O garoto redigiu a seguinte mensagem: “Querido Papai Noel. Fui um bom
aluno, sempre tirei notas boas, mas esse ano, eu não quero pedir presente para
mim. O meu presente é para alguém muito especial".
A carta do garoto foi postada nas redes sociais e imediatamente muitas pessoas
a compartilharam, fazendo com que o inusitado pedido de Natal tivesse
extraordinária repercussão, posto que, em apenas dois dias depois, o desejo do
menino se tornou realidade e a mãe dele recebeu ligação do hospital agendando a
consulta que ela vinha esperando por mais de seis meses, sem esperança de ser
atendida tão cedo, ante às dificuldades que têm sido as filas do SUS, onde ela
é cadastrada para a cirurgia.
A mãe do menino trata,
há 14 anos, de tumores nos dois ouvidos, chamado colesteatoma, tendo feito, neste
período, duas cirurgias para a retirada deles, mas o problema se agravou e
provocou a perda de cerca de 80% da capacidade de ouvir.
Na reportagem, a mãe do
garoto ressaltou que “Ele falava, falava, e eu não conseguia entender. Aí
chegou um momento em que eu tive que falar para ele: 'Rafa, fala olhando para a
mamãe. E fala devagar, pausadamente, para eu poder ler os seus lábios quando eu
não escutar o que você fala'”.
Em maio último, depois de consultada, ela recebeu a notícia de que não havia
previsão para que a cirurgia fosse marcada e foi aí que o garoto inteligente teve
a feliz ideia de apelar para Papai Noel sobre o socorro à sua mãe, por se
tratar de problema gravíssimo de saúde, cuja solução não se vislumbrava pelas
vias normais.
O preocupado garoto disse que “Eu estava querendo que minha mãe não
perdesse a audição por completo e continuasse ouvindo a voz do meu irmão e a
minha voz”.
Com as graças divinas,
o importante presente de Natal para essa família chegou logo após o pedido e vem
rapidinho, inclusive com a marcação da cirurgia já decidida, depois de consulta
já realizada, para o próximo dia 2.
Depois dos cuidados com
a mãe, já em curso, o menino disse que "Eu fiquei muito emocionado,
chorei de alegria com a minha vó”.
A cirurgia do outro
ouvido será agendada somente após a recuperação do primeiro procedimento,
porque, de acordo com os médicos, depois de todo o processo, será avaliada a
necessidade de implante que pode ajudá-la a recuperar a audição.
A mãe do garoto,
demonstrando muita emoção, declarou que, "Como o Rafa mesmo disse,
quando a gente faz o bem, o bem colabora. Gerou uma corrente de ajuda. Todo
mundo começou a compartilhar, acho que tocou nas pessoas. O Natal é isso, ele
não pensou nas vontades dele, pensou em mim. É um presente de Natal chegando
dois dias antes”.
Essa bela história
feliz, infelizmente, pôde ter final muito diferente da realidade desse Brasil
de muita tristeza, onde são notórias as dificuldades registradas nas filas dos hospitais
públicos, superamontoados de gente precisando de atendimentos médico-cirúrgicos,
em intermináveis relações que somente crescem dia após dia.
O mais deplorável de todo
esse quadro horroroso é que não se vislumbra nenhuma nesga de luz no final do
túnel tenebroso, em que alguma autoridade pública, ou seja, um servidor, um
dirigente, um parlamentar, um ministro ou, enfim, o presidente da República com
sensibilidade para sentir, na pele, a gravidade da saúde pública dos
brasileiros, no sentido de se insurgir contra a indigência que grassa soberanamente
na área da maior importância para a vida humana e a dignidade das pessoas.
O certo é que a desgraça
da incompetência na gestão da saúde pública persiste mais viva do que nunca no
seio da população em geral, mas se abate com bastante violência e intensidade sobre
a população mais pobre do país, que vem de longa data sendo impiedosamente vítima
massacrada por sistema retrógrado, inoperante, perverso que é incumbido de
cuidar da saúde pública, eternamente menosprezada por todos os governos.
Convém ser incluído
nesse rol de precariedades os governos que alguns ainda têm a insensatez de considerá-los
os pais, as mães, os padrinhos, os amantes dos pobres, que nada fizeram em
benefício da saúde pública brasileira, porque é fato que eles apenas se
conformaram, ridicularmente, com a situação extremamente deprimente dos hospitais
assoberbados de doentes graves, lotando os corredores infectocontagiosos, sem
as mínimas condições de assistência, em termos humanitários.
É extremamente inconcebível que, em pleno século XXI, com os avanços da
modernidade científica e tecnológica em benefício da humanidade, o país com as
grandezas econômicas e recursos naturais inigualáveis, em nível mundial, a
ainda permita que a sua população padeça da miséria inerente à primariedade dos
recursos voltados para assegurar assistência médico-hospitalar às pessoas em
geral, não somente à população mais necessitada, porque é exatamente a que fica
mais à margem do atendimento da incumbência da saúde pública, por culpa do
inadmissível conformismo que foi instalado por força da incompetência de gerenciamento
das políticas de saúde pública.
O Brasil gasta muitíssimo dinheiro em saúde pública, mas muito mal e sem
efetividade, para a manutenção de sistema que deve ser o pior do mundo, em
termos de eficiência e qualidade, ante as inaceitáveis mazelas que imperam na
sua operacionalização, à vista dos precários atendimentos, com os hospitais
sobrecarregados, carentes de instrumentos e equipamentos para os exames essenciais
dos docentes, que acumulam em intermináveis filas para cirurgias, entre outros
gravíssimos problemas que já decretaram a sua falência há bastante tempo,
diante da sua decrepitude operacional, em termos de atendimento digno à população
de extrema necessidade de saúde básica.
