Em crônica recente, foi dito que não se iludam os seguidores do padre de Trindade, ao imaginarem que ele tenha se tornado inocente com o arquivamento da denúncia feita pelo Ministério Público, porque, segundo os ensinamentos do citado Evangelho, é princípio sagrada de que não é permitido se acumular tesouro na Terra, enquanto ao redor da igreja houver tanta pobreza, mas, nesse caso, o religioso não se cansava de acumulá-lo e de pedir cada vez mais ajuda para a construção da catedral, quando a dinheirama amealhada nem se contentava aos propósitos alegados por ele e decidiram tomar outros caminhos absolutamente condenáveis, segundo os olhos de Deus.
Um fervoroso cristão disse, em mensagem, que “Deus
não quer ninguém pobre. ‘Vim para que todos tenham vida, e vida em abundância’,
diz Cristo no Evangelho. A pobreza é fruto da má distribuição de renda: Poucos
com muito e muitos com pouco, salvo melhor juízo. Vamos pedir a Deus pelo padre.
Em
resposta à aludida mensagem, eu digo que, pelo o que esse padre fez, eu peço
que ele seja honesto em dizer para os fiéis o motivo pelo qual ele permitiu que
o dinheiro das doações beneficiasse, de maneira irregular, tanta gente, que se
enriqueceu.
O
processo de que trata a denúncia de irregularidades foi arquivado pela Justiça,
simplesmente porque o Estatuto da associação permite que os recursos de que se
tratam possam ser aplicados livremente onde bem entenderem e foi exatamente aí
que morou o perigo, porque, com base nessa permissividade regimental, foram
compradas casa na praia, casa para a irmã do padre morar, investimentos os mais
variados e suspeitos possíveis, tudo com o dinheirinho doado para a construção
da catedral.
Na
decisão judicial pelo arquivamento do processo, foi apenas levado em conta o entendimento
segundo o qual a Afipe é entidade privada e que não há provas suficientes de
que o dinheiro doado pelos fiéis tenham sido desviados de finalidade, conforme o
seguinte excerto: "A Afipe se trata de uma associação civil
evangelizadora e, para atender às suas necessidades, poderá criar atividades
como instrumento captador de recursos financeiros".
Ou seja, não
houve qualquer exame sobre o mérito das operações envolvendo compras e vendas
de bens, no caso se eles foram ou não vantajosos para a associação então administrada
pelo religioso, ou que tenha havido alguma forma de irregularidade nas transações,
embora os indícios de ilicitudes sejam fartos, em mostrarem a farra com o
dinheiro oriundo dos fiéis, a exemplo da casa na praia, possivelmente para o
descanso dos santos protetores dele, porque lá não tem servido para celebração de
eventos religiosos ligados ao Pai Eterno.
É preciso ficar claro que uma coisa é o estatuto da associação permitir, de forma expressa, a possibilidade de usar o dinheiro para investimentos, com o objetivo de aumentar os recursos a serem aplicados na evangelização, e a outra é a justamente a regularidade no emprego desses recursos, que sequer pode haver qualquer suspeita sobre irregularidades, como, neste caso, que ficou patenteado nas investigações realizadas pelo Ministério Público.
Deus não quer grandes templos nem sinos milionários, na forma como decidido pelo religioso, porque Deus se satisfaz com simples pousada e uma mesa, como altar, onde se coloca a bíblia e nada mais, para que a palavra Dele possa ser disseminada ao mundo.
Esse
vigário pode até ser a pessoa mais honesta do mundo, mas, por suas
benevolência, omissão e irresponsabilidade, por ter arrecadado dinheiro muito
além do necessário para a construção da suntuosa e exagerada catedral e depois
não saber o que fazer com ele, é bem possível que ele tenha se distanciado dos
propósitos do Evangelho, como dito na mensagem acima, tendo por princípio a
pobreza, que "é fruto da má distribuição de renda,".
O
religioso soube muito bem distribuir a fortuna da igreja com pessoas das suas
confiança e proximidade, tendo formado esplendoroso laranjal, porque não há nada
em nome dele, o que vale dizer que ele não é responsável por coisa alguma,
porque ele não assina nada nem coloca bem em seu nome, não podendo ser acusado nem
responsabilizado por ilícito algum e até nesse ponto ele foi bastante maquiavélico,
à luz do ordenamento jurídico, muito embora ele era o principal gestor dos
recursos arrecadados.
Para
os coitados dos fiéis, que não conhecem os meandros das transações empresariais
realizadas com o dinheiro destinado à construção da casa de Deus, ou seja, a
catedral, o padre foi crucificado vivo, mas nada teria acontecido de suspeito
se a dinheirama tivesse sido destinada exclusivamente ao citado empreendimento
e não houvesse tanta ganância por tanta e mais doação, por tudo de exagerado,
como o sino de seis milhões de reais, contratado no exterior, de três empresas
de comunicação (uma já era suficiente), centenas de imóveis, inclusive casa na
praia - verdadeira ostentação de desprezo à pobreza -, fazendas agropecuárias,
mineração etc.
Tudo
isso sob às custas dos inocentes e fervorosos doadores fiéis e adoradores dessa
pessoa que se diz padre, que, em especial por essa condição, jamais poderia
permitir que os recursos em causa fossem desviados para tantos empreendimentos
empresariais diferentes da construção do templo de Deus, o que vale dizer que o
santo nome Dele foi usado em vão, visto que até se consiga concluir a catedral,
mas as demais negociações não faziam parte dos pedidos de doação feitos pelo
padre, que eram exatamente a construção de uma das maiores e impressionantes
"casas" de Deus.
Data
vênia de quem pensa em contrário, parece não ser o caso de se pedir a Deus pelo
padre, mas sim de se imaginar ser interessante que ele, imbuído estritamente dos
princípios do Evangelho de Jesus Cristo, faça análise de tudo o que aconteceu
com o dinheiro arrecadado dos fiéis e verifique, para se confessar perante
Deus, se o que ele fez encontra-se em exata harmonia com o que dizem os
ensinamentos ali pregados.
O
caso em apreço se trata de situação completamente diferenciada dos princípios e
fundamentos da Igreja Católica, que estão muito mais voltados para a
evangelização com o pé no chão, cuidando da pobreza mesmo com muito pouco
recurso, porque isso realmente se coaduna com a mentalidade do Mestre Jesus
Cristo, o símbolo da pobreza e da caridade.
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