domingo, 4 de outubro de 2020

A competência presidencial?

 

O presidente da República aparece em público, por meio de vídeo, para fazer importante alerta de que, se nada for feito (ele não precisa quando: agora, amanhã ou sabe-se em que data), a partir de janeiro do próximo ano, haverá verdadeira catástrofe, em forma de fome para aproximadamente vinte milhões de brasileiros, que se encontram desempregados por consequência, segundo ele, do isolamento social que afirma ter se posicionado contra, mas que ninguém teria dado ouvido.

O presidente culpa, em especial, os governos dos estados e as lideranças partidárias pela gravíssima situação de dificuldade, por terem apoiado o isolamento social, que tem por finalidade a proteção da sociedade, em detrimento da economia, que vem se ajustando aos tempos de pandemia.

No vídeo, o presidente implora por sugestões para solucionar a fome desses vinte milhões de famintos, sob pena de ele precisar agir ao estilo militar, por iniciativa exclusiva, como se as políticas inerentes ao assunto mencionado por ele precisassem da opinião senão do próprio Executivo para a busca da solução adequada.

Causa espécie que ele, como presidente da nação, tendo conhecimento dessa situação calamitosa e urgente, simplesmente vem pedir sugestão, por ser algo estranhíssimo, sob pena de o governo precisar adotar medidas radicais e isso, por si só, simplesmente demonstra absoluta indecisão e incompetência gerenciais, porque já passou do tempo de ele agir e mostrar liderança nacional, no sentido de se antecipar às crises com vistas a se evitar que o seu estopim exploda e o incêndio se torne incontrolável, resultando estragos de difícil reparação.

Ou seja, se o presidente do pais tem conhecimento de caso que pode se transformar em algo gravíssimo e prejudicial à sociedade, não há nada mais justo e adequado que ele aja imediatamente, não tendo o menor cabimento que ele fique se fazendo de rogado, suplicando por ajuda sabe lá de quem, que certamente jamais haverá de aparecer, para então, somente tomar providência quando as labaredas nocivas já estiverem fora de controle.

É preciso que o presidente tome a iniciativa e lidere, o mais rapidamente possível, de modo que sejam adotadas as ações necessárias em antecipação da desgraça.   

É de se ficar extremamente enlouquecido e estarrecido em se perceber que o presidente do país fica, com frequência, reclamando aos quatro cantos sobre a desgraça que domina e inferniza tanto o governo dele como o Brasil e os brasileiros, por antevê a proximidade do abismo e chega ao extremo da incompetência de nada fazer, como forma da iniciativa para se encontrar urgentemente a necessária saída emergencial.

Ele próprio tem o dever constitucional de convocar os principais órgãos das áreas econômica e social do seu governo, os governadores e as entidades ligadas ao assunto foco da possível degeneração indicado por ele, para se encontrar soluções em regime de guerra, de catástrofe mesmo, de modo a salvar a nação daquilo que ele está vislumbrando como o que realmente poderá ser o fim mundo.

Só em o presidente cantar as desgraças que se avizinham e ficar impassível, apenas esperando que o seu prognóstico se concretize, já evidencia o extremo das suas incompetência, omissão e irresponsabilidade, por ele demonstrar ser completamente incapaz de agir em momento de ingente dificuldade, que exige do governante agilidade nas providências da sua competência, notadamente nesse caso, que é do seu conhecimento e que é denunciado por ele próprio, como sendo de natureza urgente e da maior gravidade.

É evidente que nada sendo feito contra a depressão econômica, mesmo sabendo da sua gravidade, e depois de tudo consumado, o presidente vai simplesmente se eximir de culpa e ainda querer se passar por vítima, dizendo que ele ainda avisou tempos atrás e nada foi feito, como se, na qualidade de mandatário do país, ele não tivesse nenhuma responsabilidade por nada e também não tivesse se tornado inarredavelmente omisso, por deixar de liderar operações tendentes a se encontrar os caminhos capazes de contornar o desastre.

Este é o momento ideal para o presidente do país, que vislumbra a crise, de maneira afirmativa, conforme mencionado em vídeo, principalmente por alertar à nação sobre a possível calamidade que poderá atingir vinte milhões de brasileiros e apenas se contentar em denunciá-la, mobilizar urgentemente as forças capazes de agir em defesa da nação, para o fim de se buscar as melhores medidas e/ou alternativas, em contraposição ao desastre referido por ele.

