quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Uiraúna: terra de gente ilustre


Confesso que fiquei um tanto surpreendido ao me deparar com linda mensagem veiculada nas redes sociais, por ocasião da comemoração da independência de Uiraúna, Paraíba, em 2 do fluente mês, onde ostentava, com destaque, a imagem vistosa e majestosa, como sempre, da igreja Jesus, Maria e José.
No alto dela, tinha a seguinte inscrição: “Uiraúna – Emancipação Política – 66 anos – Parabéns!” e logo abaixo estava grafado: “Terra dos Músicos, Médicos e Sacerdotes”.
É evidente que sei, perfeitamente, que em Uiraúna não somente tem músicos, médicos e sacerdotes, posto que a sua exuberante capacidade como berço de pessoas de diferentes interesses profissionais haveria de oportunizar a formação de outras e variadas           atividades, como de fato é o que acontece, em larga escala, na realidade, o que simplesmente nega, de forma peremptória, o rótulo da mensagem em tela, que considero não propriamente adequada para a realidade, porque seria grosseiro desprestígio para com as demais atividades profissionais.
Não obstante, para quem desconhece a realidade sobre os fatos, há a possibilidade de alguém indagar: “como terra dos músicos, médicos e sacerdotes?”.
Será que ninguém mais se interessa por outra profissão?
Não seria o caso de mostrar para os estudantes de Uiraúna sobre a relevância para a vida em sociedade das demais profissões, à vista da sua real importância, em termos de integração da comunidade?
Ou ainda alguém, com maior grau de curiosidade, que desconhecesse precisamente o sentido do título constante da mensagem, poderia cravar: “deve ser maravilhosa a cidade onde só tem músicos, médicos e sacerdotes, à vista do que consta da mensagem.
Deve ser a única cidade do mundo onde não se forma ninguém diferente de músico, médico e sacerdote”.  
É evidente que não pretendo suscitar polêmica sobre esse tema, mas apenas trazer à baila questão que precisa ser analisada sob visão dos tempos modernos, à vista dos auspiciosos avanços da humanidade que também já invadiram os sagrados torrões da querida Uiraúna.
Salvo melhor juízo, parece não mais fazer sentido se utilizar, precisamente agora, expressão que tinha perfeita validade no passado glorioso, quando bem lá atrás se podia afirmar que Uiraúna era sim “Terra dos Músicos e Sacerdotes", quando aquela gente dava preferência a essas atividades profissionais, porque elas se destacavam e chamavam a atenção, nem tanto de maneira alarmante, apenas pela participação de dezenas de músicos e outras dezenas de padres, não mais do que isso, ao tempo em que também já existissem muitos médicos e outras profissionalizações em adiantado estágio de progresso, principalmente de professores, que sempre existiram e foram responsáveis pela formação das demais profissões, pelo menos na sua fase inicial.
É bem verdade que essa estigmatização de se denominar terra de determinadas profissões teve mais por finalidade a necessidade da identificação de Uiraúna, que realmente merecia o uso desse jargão, que a ajudou a se tornar mais conhecida  nas redondezas, mas apenas em tempos remotos, não tendo, na atualidade, o menor cabimento, à luz da realidade completamente diferenciada de seus primórdios.
Agora, para o bem da verdade, essa forma de rotulação termina induzindo a crasso erro de interpretação do que seja realmente Uiraúna, que não é mais somente a terra dos músicos, médicos e sacerdotes, dando a entender que seus filhos somente se formam nessas profissões, em claro e indevido desprezo aos outros tantos importantes profissionais que Uiraúna tem sido celeiro a oferecer ao Brasil e ao mundo, a exemplo de bons pedagogos, advogados, enfermeiros, dentistas, contadores, empresários, engenheiros, bioquímicos etc., que são igualmente dignos do reconhecimento pela opinião pública e merecem o destaque de terem nascidos em Uiraúna e que todos igualmente se orgulham de bem representar a cidade que eles tanto amam.
Essa lembrança que faço tem o sentido do alerta para o despertar sobre nova realidade dos tempos atuais, como forma de atualização dos conceitos, em termos da verdadeira compreensão pertinente ao real significado dos fatos do momento, como forma do despertar para os novos tempos, à luz da evolução da vida e também de se reconhecer a necessidade da atualização da história da cidade, que não pode ficar presa ao passado glorioso.
Ou seja, não há negar que fazia sim toda pertinência, no passado já longínquo, se afirmar que Uiraúna era a “Terra dos Músicos e Sacerdotes", exatamente porque essas profissões se sobressaiam sobre as outras, com certa notoriedade e, por isso, se fazia justiça a esses bravos profissionais, diante do natural reconhecimento sobre a existência deles, a ponto de realmente se puder dizer, sem margem de erro, que, em Uiraúna, se produziam músicos e sacerdotes em abundância, fato que não se repetia, em idênticas proporções, nas demais cidades da redondeza, o que se justificativa a denominação, talvez para identificá-la como tal.
Não obstante, na atualidade, por certo, essa constatação não existe nem mais remotamente, nas mesmas proporções do passado bem distante, pelo menos com relação a sacerdotes e até mesmo no que diz respeito à formação de músicos, que vem se comportando dentro da normalidade, sem o destaque que existia nos velhos e áureos tempos.
Isso vale dizer que não faz o menor sentido se manter, na atualidade, paradigma que não encontra mais a menor sustentabilidade, até mesmo por questão de justiça com relação às demais profissões, em respeito aos outros ilustres filhos de Uiraúna que não tiveram a felicidade de se formarem como músicos, médicos e sacerdotes, que são profissões fantásticas, mas, à toda evidência, convenhamos, não são as únicas de Uiraúna.
É preciso que essa mentalidade estranha à realidade seja revista o quanto antes, para que Uiraúna não fique eternamente estigmatizada como sendo a terra somente de “músicos”, “sacerdotes” e, mais recentemente, de “médicos”, porque ela precisa ser reconhecida, o mais rapidamente possível, como sendo a terra berço de excelentes profissionais, que prestam importantes serviços ao desenvolvimento do Brasil, sem embargo de se lembrar que ela realmente já ostentou, no passado, o nobre título de “Terra dos Músicos e Sacerdotes“, o que constitui a marca do seu enorme prestígio lembrado de época histórica, por se tratar de profissionais que prestaram excepcionais contribuições à sociedade daquela cidade.
Brasília, em 12 de dezembro de 2019

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