sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Símbolo de pobreza e humildade

             Em crônica recente, foi dito que não se iludam os seguidores do padre de Trindade, ao imaginarem que ele tenha se tornado inocente com o arquivamento da denúncia feita pelo Ministério Público, porque, segundo os ensinamentos do citado Evangelho, é princípio sagrada de que não é permitido se acumular tesouro na Terra, enquanto ao redor da igreja houver tanta pobreza, mas, nesse caso, o religioso não se cansava de acumulá-lo e de pedir cada vez mais ajuda para a construção da catedral, quando a dinheirama amealhada nem se contentava aos propósitos alegados por ele e decidiram tomar outros caminhos absolutamente condenáveis, segundo os olhos de Deus.

Um fervoroso cristão disse, em mensagem, que “Deus não quer ninguém pobre. ‘Vim para que todos tenham vida, e vida em abundância’, diz Cristo no Evangelho. A pobreza é fruto da má distribuição de renda: Poucos com muito e muitos com pouco, salvo melhor juízo. Vamos pedir a Deus pelo padre.

Em resposta à aludida mensagem, eu digo que, pelo o que esse padre fez, eu peço que ele seja honesto em dizer para os fiéis o motivo pelo qual ele permitiu que o dinheiro das doações beneficiasse, de maneira irregular, tanta gente, que se enriqueceu.

O processo de que trata a denúncia de irregularidades foi arquivado pela Justiça, simplesmente porque o Estatuto da associação permite que os recursos de que se tratam possam ser aplicados livremente onde bem entenderem e foi exatamente aí que morou o perigo, porque, com base nessa permissividade regimental, foram compradas casa na praia, casa para a irmã do padre morar, investimentos os mais variados e suspeitos possíveis, tudo com o dinheirinho doado para a construção da catedral.

Na decisão judicial pelo arquivamento do processo, foi apenas levado em conta o entendimento segundo o qual a Afipe é entidade privada e que não há provas suficientes de que o dinheiro doado pelos fiéis tenham sido desviados de finalidade, conforme o seguinte excerto: "A Afipe se trata de uma associação civil evangelizadora e, para atender às suas necessidades, poderá criar atividades como instrumento captador de recursos financeiros".  

Ou seja, não houve qualquer exame sobre o mérito das operações envolvendo compras e vendas de bens, no caso se eles foram ou não vantajosos para a associação então administrada pelo religioso, ou que tenha havido alguma forma de irregularidade nas transações, embora os indícios de ilicitudes sejam fartos, em mostrarem a farra com o dinheiro oriundo dos fiéis, a exemplo da casa na praia, possivelmente para o descanso dos santos protetores dele, porque lá não tem servido para celebração de eventos religiosos ligados ao Pai Eterno.

É preciso ficar claro que uma coisa é o estatuto da associação permitir, de forma expressa, a possibilidade de usar o dinheiro para investimentos, com o objetivo de aumentar os recursos a serem aplicados na evangelização, e a outra é a justamente a regularidade no emprego desses recursos, que sequer pode haver qualquer suspeita sobre irregularidades, como, neste caso, que ficou patenteado nas investigações realizadas pelo Ministério Público.          

Deus não quer grandes templos nem sinos milionários, na forma como decidido pelo religioso, porque Deus se satisfaz com simples pousada e uma mesa, como altar, onde se coloca a bíblia e nada mais, para que a palavra Dele possa ser disseminada ao mundo.

Esse vigário pode até ser a pessoa mais honesta do mundo, mas, por suas benevolência, omissão e irresponsabilidade, por ter arrecadado dinheiro muito além do necessário para a construção da suntuosa e exagerada catedral e depois não saber o que fazer com ele, é bem possível que ele tenha se distanciado dos propósitos do Evangelho, como dito na mensagem acima, tendo por princípio a pobreza, que "é fruto da má distribuição de renda,".

O religioso soube muito bem distribuir a fortuna da igreja com pessoas das suas confiança e proximidade, tendo formado esplendoroso laranjal, porque não há nada em nome dele, o que vale dizer que ele não é responsável por coisa alguma, porque ele não assina nada nem coloca bem em seu nome, não podendo ser acusado nem responsabilizado por ilícito algum e até nesse ponto ele foi bastante maquiavélico, à luz do ordenamento jurídico, muito embora ele era o principal gestor dos recursos arrecadados.

Para os coitados dos fiéis, que não conhecem os meandros das transações empresariais realizadas com o dinheiro destinado à construção da casa de Deus, ou seja, a catedral, o padre foi crucificado vivo, mas nada teria acontecido de suspeito se a dinheirama tivesse sido destinada exclusivamente ao citado empreendimento e não houvesse tanta ganância por tanta e mais doação, por tudo de exagerado, como o sino de seis milhões de reais, contratado no exterior, de três empresas de comunicação (uma já era suficiente), centenas de imóveis, inclusive casa na praia - verdadeira ostentação de desprezo à pobreza -, fazendas agropecuárias, mineração etc.

Tudo isso sob às custas dos inocentes e fervorosos doadores fiéis e adoradores dessa pessoa que se diz padre, que, em especial por essa condição, jamais poderia permitir que os recursos em causa fossem desviados para tantos empreendimentos empresariais diferentes da construção do templo de Deus, o que vale dizer que o santo nome Dele foi usado em vão, visto que até se consiga concluir a catedral, mas as demais negociações não faziam parte dos pedidos de doação feitos pelo padre, que eram exatamente a construção de uma das maiores e impressionantes "casas" de Deus.

          Data vênia de quem pensa em contrário, parece não ser o caso de se pedir a Deus pelo padre, mas sim de se imaginar ser interessante que ele, imbuído estritamente dos princípios do Evangelho de Jesus Cristo, faça análise de tudo o que aconteceu com o dinheiro arrecadado dos fiéis e verifique, para se confessar perante Deus, se o que ele fez encontra-se em exata harmonia com o que dizem os ensinamentos ali pregados.

O caso em apreço se trata de situação completamente diferenciada dos princípios e fundamentos da Igreja Católica, que estão muito mais voltados para a evangelização com o pé no chão, cuidando da pobreza mesmo com muito pouco recurso, porque isso realmente se coaduna com a mentalidade do Mestre Jesus Cristo, o símbolo da pobreza e da caridade.           

          Brasília, em 9 de outubro de 2020

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