terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Falta seriedade ao Brasil?


É com o coração contristado que os paraibanos se despertaram hoje, diante da surpreendente notícia sobre a presença da Polícia Federal batendo as portas da residência do governador da Paraíba e do respeitável Palácio da Redenção, em cumprimento de estarrecedora missão de apreender elementos alvo de investigações sobre atos irregulares protagonizados pelo governador anterior ao atual, sob suspeita de ser o comandante de organização criminosa que desviava, de longa data, recursos públicos destinados à saúde pública e à educação do estado.
Segundo a imprensa, a organização criminosa teria conseguido desviar dos cofres púbicos a quantia equivalente a R$ 134,2 milhões, que eram destinados àquelas duas áreas, que são duas atividades essenciais à prestação de serviços à população mais carente, em termos de satisfação de suas necessidades básicas.
Há notícia de que as investigações identificaram fraudes em procedimentos licitatórios e em concurso público, além de corrupção e financiamentos de campanhas eleitorais de agentes políticos, culminando com superfaturamento na compra de equipamentos e pagamentos de serviços e medicamentos.
Segundo a "Operação Calvário - Juízo Final", mais de R$ 120 milhões do valor total desviado foram destinados para agentes políticos, para o financiamento das campanhas eleitorais de 2010, 2014 e 2018, o que significa dizer que os eleitores paraibanos, sem saber, participaram de pleitos eleitorais viciados, por que financiados com dinheiro sujo desviado de atividades que se destinariam ao beneficiamento em proveito do povo, o que significa dizer que os políticos eleitos, nos referidos anos, utilizaram recursos enlameados que contribuíram para fraudar o sistema eleitoral e, por isso, se elegeram de forma irregular.
Conforme consta das investigações, o esquema criminoso beneficiou, além da autoridade máxima do estado, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, ex-procurador-geral do estado, ex-secretários de Saúde, deputadas estaduais, prefeita de município e servidores do estado, sendo que todos já foram identificados e muitos deles já estão na cadeia, aguardando-se ainda apenas a prisão do capo-mor, o ex-governador, que é considerado o “cabeça” da organização criminosa.
O ex-governador ainda não foi preso porque ele se encontra no exterior, mas a sua prisão é certa, uma vez que o nome dele já foi incluído na difusão vermelha da Interpol, podendo ser preso a qualquer momento, mesmo estando fora do país, caso ele não se apresente à representação diplomática brasileira, no exterior.
O ex-governador, que foi eleito por dois mandatos, em 2010 e 2014, é considerado o responsável direto pela tomada de decisões dentro da organização criminosa e pelos métodos de arrecadação de propina, divisão e aplicação dos recursos desviados, cujo esquema foi mantido até 2018, o último ano do mandato dele.
A investigação esclarece que houve o pagamento do valor de R$ 1,1 milhão para a campanha eleitoral do atual governador, eleito em 2018 para o governo do estado, em troca da manutenção dos contratos em vigor das organizações sociais, o que vale dizer que o seu mandado padece do vício da ilegalidade, pela participação de recursos irregulares na sua campanha, em afronta à lei eleitoral, que exige a legitimidade do financiamento de campanha.
Os trabalhos empreendidos pela "Operação Calvário - Juízo Final" consistiu na expedição de 17 mandados de prisão preventiva e 54 de busca e apreensão, o que bem demonstra a complexidade e a amplitude dos casos investigados, constituindo verdadeira organização criminosa, onde todos se beneficiaram e realmente mereceram tanto a prisão como responder por seus atos criminosos, inclusive a serem condenados à devolução dos valores desviados dos programas e das atividades pertinentes, para que eles possam ser realmente aplicados nas finalidades para as quais seriam destinadas, na forma da lei.
Diante do caso em comento, é preciso que o povo pense mais e melhor sobre a necessidade da valorização dos sentimentos de brasilidade, do que no endeusamento de políticos, à vista da enorme decepção por parte de muitos paraibanos, que jamais imaginariam que essa extraordinário revelação de hoje pudesse acontecer justamente com o homem público tido por probo, honesto, trabalhador, competente etc.
Ao contrário disso, a sua autoridade de homem público valoroso foi simplesmente massacrada por sua verdadeira índole e transformada, de repente, em principal pivô de organização criminosa, em que pese ter sido erigido à principal autoridade da Paraíba, a ponto de já ter seu nome cogitado para candidato à Presidência da República, mas felizmente o lado obscuro dele foi relevado e antecipado, exatamente para mostrar algo que ninguém imaginava que ele seria capaz de realizar como importante homem público.
Infelizmente, ainda há de aparecer alguém, o mais crédulo possível, para querer desacreditar do resultado das investigações, dando muito mais credibilidade aos protagonistas desavergonhados, diante da ingênua imaginação de que os envolvidos seriam incapazes de agir de maneira precipitada, exatamente em razão de sempre terem se portado ao extremo da dignidade, sob transparência de seus atos na vida pública, mas, em todos os casos, os deslizes sempre são revelados depois que interesses são contrariados e, então, a verdade é inevitável, vindo à lume por força das investigações, como o acontecido com a ação da "Operação Calvário - Juízo Final".  
Agora, com relação aos maus e desonestos homens públicos, se o Brasil fosse um país com o mínimo de seriedade, no que tange à vida pública, e atinasse para o real sentido do princípio da civilidade, além das condenações supracitadas eles deveriam ser definitivamente banidos das atividades político-partidárias, como forma não somente da necessária purificação das atividades políticas, mas também, em especial, para servir de lição disciplinar e pedagógica, como exemplo a evidenciar a imperiosa necessidade dos zelo e respeito à coisa pública e à dignidade das pessoas, que não merecem tamanha desconsideração à sua ingenuidade, por terem acreditado em criminosos enrustidos, a exemplo de seguidas revelações que aconteceram nos últimos tempos, em evidente afronta aos saudáveis conceitos republicano e democrático.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 17 de dezembro de 2019

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