Onde se viu que uma pessoa fique esperando, ad aeternum, até
ficar completamente surda, moca, para ser atendida quando nem mais seja possível
a intervenção cirúrgica, sendo castigada inocentemente pela falência do sistema
de saúde patrocinado com recursos arrecadados justamente das pessoas usuárias
dele, que nada podem fazer para torná-lo eficiente, efetivo e produtivo, em termos
desejados pela sociedade que depende dele para a manutenção da saúde, que,
aliás, é da obrigação constitucional do Estado, que tem o dever de cuidar dela
com carinho e presteza?
Ainda bem que, no caso em comento, um inteligente e sacrificado garotinho,
preocupadíssimo com a precariedade da saúde da pobre mãe, que não tinha mais a
quem recorrer, teve a intuição divina de apelar, pasmem, para a um ser do imaginário
popular, o bom velhinho Papai Noel, para conseguir salvar algo muito especial
da sua amada mãe, no caso, o direito de ela puder ouvir normalmente.
O sofrimento dessa família, mãe e filho, poderia ter sido evitando bem
antes se a saúde pública funcionasse normalmente, como fazem com a devida
prioridade os países com sensibilidade para as questões essenciais do seu povo,
a exemplo da saúde pública, que não pode, de maneira alguma, ser jogada às
traças como vem sendo feito tranquilamente no Brasil, onde nenhum governante
decidiu priorizar, de verdade, as políticas públicas da saúde da população,
exatamente porque a classe política dominante nunca será atendida ou assistida,
por mais remotamente possível, nos hospitais do SUS, sendo, talvez, a principal
razão do completo desprezo pelo qual nunca a saúde pública vai merecer os
cuidados exigidos para torná-la eficiente, em condições de prestar saúde e
tratamento da qualidade do que é feito no primeiro mundo, no sentido de dignificar,
de direito, o ser humano.
A propósito, diante
desse chocante acontecimento, que denuncia as deploráveis condições do
atendimento da saúde pública aos brasileiros em geral, convém que se acentue a
excelência da assistência à saúde pública às autoridades republicanas
brasileiras, apenas no conforto dos principais hospitais e clínicas do país, a
exemplo dos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, na linha de primeiríssimo
nível de atendimento, não cabendo um minuto sequer de espera, contando
inclusive com UTI aérea e o mais que precisar, para que Suas Excelências tenham
excepcional acolhimento pelos mais preparados especialistas na área de saúde,
só que isso merece detalhe: trata-se de atendimento particular, onde recurso
público somente entra para o pagamento das despesas.
Enfim, é muito
vergonhoso que o Brasil se permita que a saúde pública tenha chegado a estágio
tão aviltante, humilhante ao máximo, onde seja preciso se apelar por imagem
fictícia do Papai Noel, evidentemente em época do Natal, para se conseguir
tratamento cirúrgico emergencial, em que pese se tratar tão somente de direito
líquido e certo da população.
Caso houvesse o mínimo
de boa vontade e interesse dos governantes de valorização do ser humano, não
importando as suas condições sociais e econômicas, essa lamentável situação
poderia ser revertida em benefício da dignidade do ser humano, levando-se em
conta que a população tem obrigação de pagar pesados tributos para a
constituição de orçamentos que são entregues à incompetência, à ineficiência e
à irresponsabilidade quanto aos gastos públicos, que precisam ser apenas repensados
e priorizados, principalmente com
relação às políticas públicas e às necessidade essenciais da população.
Ao ensejo, penso oportuno
se anunciar importante crônica, evidentemente sob o meu enfoque, que escrevi
fazendo veemente apelo sobre a construção do Hospital Regional de Uiraúna,
cidade cuja população vem padecendo enormemente, diante da inexistência de hospital
público, que poderia propiciar o merecido conforto aos seus doentes e os da
região circunvizinha, evitando-se graves transtornos, agravamento de doenças e doentes
e até perdas de importantes vidas humanas.
Na prática, diante da
pronta atenção no atendimento da mãe do garotinho, que mereceu cuidados especiais,
pode-se perceber, sem esforço, por mera intuição, que, nesse caso, não haveria
maiores dificuldades para o atendimento dela, tendo em conta que mera cartinha
não seria suficiente para se arranjar vaga tão urgente para a cirurgia, caso houvesse
realmente empecilho de ordem operacional, ficando evidenciado, salvo melhor juízo,
que se trata tão somente de boa vontade, por meio da qual se pode solucionar as
piores dificuldades.
Urge que os brasileiros
se mobilizem, diante da evidente precariedade do atendimento dos serviços
públicos de incumbência do Estado, com destaque para a assistência
médico-hospitalar a cargo do Sistema Único de Saúde – SUS, no sentido de se
exigir completa revolução quanto às suas conjuntura e estrutura de
operacionalização, levando-se em conta a premência da necessidade de torná-lo
eficiente e efetivo à luz da sua institucionalização, que é a da plena prestação
da saúde pública com a integridade indispensável às necessidades dos
brasileiros, à vista do tanto de dinheiro que vem sendo jogado pelos ralos da
incompetência, do arcaísmo, do desprezo e da irresponsabilidade, em termos de gerenciamento
da coisa pública.
Brasil:
apenas o ame!
Brasília, em 25 de dezembro de 2019
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