sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Apelo à civilidade democrática

 

Anteontem, a candidata ao cargo de prefeita de Uiraúna, Paraíba, Leninha Romão declarou, segundo consta de entrevista publicada no prestigiado portal Cofemac, dessa cidade, que o candidato Segundo Santiago, seu opositor, teria indo à casa dela, em outubro do ano passado, e confessado, ipsis litteris: "na presença de outras cinco pessoas, que iria 'colocar Dr. Bosco na cadeia, cassar os diretos dele como médico e fechar a Clínica Padre Costa'", mas não foi declinado o motivo ensejador de tão contundente pretensão.

Ontem, o candidato ao mesmo cargo, Segundo Santiago, em entrevista publicada no citado portal, disse que jamais fez declaração nesse sentido, i.e., ele negou que tivesse feito essas seríssimas e comprometedoras ameaças.

A par de repelir as afirmações de Leninha, na mesma entrevista o candidato Segundo Santiago a acusou das práticas de “sonegação fiscal” e "empreendedora predatória", em razão, em especial, de ela ter sido condenada por sonegação de impostos.

Estas alegações também são gravíssimas, porém no âmbito comercial, onde elas são perfeitamente passíveis de acontecer com qualquer empreendedor, por motivação de falha de controle constatada por órgãos de fiscalização oficial e devidamente saneada pelos meios próprios e convenientes, o que significa dizer que a sonegação pode acontecer involuntariamente com qualquer comerciante, que, depois de reconhecido o erro e quitado o débito fiscal pertinente, fica sanada a notificação pertinente.

Agora, é preciso que fique registrado que essa forma de acusação jamais poderia ser objeto de discussão em campanha eleitoral com o mínimo de seriedade, porque o seu cerne não diz respeito ao processo propriamente dito, mas somente demonstra a falta de assunto importante para se debater nesse período de campanha.

Em princípio, o citado período é reservado para os candidatos apresentarem as suas propostas de governo e cuidarem do debate sobre elas, especificamente acerca dos assuntos pertinentes aos interesses do município e do seu povo, diante das graves questões que sequer foram tangenciadas até o momento.

Ao que tudo indica, os candidatos estão ainda tratando, salvo melhor juízo, de temas relacionados com perfumarias e embelezamentos de praças, ruas e açougue, que são obras bastantes diferentes da grandeza de saneamento básico, medidas capazes de se assegurar a perenidade do abastecimento de água na cidade e de tantas outras questões importantes capazes de atrair a atenção e a participação dos eleitores para o centro das discussões, com o aproveitamento desse tão importante espaço reservado para o levantamento e o debate de temas sérios e relevantes, se existentes.       

A bem da verdade, o momento ideal para a revelação da conversa nada agradável, que teria acontecido na casa da Leninha, segundo dito por ela, teria sido naquela data, em outubro do ano passado ou mesmo próximo do fato em si, porque não ficou nada bem, salvo os motivos para tanto, que ela viesse a público somente agora, no calor da campanha eleitoral, onde deveriam ser discutidos tão somente os temas de importância para a cidade e o povo, pertinentes aos projetos a serem executados pelo candidato vitorioso.

Não obstante, já que esse assunto bastante polêmico veio a público, em que a candidata fez grave acusação ao adversário, possivelmente por motivos óbvios, e que o acusado disse que se trata de pura inverdade, é preciso sim que os fatos sejam devidamente esclarecidos para os eleitores, que, por certo, estão ávidos pelo conhecimento da verdade.

  Convém que Leninha agora comprove a sua queixa, para o fim de se confirmar que ela não é mentirosa e não tem interesse, nem mesmo político, para inventar fato gravíssimo como esse, sem ter condições de provar, quanto mais que agora não tem como se desculpar sobre possível equívoco, porque os eleitores precisam saber sobre a verdade, verdadeira, na certeza de votar conscientemente no candidato que tem palavra e diz a verdade, acerca dessa questão.

Além do que, depois de o leite derramado, como se diz no popular, a única saída agora é passar tudo a pratos limpos e encerrar esse triste episódio - porque ele jamais deveria ter vindo à lume, por não fazer parte do processo eleitoral - o mais rapidamente possível, mas sem antes dos devidos e imprescindíveis esclarecimentos sobre a matéria de que se trata, por questão da necessária prestação e contas aos eleitores, que não merecem pôr nas urnas história tão escabrosa, que exige sim desfecho, o quanto antes.

O certo é que a verdade é sempre muito dolorosa, principalmente nas circunstâncias do debate eleitoral, onde não pode ficar qualquer dúvida inerente à retidão dos princípios de civilidade e cidadania.

Faço apelo para que esse lamentável episódio seja devido e urgentemente saneado, para o engrandecimento da política de Uiraúna, que já bem merece ser tratada com bastante amadurecimento, em termos de respeito aos princípios da civilidade e da democracia.

Brasília, em 30 de outubro de 2020  

Nenhum comentário:

Postar um comentário