Confesso
que fiquei um tanto surpreendido ao me deparar com linda mensagem veiculada nas
redes sociais, por ocasião da comemoração da independência de Uiraúna, Paraíba,
em 2 do fluente mês, onde ostentava, com destaque, a imagem vistosa e majestosa, como
sempre, da igreja Jesus, Maria e José.
No
alto dela, tinha a seguinte inscrição: “Uiraúna – Emancipação Política – 66 anos
– Parabéns!” e logo abaixo estava grafado: “Terra dos Músicos, Médicos e
Sacerdotes”.
É
evidente que sei, perfeitamente, que em Uiraúna não somente tem músicos,
médicos e sacerdotes, posto que a sua exuberante capacidade como berço de
pessoas de diferentes interesses profissionais haveria de oportunizar a
formação de outras e variadas atividades,
como de fato é o que acontece, em larga escala, na realidade, o que simplesmente
nega, de forma peremptória, o rótulo da mensagem em tela, que considero não
propriamente adequada para a realidade, porque seria grosseiro desprestígio
para com as demais atividades profissionais.
Não
obstante, para quem desconhece a realidade sobre os fatos, há a possibilidade
de alguém indagar: “como terra dos músicos, médicos e sacerdotes?”.
Será
que ninguém mais se interessa por outra profissão?
Não
seria o caso de mostrar para os estudantes de Uiraúna sobre a relevância para a
vida em sociedade das demais profissões, à vista da sua real importância, em
termos de integração da comunidade?
Ou
ainda alguém, com maior grau de curiosidade, que desconhecesse precisamente o
sentido do título constante da mensagem, poderia cravar: “deve ser maravilhosa
a cidade onde só tem músicos, médicos e sacerdotes, à vista do que consta da
mensagem.
Deve
ser a única cidade do mundo onde não se forma ninguém diferente de músico,
médico e sacerdote”.
É
evidente que não pretendo suscitar polêmica sobre esse tema, mas apenas trazer
à baila questão que precisa ser analisada sob visão dos tempos modernos, à
vista dos auspiciosos avanços da humanidade que também já invadiram os sagrados
torrões da querida Uiraúna.
Salvo
melhor juízo, parece não mais fazer sentido se utilizar, precisamente agora, expressão
que tinha perfeita validade no passado glorioso, quando bem lá atrás se podia afirmar
que Uiraúna era sim “Terra dos Músicos e Sacerdotes", quando aquela gente
dava preferência a essas atividades profissionais, porque elas se destacavam e
chamavam a atenção, nem tanto de maneira alarmante, apenas pela participação de
dezenas de músicos e outras dezenas de padres, não mais do que isso, ao tempo em
que também já existissem muitos médicos e outras profissionalizações em
adiantado estágio de progresso, principalmente de professores, que sempre
existiram e foram responsáveis pela formação das demais profissões, pelo menos
na sua fase inicial.
É
bem verdade que essa estigmatização de se denominar terra de determinadas
profissões teve mais por finalidade a necessidade da identificação de Uiraúna, que
realmente merecia o uso desse jargão, que a ajudou a se tornar mais conhecida nas redondezas, mas apenas em tempos remotos,
não tendo, na atualidade, o menor cabimento, à luz da realidade completamente
diferenciada de seus primórdios.
Agora,
para o bem da verdade, essa forma de rotulação termina induzindo a crasso erro
de interpretação do que seja realmente Uiraúna, que não é mais somente a terra
dos músicos, médicos e sacerdotes, dando a entender que seus filhos somente se
formam nessas profissões, em claro e indevido desprezo aos outros tantos importantes
profissionais que Uiraúna tem sido celeiro a oferecer ao Brasil e ao mundo, a
exemplo de bons pedagogos, advogados, enfermeiros, dentistas, contadores, empresários,
engenheiros, bioquímicos etc., que são igualmente dignos do reconhecimento pela
opinião pública e merecem o destaque de terem nascidos em Uiraúna e que todos igualmente
se orgulham de bem representar a cidade que eles tanto amam.
Essa
lembrança que faço tem o sentido do alerta para o despertar sobre nova
realidade dos tempos atuais, como forma de atualização dos conceitos, em termos
da verdadeira compreensão pertinente ao real significado dos fatos do momento, como
forma do despertar para os novos tempos, à luz da evolução da vida e também de
se reconhecer a necessidade da atualização da história da cidade, que não pode
ficar presa ao passado glorioso.
Ou
seja, não há negar que fazia sim toda pertinência, no passado já longínquo, se
afirmar que Uiraúna era a “Terra dos Músicos e Sacerdotes", exatamente
porque essas profissões se sobressaiam sobre as outras, com certa notoriedade e,
por isso, se fazia justiça a esses bravos profissionais, diante do natural
reconhecimento sobre a existência deles, a ponto de realmente se puder dizer,
sem margem de erro, que, em Uiraúna, se produziam músicos e sacerdotes em
abundância, fato que não se repetia, em idênticas proporções, nas demais
cidades da redondeza, o que se justificativa a denominação, talvez para identificá-la
como tal.
Não
obstante, na atualidade, por certo, essa constatação não existe nem mais remotamente,
nas mesmas proporções do passado bem distante, pelo menos com relação a sacerdotes
e até mesmo no que diz respeito à formação de músicos, que vem se comportando
dentro da normalidade, sem o destaque que existia nos velhos e áureos tempos.
Isso
vale dizer que não faz o menor sentido se manter, na atualidade, paradigma que
não encontra mais a menor sustentabilidade, até mesmo por questão de justiça
com relação às demais profissões, em respeito aos outros ilustres filhos de
Uiraúna que não tiveram a felicidade de se formarem como músicos, médicos e sacerdotes,
que são profissões fantásticas, mas, à toda evidência, convenhamos, não são as
únicas de Uiraúna.
É
preciso que essa mentalidade estranha à realidade seja revista o quanto antes,
para que Uiraúna não fique eternamente estigmatizada como sendo a terra somente
de “músicos”, “sacerdotes” e, mais recentemente, de “médicos”, porque ela
precisa ser reconhecida, o mais rapidamente possível, como sendo a terra berço
de excelentes profissionais, que prestam importantes serviços ao desenvolvimento
do Brasil, sem embargo de se lembrar que ela realmente já ostentou, no passado,
o nobre título de “Terra dos Músicos e Sacerdotes“, o que constitui a marca do
seu enorme prestígio lembrado de época histórica, por se tratar de profissionais
que prestaram excepcionais contribuições à sociedade daquela cidade.
Brasília, em 12 de dezembro de 2019
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