Não tem o menor cabimento o presidente vir mais tarde, alegar forças ocultas e fantasmas contra as ações do governo, por não passar de desculpas inerentes às incompetências para se tentar justificar omissão ou algo do gênero, por nada ter sido feito, quando não se quer fazer nada mesmo, porque quando se deseja a execução de algo, em benefício do país e do povo, sempre há caminhos para tudo e as iniciativas precisam partir exatamente do Palácio do Planalto, que centraliza, por dever constitucional, as principais políticas nacionais.

É de se ficar debilitado em ver prosperar gigantescas omissões e incompetências nas mãos de quem tem o poder para agir, mas prefere simplesmente alertar para o possível catástrofe e permitir que aconteça o pior para todos, ficando apenas o triste consolo de que, ah, mas tudo isso foi avisado, se lembram?

No mencionado vídeo, o presidente brasileiro chama a atenção, como se isso fosse alguma novidade, que o isolamento social jamais deveria ter existido, diante das consequências violentas contra o sistema econômico, com a redução da produtividade e do emprego, cujo prognóstico presidencial vem se confirmando, mas esquece a autoridade máxima do país que é preciso não somente se levar em conta a questão afetada pela paralisação da economia, que é muito importante sim, visto isoladamente, como ele faz, despreocupadamente.

Não obstante, por certo, o presidente do país não faz questão de saber a quantidade de vidas humanas que foi salva, em razão dessa medida drástica do confinamento social, que, em termos de importância humanitária, não tem nada comparável, muito embora isso, na defesa presidencial da economia, é de somenos importância, o que bem evidencia sentimento da maior insensibilidade para com o ser humano, que, ao contrário, nas nações evoluídas, sérias e civilizadas, em termos humanitários, prepondera quando os governos se obrigam a adotar políticas públicas destinadas à proteção da saúde pública.

É importante que fique muito claro, até mesmo de forma cristalina, que conspira contra o presidente da República a sua declaração de que ele teria alertado que era extremamente contrário ao isolamento social, por vislumbrar a debacle econômica, quando, de forma inexplicável, ele deixou de, como faz exatamente agora, em razão da crise ora prenunciada, de apresentar estudos produzidos pelo governo, que seriam da maior importância como maneira de materialização de alternativas ao isolamento social, preponderando, conforme o caso, situações outras que pudessem intermediar e satisfazer às questões econômicas e humanitárias, conquanto poderiam existir, de maneira harmônica, o isolamento nem tanto radical e a continuidade das atividades econômicas, tudo em benefício da sociedade e do Brasil.

Não se sabe por qual motivo, o governo talvez tenha preferido se omitir, para depois, como faz agora, dizer que ele tinha razão em ser decididamente contrário ao isolamento social e que isso resultaria na natural crise que afeta terrivelmente a economia, certamente olvidando, repita-se, os milhões de vidas salvas, caso não se tivessem alternativas sob os cuidados de estudos que poderiam certamente servir de orientação segura para a condução do efetivo controle da pandemia do novo coronavírus e das atividades econômicas.

À toda evidência, nesses casos anunciados pelo presidente do país, que se revestem da maior gravidade, por envolver e afetar quantidade enorme de pessoas, só resta a alternativa da imediata providência para se atacar o problema, com a maior severidade que o caso exige, cabendo a ele a convocação do que for necessário para solucioná-lo o quanto antes, sem essa de se esperar por ajuda, que, se for o caso, há de aparecer já com os estudos em andamento, sob pena de responsabilização por omissão da autoridade competente.  

Ante o exposto, à vista das desastradas experiências consistentes nas ações, omissões e irresponsabilidades na condução terrivelmente desastrada do combate à pandemia do novo coronavírus, onde se percebe que a falta de iniciativa, estudos e normas sobre os fatos certamente contribuiu, de maneira decisiva, para causar imensuráveis e gigantescos danos aos interesses da sociedade e do Brasil, convém que o presidente da República, a par da sua preocupação com a catastrófica situação de fome que se avizinha de vinte milhões de brasileiros, tome a iniciativa da formalização, em caráter emergencial, de medidas e estudos capazes de viabilizar soluções preventivas da danosa crise ora anunciada, como ação necessária e inadiável que dispensa a ajuda pretendida por ele, que precisa agir imediatamente, sob pena de ser mais uma vez considerado omisso.          

         Brasília, em 1° de outubro de 2020 

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