fechar os olhos para as graves irregularidades materializadas na chapa vitoriosa da última campanha presidencial, mostrando a insensibilidade desses magistrados para atos comprovadamente contrários à legalidade e à dignidade, absolutamente incompatíveis com as atividades primaciais da administração pública.
Doravante, pode se esperar de tudo na seara política, à vista do deplorável e inadmissível resultado do julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral da ação impetrada pelo PSDB contra a última chapa presidencial PT/PMDB, que foi considerada improcedente pela maioria de míopes e indiferentes ministros, em que pese a constatação do gritante e ensurdecedor abuso do poder econômico, alimentado pela enxurrada de dinheiro sujo irrigado sob a forma de financiamento por meio do caixa 2, principalmente com a benevolência da Odebrecht, que se beneficiava, na outra ponta, com a celebração de contratos superfaturados, junto à Petrobras, administrada pelo governo vitorioso da chapa questionada.
A reação de desprezo à Justiça Eleitoral é proporcional ao golpe que ela aplicou, de forma mesquinha e irresponsável, contra a sua própria institucionalização, que tem a função, entre outras, de coibir o abuso do poder político e econômico nas campanhas eleitorais, mas ela preferiu, de forma vergonhosa e deprimente, fechar os olhos para tamanha desmoralização dos princípios democrático e republicano.
Essa desmoralização tem apenas um nome, que é aproveitamento da degeneração dos princípios ético e moral dos homens públicos, incluído aí os magistrados, que não conseguiram enxergar a montanha de irregularidades consistentes no abuso do poder político e econômico na última campanha presidencial.
É de sabença de todos que uma de suas principais atribuições da Justiça Eleitoral, à luz da sua incumbência primordial, é exatamente coibir a incidência do referido abuso nas campanhas eleitorais, mas essa norma fundamental foi jogada no lixo e no ralo da insensatez, de forma vergonhosa e deliberada, junto com o respeito que deveria ter, por sua relevância para o país, como principal instituição da Justiça Eleitoral, que foi desmoralizada por dois pares de magistrados, que não tiveram a menor sensibilidade para compreender que o momento político exige o resgate da dignidade nas práticas políticas, sob a tutela do órgão que perdeu completamente o seu status de seriedade e de dignidade perante os brasileiros.
Diante dos fatos assombrosos e ultrajantes, que vêm acontecendo, de forma escancarada, nos três Poderes da República, convém que os brasileiros se conscientizem sobre a imperiosa e urgente mobilização nacional, com vistas a se incutir nas suas mentalidades sobre a necessidade de completa reformulação da maneira de se escolher seus representantes, apenas pelo seu grau de compromisso com a defesa do interesse público, a par de se exigir completa mudança na indicação de nomes para os Tribunais Superiores, apenas pelo sistema do mérito. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 16 de junho de 2017

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